As comunidades trans são cultos?
Poderá, a uma primeira vista, parecer estranho que aqui nos interroguemos se as comunidades trans são cultos, pelo que convém explicar o porquê de toda a questão. Será verdade, ou apenas um mito dos nossos dias? Há uns dias recebemos informação de que havia uma intenção recente de restringir o acesso a um livro recém-publicado da autoria de Abigail Shrier, Irreversible Damage: The Transgender Craze Seducing Our Daughters, que era apresentando entre determinados grupos - sempre transexuais e transgénero - como "transfóbico" e (quase) como a pior ofensa da história do nosso universo. Então, como nos é comum nestes casos, decidimos que tínhamos mesmo de o ler.
É, sem qualquer dúvida e de facto, um livro a que alguns gostariam de chamar muitíssimo abominável e perigoso, mas só porque levanta um conjunto de questões inquietantes sobre uma moda que há uns anos se espalhou pelo mundo fora, e que passa por um conjunto de pessoas, quase sempre mais novas e com sintomas claros de depressão, se identificarem como trans quase somente porque os amigos também o declaram e porque, em comum, vêem que isso é representado como muito positivo entre determinadas subculturas nas redes sociais. Mas já lá voltaremos. Entretanto, há algumas semanas um dos nossos colegas apresentou numa conferência um tema relacionado com cultos religiosos, e então apercebemo-nos, pelo mais completo acaso, de que existiam vectores comuns entre esses cultos, de que já cá demos um exemplo, e as comunidades transfrequentes nas mais diversas redes sociais. Nesse sentido, se discutir todas as características que um culto deve ter ultrapassa o nosso objectivo de hoje, podemos dar quatro exemplos basilares:
Love Bombing
Quando uma pessoa se junta a um culto é automaticamente bafejada por um processo que os anglófonos chamam love bombing, e que passa por lhes ser mostrada toda a atenção e afecto do universo. Isto faz com que a pessoa - que, normalmente, está deprimida e a precisar bastante dessa atenção extra, razão pela qual foi conduzida a uma solução para a sua vida que esse culto apresenta - não questione a sua decisão, até porque todos a asseguram de que, mesmo que tenha quaisquer dúvidas, é o correcto e o melhor a fazer.
Indoutrinação
Em ambos os casos, os aderentes são introduzidos a um conjunto de vocabulários e práticas características do endogrupo, que lhes permitem identificarem-se entre si. São ensinados a não questionar nada, a ver que o mundo está todo contra eles - excepto os que também pertencem ao mesmo grupo, já eles também indoutrinados - e até lhes são fornecidos um conjunto de fontes de informação que reafirmam constantemente e sem qualquer divergência os diálogos internos. Por exemplo, ensina-se que quem não aceitar automaticamente a conversão a um desses grupos é "tóxico", uma "pessoa supressiva", "transfóbico", "TERF", etc.
Mentalidade de grupo
Tanto os cultos como estas comunidades movem-se como um grupo e repetem quase exclusivamente o pensamento vendido pelos seus líderes. Isto é particularmente fácil de notar no caso da obra Irreversible Damage: The Transgender Craze Seducing Our Daughters; quem for ler a página do livro na Amazon poderá notar que tem neste momento 8% de supostos leitores que lhe deram a pior nota possível, mas entre essas 300 críticas quase ninguém leu o livro em questão, como o próprio sistema demonstra. Criticam-no não porque o tenham lido, mas porque o endogrupo já lhes vendeu uma ideia do que ele contém e, fruto da indoutrinação, ninguém consegue questionar essa ideia. Isto torna-se mais interessante se notarem até que a retórica dessas críticas é quase robótica e assenta quase sempre nos mesmíssimos pontos - como até é comum nos cultos!
Quem sai do grupo é vilificado
Em ambos os casos, quem sai do grupo torna-se, automaticamente, o pior ser humano que alguma vez existiu. Se menos de 24 horas antes até podia ser uma pessoa fantástica, ao sair do grupo tem de ser completamente abandonada e tratada de uma forma que o grupo decidiu antecipadamente, e que normalmente passa pelo chamado shunning, essencialmente para impedir que possa causar dúvidas ou abandono em outros membros. Porém, é também curioso que se a pessoa voltar depois ao grupo, por uma qualquer razão que nos transcende, todos esses acontecimentos são rapidamente esquecidos.
