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Mitologia em Português

04 de Outubro, 2021

"Um Mágico Entre os Espíritos", de Harry Houdini

Quando se fala do nome de Harry Houdini, é quase sempre como um dos mais famosos praticantes da história da Magia. Ainda mais se gostarem das artes mágicas, certamente que já conhecerão o seu nome e as muitas coisas que criou dentre esse domínio. Mas Houdini não era apenas um mágico, ele tinha também um interesse significativo no Espiritismo. Foi nesse sentido que já cá falámos dele antes, e nessa altura até referimos muito brevemente um dos seus livros, que no original se chamava A Magician Among the Spirits (que é como quem diz Um Mágico Entre os Espíritos). Voltamos agora ao tema porque muito recentemente o Project Gutenberg lançou uma edição online deste livro, com muitas - mas, segundo nos parece, não todas - das fotografias presentes na obra original. Portanto, quisemos falar um pouco deste livro, e convidar para ele possíveis leitores.

Um Mágico Entre os Espíritos, de Harry Houdini

Que tem, então, este livro de especial? Ele foi escrito por um Harry Houdini que, inicialmente, tinha algum cepticismo face ao fenómenos espíritas mas até parecia querer acreditar neles. Uma e outra vez, deu mesmo por si a tentar acreditar neles, até que se foi apercebendo, de forma muito repetida, que tudo se tratava de nada mais do que puras trapaças, de aquilo a que os anglófonos chamam "smoke and mirrors", construídas e destinadas de forma a enganar os mais crentes, até porque - de uma forma muito conveniente - os chamados médiuns jamais conseguiam utilizar os seus poderes quando se lhes pedia que o fizessem em ambiente controlado... o habitual "há um céptico no quarto", etc.

 

Até certo ponto, este Um Mágico Entre os Espíritos, de Harry Houdini, é como que uma resposta à History of Spiritualism de Arthur Conan Doyle, procurando contar o outro lado de uma questão que o seu amigo apoiava, e que estava muito em voga no século que os viu nascer. Porém, se essa outra é uma obra de crentes para crentes, já esta é a de um potencial crente que ao longo do tempo se foi vendo envolvido em algo que, de facto, queria ver como verdadeiro, mas não podia deixar de se aperceber que era falso. Até pelo contrário, foi encontrando mais provas da sua falsidade do que alguma, uma que fosse, de uma possível verdade por detrás dos rituais espíritas.

 

Este Um Mágico Entre os Espíritos, de Harry Houdini é, sem dúvida, uma obra digna de nota, não só por ter sido escrita por um dos mais famosos mágicos da história mundial, mas porque ele sabia reconhecer muitos dos estratagemas usados para enganar as pessoas. Para nós, nos dias de hoje, não deixa de ser actual, por ainda existirem tantas pessoas que em redor de uma possível crença, nos queiram enganar a bem do vil metal... até porque ainda existem os chamados grupos, centros e fraternidades espíritas, quase sempre em locais mais degradados, a oferecer esperança vã a quem se deixa cair nessas coisas. Assim, o que o autor nos oferece neste seu livro é uma espécie de libertação da fantasia espírita, e que nos mostra o absurdo por detrás de muitas das suas crenças, para que também nós saibamos reconhecer as (outras) trapaças que vão surgindo nas nossas vidas. Fica o convite para a sua leitura.

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04 de Outubro, 2021

A lenda de Santo Antão e o Sátiro

A lenda de São Antão e o Sátiro merece ser contada por cá por (alegadamente) ter tido lugar num momento muito curioso da história ocidental. A acreditar-se que esta figura santa viveu entre os séculos III e IV da nossa era, ela preserva o que poderá ter sido um dos últimos avistamentos de criaturas mitológicas da Antiguidade. Ainda mais interessante é até o facto de não só os ter visto, como até ter tentado falar com eles!

A lenda de Santo Antão e o Sátiro

Diz-se que Santo Antão, nascido no Egipto, um dia sonhou que havia num deserto local um eremita muito mais devoto do que ele. Fascinado pela ideia de encontrar alguém que teria muito para lhe ensinar, decidiu então procurá-lo, mas não conseguia descobrir onde ele estava. Foi então andando pelo deserto, até que encontrou um Centauro. Tentou falar com ele, mas os dois intervenientes não conseguiam entender a língua um do outro. Após muitas tentativas (falhadas) de diálogo, o monstrengo lá decidiu apontar com um dedo a direcção que o ermita devia seguir.
Continuando o seu caminho, Santo Antão depois encontrou um Sátiro. Inesperadamente, face aos eventos anteriores, até foram capazes de comunicar um com o outro. Assim, esta segunda figura mitológica ofereceu comida e bebida ao viajante, antes de lhe revelar que já sabia da vinda de Jesus Cristo e conhecia a sua mensagem.

 

Esta lenda é provavelmente uma das mais estranhas dos primeiros séculos do Cristianismo, até porque levanta um conjunto enorme de questões. Para apontarmos apenas algumas delas, será que Santo Antão viu mesmo estas criaturas, ou apenas teve visões no deserto? Grande parte das interpretações aponta que elas eram tentações ou demónios enviados pelo Diabo, mas como se poderá entender o facto de nenhuma das duas criaturas ter feito nada que possa ser interpretado como negativo, bem pelo contrário?
Que língua falava o Centauro, para até conseguir entender aquele que o interpelava, mas não conseguir falar com ele? Supõe-se, por mitos da Antiguidade como o dos Centauros e Lápitas, que estas criaturas falassem pelo menos o Grego...
E, visto que o Sátiro já conhecida a mensagem de Jesus Cristo e denotou claras boas intenções, será que era crente na nova religião? As versões da lenda a que tivemos acesso nada permitem concluir em relação a isso...

 

Enfim, se até são bastantes as questões que podem ser levantadas no contexto desta lenda de Santo Antão e o Sátiro, as respostas a que podemos ter acesso acabam por ser poucas ou nenhumas. Portanto, e face à inexistência de soluções concretas, esta até pode ser uma daquelas lendas muito apropriadas para se discutir em aulas de Mitologia, relembrando ainda um mito do primeiro século da nossa era, preservado nas obras de Plutarco, em que um navegador foi informado por uma voz misteriosa de que O grande deus Pã está morto... e que os autores cristãos viriam posteriormente a interpretar como um oráculo da morte dos deuses do Paganismo. Nesse seguimento, faria todo o sentido pensar que o Sátiro de toda esta lenda, cujo nome não nos chegou, até possa ter sido cristão...

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