O mito de Castor e Pólux, os Dióscuros
O mito de Castor e Pólux, gémeos também conhecidos colectivamente como os Dióscuros (em Grego Antigo Διόσκουροι, i.e. "filhos de Dios [i.e. Zeus]"), é um cuja popularidade parece ter variado ao longo dos séculos. Se, por um lado, já nos tempos cristãos os dois irmãos continuavam a ser venerados como protectores dos navegantes (e já lá iremos...), raras são as fontes gregas ou latinas que contam as suas aventuras de uma forma completa, talvez por se supor que toda a gente já as conhecesse. Assim, contamos aqui um breve resumo das suas aventuras.
Começando por aquele que é provavelmente o momento mais famoso de toda esta história, conta-se então que numa dada altura Zeus se apaixonou pela bela Leda. Porém, visto que ela não correspondia ao seu amor, o deus tomou a forma de um cisne e deixou que esta o acarinhasse. Passados nove meses, nasceram então do ventre de esta mulher dois ovos, cada qual com um descendente do rei do Olimpo e um outro de Tíndaro, legítimo esposo de Lenda. Assim, nasceram Helena [i.e. a de Tróia] e Pólux, ambos imortais, juntamente com Clitemnestra e Castor, estes dois puramente mortais*.
Os anos foram passando e Castor e Pólux envolveram-se em muitas aventuras - eles recuperaram Helena depois de esta ter sido raptada por Teseu, ajudaram na luta contra o Javali da Calidónia e até se juntaram aos Argonautas, apenas para mencionar brevemente aqueles que foram os seus feitos mais famosos.
Mais tarde, Pólux e Castor envolveram-se num confronto com outros dois gémeos, Idas e Linceu. O que se passou entre os quatro varia mediante as versões de todo o mito, mas elas terminam imperativamente com a morte de três das personagens - Castor, Idas e Linceu. Restando apenas Pólux, a que os Gregos costumavam chamar Polideuces, este depressa descobriu que era filho de Zeus e pediu um grande favor ao seu pai - não queria viver sem o seu irmão! Compadecido com o pedido, o deus decidiu então que os dois gémeos passariam, juntos, metade do ano no Olimpo, e a outra metade no reino de Hades, além de serem colocados entre os signos do Zodíaco.
Castor e Pólux tornaram-se, portanto, uma espécie de deuses menores, associados aos cavalos (uma especialidade de Castor) e, raras vezes, ao boxe (a especialidade de Pólux). Mas eram, talvez mais que tudo, os salvadores daqueles que se deparavam em tempestades no mar... o que poderá parecer estranho, dado o seu mito, até que se recorde que na viagem dos Argonautas estes dois gémeos passaram por um presságio que os associou ao amainar de uma tempestade. Assim, eles apareciam - e salvavam - aqueles que temiam o seu destino nas tempestades marítimas, mas curiosamente também surgiram em muitos campos de batalha dos Gregos e Romanos, sempre acompanhados pelos seus cavalos, inspirando os combatentes a feitos grandiosos.
Se, hoje, já quase ninguém pensa em Castor e Pólux, eles ainda eram venerados no tempo do Papa Gelásio I, em finais do século V. Sabemos disso porque o papa em questão se queixou, numa das suas epístolas, dessa prática supersticiosa ainda continuar... uma que, hoje, foi substituída por muitas outras de função semelhante, de que a oração de Santa Bárbara que afasta as trovoadas - entre outras mais vocacionadas para as lides marítimas - será provavelmente a mais famosa no nosso país. Passaram-se os séculos, mas talvez as coisas não tenham mudado assim tanto como por vezes nos fazem crer, com esta santa a ocupar o lugar de antigos protectores daqueles que passavam por tempestades...
*- Toda esta ideia pode parecer estranha, mas recorde-se que nos tempos da Antiguidade, e até na Idade Média, se acreditava que uma mulher podia gerar ao mesmo tempo filhos de homens diferentes, i.e. se tivesse cinco filhos, pensava-se que até poderia ter tido relações com esse mesmo número de homens. O exemplo mais famoso dessa crença pode ser encontrado no mito grego de Héracles e Íficles, nascidos respectivamente de uma relação sexual de Alcmena com Zeus e Anfitrião.