Em sentidos como estes, entre muitos outros, é correcto dizer que as comunidades trans são cultos, porque partilham de elementos comuns. Poderia pensar-se que não têm um elemento religioso, mas na verdade eles oferecem uma veneração quase religiosa face a determinadas figuras que, para eles, atingiram ou pretendem atingir determinadas coisas que o endogrupo vê como positivas - basta ver-se, por exemplo, o boom que a identificação como trans sofreu com o caso de Bruce Jenner, tal como um determinado culto se apoia em Tom Cruise para a sua relevância.
Volte-se, por isso, ao livro Irreversible Damage: The Transgender Craze Seducing Our Daughters. Ele não é anti-trans. O que ele faz é demonstrar que existe, neste momento, uma tendência muitíssimo preocupante nas sociedades ocidentais, em que crianças e adolescentes são convencidos de que "nasceram no corpo errado", e que depois a chamada "terapia afirmativa" os faz acreditar mesmo que sim. Sobre isto, existe uma citação muito interessante na obra, em que um médico diz:
“I can’t think of any branch of medicine outside of cosmetic surgery where the patient makes the diagnosis and prescribes the treatment. This doesn’t exist. The doctor makes the diagnosis, the doctor prescribes the treatment. Somehow, by some word magic or word trickery, gender [activists] have somehow made this a political issue.”
A uma pessoa comum pareceria óbvio que uma criança ou um adolescente não sabe, não pode saber, já o que quer para todo o seu futuro. De facto, se temos um filho ou uma filha e eles nos pedirem para comer só bolos e a todas as refeições, naturalmente que não o aceitamos. Se eles nunca quiserem ir à escola, em vez de o aceitarmos de forma inquestionada interrogamo-nos sobre a razão para tal. Mas, na "terapia afirmativa" que nos querem vender hoje em dia, encapotada sempre sob acusações de transfobia, se uma criança ou adolescente quiser ser trans, dizem que não só devemos aceitá-lo como apoiá-lo plenamente. Portanto, se um menino de três anos disser que quer ser astronauta, rimo-nos; se disser que gostava de ser um cão e nos "ladrar", sorrimos; mas se nos disser que quer ser menina, devemos automaticamente apoiar essa ideia e procurar um especialista que lhe reafirme constantemente esse suposto desejo (mas, curiosamente, nenhum dos dois anteriores). E isso, a uma pessoa comum e que esteja de fora destes ambientes, deveria parecer aquilo que verdadeiramente é - um enorme absurdo! Ou, se preferirem uma citação directa de quem investigou este tipo de coisas, Helen Joyce, na sua obra Trans: When Ideology Meets Reality admite o seguinte:
Reading [acerca de tudo isto] as an outsider, these parents seem to have collectively lost their minds.
É grave que, hoje em dia, muitas comunidades vendam essa mesma atitude e mentalidade de verdadeiros cultos, em que se pretende construir um ideal constante de "quem não está comigo está contra mim". Já Cícero, no seu Sobre a Amizade, alertava para o perigo de atitudes como essas, mas J. K. Rowling, a autora do Harry Potter, o disse de uma forma fantástica, quando recentemente afirmou o seguinte:
Talvez seja essa a forma mais fácil de afirmar e provar que as comunidades trans são cultos. Isso não é, de todo, um mito. Ambas criam um enorme ambiente de "nós VS eles", em que o "outro" é constituído como tão indigno da sua humanidade que tudo se torna permissível face a ele, e em que se passa de bestial a besta só porque uma opinião, por pequena que seja, não é totalmente condizente com a vendida e partilhada entre os membros do grupo.
Nestes sentidos, se um culto pode ser definido como uma "forma extrema de uma qualquer religião", só podemos sugerir uma coisa - se são pais e têm um filho ou filha que recentemente se identificou como trans, leiam este livro e vejam como os casos (reais) que são reportados lá se lhe aplicam. É o mínimo que podem fazer, porque tal como se supõe que não deixariam os vossos filhos cair num culto religioso, também os devem proteger de coisas semelhantes, e o melhor remédio para tudo isso é informação - a mesma informação a que os cultos tentam restringir o acesso, sob pena de os reconhecermos como tal. E, quando vos chamarem "transfóbicos", respondam simplesmente que se essa palavra é agora usada para designar uma não-pertença a um culto, o poderão aceitar ser com todo o gosto.
P.S.- Posteriormente encontrámos esta imagem, que ainda capta melhor essa relação de movimentos entre as comunidades trans e o cultos...