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Mitologia em Português

25 de Julho, 2021

Sobre a estátua da Rotunda da Boavista

Agora falamos de uma curiosa estátua na Rotunda da Boavista, no Porto, para que ninguém diga, face à publicação sobre o Arco da Rua Augusta, que nos focamos sempre e demasiado na capital. Assim, para quem visita a cidade e gosta mais ou menos de futebol, é quase obrigatório comentar o que se vê no local, uma representação de um leão a matar uma águia.

Estátua da Rotunda da Boavista

Podem ser muitas as piadas que se fazem sobre isto, desde a rivalidade Sporting - Benfica (e, sobre o nome e símbolo de Benfica, já cá falámos antes), até à ausência notável de um dragão no conjunto escultório, passando pela "boa vista" que o local causa sempre aos sportinguistas, mas... afinal de contas, o que representa mesmo todo este monumento? Podemos explicá-lo, mas fazê-lo implica partir de uma história mais pessoal, que é provável que já muitos outros visitantes da cidade já tenham partilhado antes.

Se, como nós, não forem da zona do Porto, é muito provável que tenham passado por esta rotunda de carro. Assim, também tiveram uma certa facilidade em ver o que está no topo de todo o monumento, mas sem terem acesso à base desta estátua na Rotunda da Boavista. E esse é um elemento muito importante, porque dá um contexto à representação dos dois animais. Na verdade, este é o chamado "Monumento da Guerra Peninsular", um conflito que teve lugar entre 1808 e 1814, e na sua base estão colocadas várias esculturas alusivas à mesma (elas podem ser vistas virtualmente aqui) e ao episódio histórico da Ponte das Barcas. Nesse seguimento, o que o capitel tem representado é mesmo uma águia e um leão, porque em inícios do século XIX esses eram respectivamente os símbolos da França e de Inglaterra; como esse segundo país ajudou Portugal a defrontar os seus opositores franceses, o seu símbolo é aqui representado em posição de destruir o grande adversário nacional.

 

Feliz ou infelizmente, esta estátua da Rotunda da Boavista nada tem a ver com futebol. O Benfica foi fundado em 1904, o Sporting em 1906, o Futebol Clube do Porto em 1893 (e o clube que partilha o nome desta rotunda é de 1903, para quem estiver com essa curiosidade), mas esta famosa estátua data logo da primeira metade do século XX, possivelmente de quando passaram cem anos daquele tal episódio da Ponte das Barcas, apesar de ter demorado quase meio século a ser concluída. Talvez assim se explique, ainda nos nossos dias de hoje, a ausência de um dragão portuense no local, que certamente muito agradaria à grande maioria dos habitantes da cidade...

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25 de Julho, 2021

A simbologia do Arco da Rua Augusta

Se se costuma chamar à Praça do Comércio a mais famosa de Portugal, seria justo dizer que o Arco da Rua Augusta, a muito escassos metros a pé, é obrigatoriamente o mais conhecido dos países lusófonos. Foi construído no século XIX, para celebrar a vitória da reconstrução da cidade face ao Terramoto de 1755, o seu arquitecto original foi Eugénio dos Santos, e... mais do que debitarmos aqui todo um conjunto de dados históricos e arquitectónicos, lançamos é uma pergunta - quantos de nós já olharam para ele? Olhar a sério, com os proverbiais olhos de ver? Por estranho que pareça, mesmo entre os lisboetas parecem ser muito poucas as pessoas que o fazem - de facto, fomos perguntar a várias pessoas que vivem nessa cidade e nenhuma delas o parece já ter feito. Assim, prestemos alguma atenção à simbologia do local:

O Arca da Rua Augusta, curiosidades

O Arco da Rua Augusta, também conhecido como Arco do Terreiro do Paço (um nome alternativo dado a todo este local), tem em si um total de 10 figuras. Nos dois lados - número 1 e 6 na imagem - estão representados os rios Tejo e Douro, como os limites tradicionais da Lusitânia; o Douro, do lado direito, pode ser reconhecido em virtude de um cacho de uvas que tem na sua mão. Quatro outras figuras são famosos heróis nacionais - Viriato (n. 2, como fundador), Vasco da Gama (n. 3, como expansor), o Marquês de Pombal (n. 4, como reconstrutor) e o Condestável, Nuno Álvares Pereira (n. 5, como defensor). No topo está a Glória personificada (n. 8) a coroar o Génio (n. 7) e o Valor (n. 8), que podem ser identificados pela coroa, lira e o leão. Ao centro, n. 10, está o brasão de Portugal, com os característicos sete castelos, cinco escudos e "30 moedas pelas quais Judas vendeu Cristo" (um outro tema fascinante, mas que terá de ficar para outro dia). O texto em Latim, que separa o brasão das figuras superiores, diz-nos então as seguintes palavras:

VIRTUTIBUS MAIORUM
UT. SIT. OMNIBUS. DOCUMENTO. P.P.D.

Que significa algo como "Que as virtudes dos maiores [dos Portugueses] sirvam de lição a todos", seguido pela abreviatura latina Pecunia Publica Dicatum, i.e. "dedicado com dinheiro público". Sinais dos tempos - hoje celebram-se os inauguradores com placas comemorativas, em outros tempos celebravam-se os heróis da pátria e que algo era construído com o dinheiro que é de todos nós...

Em suma, este é um monumento que celebra a resiliência de Portugal e a portugalidade, mas... na verdade, também não tem muito para se ver. É algo que, como o Panteão Nacional, se vê uma vez (se tanto...), e está visto. Se até existe um relógio na sua traseira e o famoso Miradouro do Arco da Rua Augusta no seu topo, que pode ser visitado pelo singelo preço de 3 euros (para quem nunca tiver ido ao local pode fazê-lo virtualmente aqui), o Arco da Rua Augusta não é algo de muito especial para o visitante, com excepção da simbologia nacional que aqui apresentámos hoje, e à qual já muitos poucos parecem prestar atenção.

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