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Mitologia em Português

05 de Julho, 2021

A origem da Alheira e da Farinheira

Há alguns dias vieram perguntar-nos a origem da Alheira e da Farinheira. Visto que os dois enchidos têm uma origem bastante semelhante, é apenas justo que se considerem ambos em paralelo, nesta espécie de história que aqui relatamos hoje.

A origem da Alheira e da Farinheira

A Alheira, para quem ainda não o souber, tem origem no norte de Portugal - daí até existir a muito famosa "Alheira de Mirandela" - e é feita com pão de trigo, carnes desfiadas e alguns temperos. Já a Farinheira é feita com farinha, entre outros ingredientes, como o seu nome indica, sem margem para maiores dúvidas. Agora, se ambas também têm, hoje em dia, algum ingrediente retirado do porco, ele não fazia originalmente parte da sua composição, e é importante frisar isso para que se possa compreender a sua origem.

 

Passando então a esse ponto, sabe-se que há muitos séculos atrás os Judeus foram perseguidos em Portugal, como também o foram em diversos outros países europeus. Para continuarem vivos e no país tinham de se converter à religião de Jesus Cristo, o que implicava, naturalmente, terem de abandonar as regras da sua antiga religião. Assim, se os Judeus e os Islâmicos não comem porco, uma proibição que vem das respectivas escrituras, e essa era uma carne que estava extensamente disponível no país, uma das formas mais fáceis de verificar a sua adesão à nova religião era verificar se esses chamados Cristãos-novos já comiam a carne desse animal, nomeadamente sob a forma de chouriços. Nesse seguimento, diz-se então que esses Cristãos-novos criaram a Alheira e a Farinheira para parecer que estavam a comer porco, mas sem que na verdade o fizessem... e é por isso que os dois enchidos se parecem com o Chouriço, mas depois, na sua forma original, no seu interior tinham várias constituições que, como é mais que natural, nunca incluíam aqueles animais que a sua antiga religião proíbia.

 

Porém, esta origem da Alheira e da Farinheira, a ser mesmo verdade (poderá tratar-se de um mero mito...), levanta necessariamente uma questão - será que estes Cristãos-novos, como então eram chamados, pretendiam esconder que não praticavam a nova religião, ou eles apenas ainda não se sentiam confortáveis a comer animais que anteriormente tinham visto como "sujos" e impróprios para consumo? Não nos é possível ter uma certeza absoluta, mas talvez a resposta venha de uma conjugação dos dois factores, do que era esperado deles numa sociedade em que qualquer alternativa à religião cristã era mal vista. E, por isso, fizeram o que tiveram de fazer para sobreviver, acreditassem, ou não, na religião que lhes estava a ser imposta...

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