"De Aetatibus Mundi Imagines", de Francisco de Holanda
De Aetatibus Mundi Imagines, de Francisco de Holanda, é um de aqueles livros a que bem se pode aplicar o adágio "ver para crer". Está provavelmente entre os mais belos livros que ao longo dos anos foram entrando na construção destas linhas. Assim, se o seu conteúdo até pode ser resumido em muito poucas palavras, a verdadeiro apelo da obra requer uma passagem de olhos do leitor pelas suas páginas. Comecemos aqui com uma breve tentativa de oferecer essa possibilidade...
Na imagem acima, por exemplo, pode ser vista uma cena que poderíamos definir como "a morte dos Ídolos". A Afrodite e o Eros da Grécia Antiga são aqui meros esqueletos, esquecidos no tempo, após a morte da crença em figuras como estas. Sem dúvida que é um quadro tão belo quanto assustador, que surge já quase no final de De Aetatibus Mundi Imagines, mas que é antecedida por muitas outras de carácter cristão.
Aqui estão três cenas relacionadas com o Antigo Testamento - a criação do mundo por Deus, a aparição divina a Noé (notem-se a famosa Arca e os animais, no canto superior esquerdo da imagem central), e as visões do profeta Ezequiel.
Já aqui estão três momentos relacionados com o Novo Testamento - a anunciação da Virgem, o chamado "Massacre dos Inocentes" (em que os soldados de Herodes mataram todas as crianças que tinham menos de uma certa idade) e a descida de Cristo aos Infernos.
Em De Aetatibus Mundi Imagines seguem-se, depois, algumas cenas relacionadas com a Virgem Maria, com os vários santos (inclusive São Jorge, provavelmente em virtude da sua grande fama), e até a aparição de Santa Helena e a Cruz, antes do autor se focar em diversas cenas relativas ao Livro do Apocalipse.
Aqui podem ser vistos, a título de exemplo, a Prostituta da Babilónia (montada no seu famoso monstro), o final dos tempos (note-se a presença de dois veados, como símbolos de longevidade), e um dos anjos do Senhor (e veja-se a cobertura na zona dos seios e genital, para tornar este um ser completamente asexuado, como se pensava que os anjos eram).
Face a esta apresentação de algumas imagens retiradas da obra De Aetatibus Mundi Imagines, da autoria de Francisco de Holanda, pergunte-se de que fala, afinal, esta belíssima obra. Como o seu título latino dá a entender, ela apresenta um conjunto de quadros que vão desde o início dos tempos até ao momento em que se acreditava que tudo irá acabar. Para construir essa sequência, o autor baseou-se no Antigo Testamento e no Novo, mas também nas vidas dos santos e até em algumas fontes apócrifas. Contudo, essa história contínua é contada em imagens mais do que em texto; ele até aparece, aqui e ali, na parte inferior das páginas (omitimo-lo acima), mas esta é uma obra para se ver e se apreciar, página após página, mais do que para se ler. Quem quiser fazê-lo poderá apreciar o manuscrito original na Biblioteca Nacional de Espanha, que conta com já quase 500 anos de idade!