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Mitologia em Português

29 de Agosto, 2022

A lenda de Almofala

No município de Figueira de Castelo Rodrigo existe uma freguesia que tem o nome de Almofala. Hoje, e como informa uma espécie de site oficial, sabe-se que é provável que o seu nome tenha vindo do árabe almohala, i.e. "acampamento", mas em outros tempos as populações locais contavam uma lenda para tentar explicar o nome da sua povoação. E é dela que aqui falamos hoje!

A lenda de Almofala

Numa data que o tempo já há muito fez esquecer parece ter ocorrido um homicídio nesta povoação, então com um nome agora desconhecido. Procurou-se o culpado, voltou-se a procurar, mas acabou por ser julgado - e condenado - pelo crime um homem que se dizia inocente. Muito protestou a sua inocência, mas o juíz local declarou-o culpado e condendou-o à morte na forca. Uns dias depois, quando estava a ser levado para cumprir a pena capital, começou a ouvir-se uma estranha voz a afirmar a inocência do homem. Procurou-se o responsável, apenas para todos os presentes se aperceberem que a voz vinha de uma árvore próxima do local - um álamo, choupo ou olmo. Totalmente incrédulo, o carrasco gritou "o Álamo fala!", assim dando nome à povoação e salvando miraculosamente o homem que tinha sido condenado por erro do juíz.

 

Não conseguimos descobrir o que aconteceu à árvore falante desta lenda de Almofala (terá sido destruída pelos Espanhóis em 1642, como pode fazer subentender o site oficial?), nem se o verdadeiro culpado do tal homicídio alguma vez foi apanhado, mas esta história - que até nos poderá recordar, em parte, uma muito mais famosa, a do Galo de Barcelos - foi muito naturalmente criada para tentar explicar o nome da povoação numa altura em que os habitantes locais já tinham esquecido o seu sentido original. É difícil que tenha algum fundo de verdade, até porque mesmo em relatos miraculosos do nosso país as árvores muito poucas vezes falam aos seres humanos, mas não deixa de ser um relato delicioso de uma história associável a uma pequena povoação nacional.

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26 de Agosto, 2022

Amabie, a criatura que protege contra a Covid-19

Se existem, por todo este mundo, um conjunto enorme de criaturas da mitologia com todo o tipo de características mais ou menos estranhas, talvez o Amabie até seja um dos mais relevantes para os dias de hoje. Com nome original アマビエ, a sua história merece, agora mais do que nunca, ser partilhada e transmitida pelo mundo fora. Como diz a nossa sabedoria popular ibérica, "no creo en brujas pero que las hay, las hay", e então nada se perde em tentar esta outra estratégia para a pandemia do Covid-19, que já muitos parecem ter esquecido mas que ainda continua bem em frente das nossas portas. Em que consiste ela? É esse o tema de hoje, e a razão pela qual decidimos falar desta estranha criatura vinda do país do sol nascente.

A lenda de Amabie

Em meados de Maio de 1846 foi vista na província japonesa de Kumamoto uma misteriosa luz no meio do mar. Quando os cidadãos locais tentaram investigar de que ela se tratava, encontraram aí uma criatura muito estranha - tinha bico de pássaro, cabelos longos, três pernas, escamas de peixe e um género sexual desconhecido - que em voz humana lhes revelou que o seu nome era Amabie. Depois, deixou-lhes uma profecia para o futuro, em que também pediu que o desenhassem e mostrassem a sua imagem a todos aqueles que adoecem, porque face a sua presença mística essas pessoas depressa recuperariam das suas respectivas doenças. Em seguida voltou para sua casa, algures nos mares do Japão, deixando estes habitantes locais muitíssimo estupefactos... e eles lá decidiram que deviam mesmo seguir as ordens do estranho ser, até porque pouco ou nada tinham a perder com isso!

 

Entretanto já passaram quase duas centenas de anos, mas há alguns meses alguém em terras do Japão parece ter tido a (feliz) ideia de trazer esta antiga e estranha criatura de volta às luzes da ribalta - um dos cartazes oficiais até pode ser visto na imagem ali em cima. A criatura também é conhecida sob o nome de Amabiko, mas o que este yokai - que é como quem nos diz, de modo simplificado, um monstro nativo japonês - tem de especial é o facto de oferecer protecção recorrente aos seres humanos em troca da partilha de imagens suas. Ou seja, é como se fosse uma espécie de influencer de outros tempos, mas em troca de likes e shares faz é algo de verdadeiramente útil para a humanidade, em vez de tentar cravar refeições e roupas grátis em tudo quanto é sítio. Portanto, não vá o diabo tecê-las, toca a partilhar ali a imagem do Amabie, que nunca se sabe muito bem se estas coisas funcionam mesmo ou não, mas ainda se desconhecendo as verdadeiras origens do Covid, talvez uma espécie de cura mais mística até funcione...

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24 de Agosto, 2022

Francisco de la Vega Casar, o homem-peixe de Liérganes

Como que inspirados pelo tema de ontem, referente a Matsya dos Hindus, hoje decidimos então aqui falar sobre o homem-peixe de Liérganes, no norte de Espanha, que tinha por nome original Francisco de la Vega Casar. É uma história famosa no local, e supostamente até real, que se diz ter tomado lugar em finais do século XVII.

Uma imagem meramente ilustrativa

Conta-se então que este jovem, Francisco de la Vega Casar, nasceu e cresceu em Liérganes, uma povoação no norte de Espanha. Um dia, quando foi tomar banho nas águas próximas, pareceu ter sido arrastado por elas e os seus companheiros acharam que ele se tinha afogado. E, como em muitos outros casos reais semelhantes, toda a história poderia ter ficado por aí, mas... não ficou!

