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Mitologia em Português

21 de Setembro, 2021

"Kitab al-Fihrist" e "Livro das Mil e Uma Noites"

Hoje, e por uma boa razão, juntamos duas obras numa só publicação, falando tanto do Kitab al-Fihrist árabe como do famoso Livro das Mil e Uma Noites.

Kitab al-Fihrist, de Ibn al-Nadim

Começando pelo primeiro dos dois, Kitab al-Fihrist, que em tradução não significa mais do que "O Catálogo de Livros", é um livro produzido no século X por um tal Ibn al-Nadim, que parece ter vivido toda a sua vida em Bagdad, no Iraque. Se, por um lado, o próprio título desta sua obra poderá dar a entender que se trata de uma composição aborrecida - pergunte-se, quem é que está habituado a ler catálogos de livros?! - por outro o seu conteúdo até tem algum interesse significativo, por nos preservar os títulos de muitas obras que já não chegaram aos nossos dias de hoje. E, por vezes, nem são apenas os seus títulos, já que o autor introduz cada um dos seus 10 capítulos com informações basilares sobre os temas cobertos em cada um, e raras vezes até nos conta um pouco mais sobre algumas das obras mais famosas.

 

Seguindo essa ordem de ideias, para a maioria das pessoas que já conhece este Kitab al-Fihrist, é provável que o conheçam em virtude das muitas referências que o autor faz aos cientistas e filósofos da Antiguidade e respectivas obras - e, nesse sentido, o autor até explica o porquê dessa enorme proliferação da Filosofia entre os Islâmicos, contando uma brevíssima história de um homem a quem Aristóteles apareceu num sonho e revelou alguns segredos da existência humana. Mas, a nosso ver, um dos pontos mais importantes da mesma composição literária é o facto de ele resumir, de uma forma relativamente infrequente, os conteúdos de obras que considerava mais significativas. Por exemplo, ao iniciar o seu oitavo capítulo, sobre obras supostamente ficcionais, o autor diz então o seguinte:

O primeiro livro a ser escrito com este tipo de conteúdo foi Hazar Afsan, que significa "mil histórias". A base para o nome foi que um dos seus reis costumava casar com uma mulher, passar a noite com ela, e depois matá-la no próximo dia. Depois ele casou com uma concubina de sangue real que tinha inteligência e sabedoria. Ela era chamada Shahrazad, e quando ela chegou a ele começava uma história, mas não a terminava antes do final da noite, o que induziu o rei a poupá-la, pedindo-lhe para a terminar na noite seguinte. Isto aconteceu-lhe por mil noites, durante esse tempo o rei teve relações com ela, até que tiveram um filho, que ela lhe mostrou, informando-o do truque que tinha usado com ele [i.e. o rei]. Então, apreciando a inteligência dela, o rei manteve-a viva.
(...) Apesar destas histórias estarem contadas ao longo de mil noites, a obra contém menos de duzentas histórias, porque uma só história podia ser contada durante várias noites.

O Livro das Mil e Uma Noites

Deixe-se agora a obra anterior para trás. Para os mais distraídos, este breve resumo é o de uma outra, que ficou conhecida entre nós sob o nome de Livro das Mil e Uma Noites. Talvez ele até não seja tão antigo como Ibn al-Nadim parecia dar a entender, mas ainda hoje é provavelmente o mais famoso dos livros de histórias vindos de terras do Próximo Oriente. Se agora se dá muito maior ênfase às suas histórias internas - as de Aladim, Ali Babá, as muitas viagens e amores de Simbad, entre muitas outras, algumas das quais nem faziam parte da compilação original... - quase se esquecendo uma revelação do destino final de Xerazade, pelo menos para a sua audiência original esse parece ter sido um ponto importante. Isto, apesar de Ibn al-Nadim também revelar, na sua obra, que conhecia diversas histórias como as das viagens de Simbad, mas enquanto composições individuais e estanques sobre si mesmas.

 

Nesta sequência, não tenhamos ilusões. Dificilmente convenceremos alguém a ir ler a obra de Ibn al-Nadim, até porque ela não é propriamente fácil de encontrar em tradução, mas já o Livro das Mil e Uma Noites, das muitas histórias que Xerazade foi contando ao seu sultão, continua a ter interesse para todos aqueles que gostem de histórias ficcionais. Seria aqui difícil relatarmos as muitas tramas que contém - já aludimos a algumas acima - mas dependendo de edição consultada, poderão alongar-se desde meia dúzia das mais famosas até quase duzentas. Algumas das suas histórias são, ainda hoje, mais famosas que outras, mas mesmo 1000 anos após a publicação original continuam a deleitar e ensinar todos aqueles que as queiram ler.

Por isso, se desse lado do ecrã existir alguém a pensar comprar um novo livro para uma criança... porque não este Livro das Mil e Uma Noites, que tem mais de um milénio de boas críticas às suas costas? Fica a sugestão.

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