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Mitologia em Português

17 de Julho, 2021

Uma lenda de Ono no Komachi

Encontrámos há alguns dias uma curiosa lenda de Ono no Komachi. Para que ainda não o saiba, ela foi uma poetisa japonesa do século IX da nossa era, mas parece ter ficado conhecida tanto pela sua arte com as palavras como pela sua beleza física, que se foi tornando proverbial ao longo dos séculos. Nesse sentido, foram também surgindo diversas lendas associadas a ela, e contamos aqui hoje uma das mais espantosas a que tivemos acesso.

Uma lenda de Ono no Komachi

Conta-se então que foram muitos os homens que se apaixonaram por Ono no Komachi, mas ela, bem ciente da sua beleza física, rejeitou-os sempre e a todos. Entre eles contou-se um nobre, a que alguns deram o nome de Fukakusa no Shosho Arihira. Na sua crueldade, gozando-o, esta mulher disse-lhe então que consentiria tornar-se sua amante se ele a visitasse por cem noites consecutivas. Ele, levado pela ilusão, tentou então visitá-la essas 100 vezes, noite após noite. Acontecesse o que acontecesse, noite após noite este homem lá estava, procurando cumprir o desejo da mulher que amava. Mas depois, naquela derradeira 99ª noite, caiu um enorme nevão e este amante morreu congelado. Mas isso pouco ou nada importou a Ono no Komachi, que seguiu a sua vida como antes... até que, muitos anos mais tarde, já na sua velhice, a memória de Fukakusa no Shosho Arihira, e a da sua tenebrosa morte, voltou para a atormentar, noite após noite...

 

Lendas como esta, de amores não correspondidos, são relativamente frequentes por todo o mundo (lembrem-se, por exemplo, os casos de La Llorona ou de Anteros, na versão de Pausânias), mas o que esta lenda de Ono no Komachi tem de especial é mesmo a enorme crueldade da personagem principal, que não se compadece mesmo após o falecimento de um homem que parecia amá-la verdadeiramente. Não obstante esse desprezo, é muitíssimo curioso que existam muitas outras lendas associadas a esta mesma figura, incluindo pelo menos uma em que ela até acaba por casar com Fukakusa no Shosho Arihira. Será que foi inventada por alguém que se decidiu compadecer do pobre coitado? Ou será que na versão original eles até casavam, mas as más línguas é que, ao longo dos séculos, depois lá inventaram a que recontámos aqui? Não temos qualquer certeza, mas na forma como a reportámos aqui, esta é certamente uma lenda triste, que nos deveria relembrar de que jamais devemos fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem a nós...

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