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Mitologia em Português

08 de Setembro, 2021

Um feitiço para matar alguém

Se já cá mostrámos vários feitiços antigos, desde os de Luís de la Penha até à chamada Cabra Preta Milagrosa, passando por alguns de conteúdo amoroso, entre muitos outros, há uma questão inquietante que ficou por se fazer - mas então, e se alguém odiasse tanto outra pessoa que quisesse, pura e simplesmente, um feitiço para matar alguém? Seria isso possível? Ou, perguntando-o até de um modo mais geral, quais eram os limites atribuídos à magia há uns poucos séculos atrás?

Feitiço para matar alguém

De facto, dos muitos registos que nos chegaram dessa época podemos inferir que se acreditava, efectivamente, que a magia tinha alguns limites. Eles raramente são colocados de uma forma bem explícita, i.e. "a magia não pode fazer X ou Y", e nem nunca sequer vimos uma listagem concreta dos seus limites - apenas inferências que podiam ser feitas, através de histórias como as da poção mágica dos amores de Tristão e Isolda. Mas aqui e ali até é dito - por exemplo, no Malleus Maleficarum - que os seus limites se prendiam com uma permissão divina para se conseguir realizar determinados actos, e.g. Deus jamais permitiria trazer os mortos de volta à vida no seu corpo original até ao Dia do Julgamento. Por isso, se o poder da magia face à morte e vida não era completo, com efeito até foi possível encontrar um exemplo de feitiço para matar alguém. O que reproduzimos aqui hoje é nacional e vem de um dos muitos casos de feitiçaria julgados pela Inquisição:

Anjos do céu,
Justos da terra,
Santos fiéis de Deus,
D’além mar,
D’aquém mar,
No Monte Olivete vos ajuntai,
E por Jesus Cristo chamai,
No seu coração gritai
Por [nome da pessoa],
Que não durma,
Que não coma,
Que se afogue,
Que se mate,
Que se enforque,
Por tal santo *
E tal santa *
E que seja logo e logo e já.

Será que - como questionámos em relação a feitiços anteriores - este funciona mesmo? Talvez haja uma questão muito melhor a ser colocada, neste caso concreto - como seria possível atestar que ele funciona? Mesmo que a pessoa com quem este feitiço fosse usado morresse, como se saberia se foi do feitiço para matar alguém, em si mesmo, ou por quaisquer outras razões? Não é propriamente algo fácil de se responder, pelo que - como em muitos casos anteriores - isto é tudo e somente uma questão de crença, opinião e fé. Por isso, como até já é costume, este conteúdo foi reproduzido aqui por pura curiosidade e nada mais - presume-se, como sempre, que não funcione, mas os nossos inimigos ficam convidados a tentar e deixar cá algum feedback.

 

 

*- Não é totalmente claro, pela fonte consultada, se o feitiço era mesmo com estas palavras específicas ou se, na sua forma original, continha referências a santos e santas específicos, que poderão ter sido omitidos pela Inquisição.

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