Nos anos que se seguiram foram muitos aqueles que disseram ter visto em cursos de água uma criatura aquática que parecia humana mas que estava coberta de escamas. Com alguma dificuldade ela lá acabou por ser capturada, mas não dizia nenhuma outra palavra excepto "Liérganes". Ao longo do tempo lá alguém se apercebeu que existia uma povoação com esse nome, levaram a estranha criatura para lá... e mal se encontrou no local, foi para casa da sua mãe, que depressa o reconheceu como o seu perdido filho. E então ele ainda viveu mais uns anos no local, antes de se atirar ao rio e desaparecer para sempre, nunca mais tendo sido visto novamente...

 

Este caso de Francisco de la Vega Casar, o homem-peixe de Liérganes, apesar de nos poder parecer estranho, não é único na cultura da época. Um episódio semelhante já aparecia na outrora-famosa novela Lazarillo de Tormes, de meados do século XVI, podemos relembrar o nosso Tritão da zona de Sintra, e figuras como estas também aparecem regularmente em manuscritos europeus (como o da imagem acima), mas o que torna esta ocorrência especialmente digna de nota é o facto de ela aparecer atestada na obra Teatro Crítico Universal do Padre Benito Jerónimo Feijoo. É provável que o nome da obra e do seu autor já diga pouco aos leitores hoje em dia, pelo que importa frisar que ele era muito céptico face a ocorrências como estas, mas no seu livro não só parecer acreditar nesta história, como dá a entender que tomou conhecimento dela por fonte primárias, por pessoas que diziam ter testemunhado tudo isto com os seus próprios olhos e que lhe pareceram fidedignas.

 

E, assim sendo, se não podemos ter a certeza absoluta do que se passou no local, pelo menos temos de admitir que "algo" se terá passado por lá, levando os cidadãos locais desta época a acreditarem que tudo isto era verdade. Terá sido um extraterrestre? Terá sido uma ocorrência completamente estranha e inesperada? Terá sido uma brincadeira parva de um adolescente? Não sabemos, nem podemos saber, tornando esta história famosa até aos nossos dias de hoje - por isso, se um dia estiverem por Liérganes, procurem o Centro de Interpretación del Hombre Pez, onde poderão conhecer um pouco mais da história do misterioso homem que nasceu com o nome de Francisco de la Vega Casar (e não, não fomos pagos para escrever estas linhas).

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23 de Agosto, 2022

A lenda de Matsya

Matsya é mais um dos famosos avatares de Vishnu, de que já cá falámos de um modo muito geral anteriormente. E é, como a imagem abaixo permite constatar, uma espécie de peixe, cuja história podemos aqui tentar recordar hoje. Ela é importante por se tratar, vulgarmente, da primeira de todas as encarnações do deus, ou pelo menos a primeira de entre o seu cânone mais conhecido, aquele tal que já cá apresentámos antes. Portanto, vamos à sua lenda?

A lenda de Matsya

É dito que um dado dia o deus Brahma, uma das três grandes divindades hindus, adormeceu e deixou escapar os seus quatro livros do conhecimento - Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda (colectivamente, são chamados os Vedas). Um qualquer demónio, cuja identidade parece variar mediante a versão, viu-os e fugiu com eles, engolindo-os para dificultar a sua recuperação.

Então, Vishnu tomou esta forma de um peixe muito pequenino e veio ao nosso mundo. Encontrando-se com o rei Manu à beira de um rio, pediu-lhe protecção face às espécies aquáticas maiores, o que o monarca lhe concedeu, guardando-o num pequeno pote com água. Mas este peixe foi crescendo muito rapidamente e o rei foi-o mudando de local para local, até que não encontrou outro remédio senão colocá-lo no mar. Nessa altura, e como agradecimento, este agora-gigantesco peixe falou com o seu ajudador e avisou-o de um grande dilúvio que se aproximava e que iria destruir todo o mundo. Como tal, pediu-lhe que juntasse a sua família, todos os animais, espécies de plantas, etc, algo a que o monarca não pôde senão obedecer, sendo assim salvo de uma completa destruição.

A uma primeira vista essa outra aventura poderá parecer secundária, mas ela tem uma razão de ser - o demónio que roubou os quatro Vedas tinha-se escondido, mas face à subida das águas foi forçado a abandonar o seu esconderijo. Quando o fez, Matsya encontrou-o e atacou-o, esventrando este seu opositor e conseguindo recuperar os tais livros do conhecimento, que depois devolveu ao legítimo dono.

 

À partida, esta lenda de Matsya até pode parecer uma história muito simples, mas esconde uma verdade que dá bastante que pensar - nas tais lendas dos 10 avatares de Vishnu parece existir uma espécie de evolução nas formas que vão sendo adoptadas pelo deus. Aqui e em primeiro lugar ele é um peixe, depois vem a tornar-se uma tartaruga e um javali, em quarto adopta uma forma que é um híbrido de animal e de ser humano, e assim por diante... mas seria esta ideia deliberada, já nas versões mais antigas de toda a história, ou é apenas uma releitura muito condicionada pelos nossos dias de hoje? É uma de aquelas perguntas cuja resposta final terá mesmo de ficar para os leitores...

 

Mas uma última curiosidade, sobre toda esta lenda de hoje. Na imagem ali em cima Matsya pode ser visto a transportar quatro crianças de cores diferentes. A que se refere a estranha representação? É, aparentemente, uma convenção da lenda, já que nesta sequência mitológica é dito que os quatro Vedas, que aqui foram levados por um demónio, estavam na altura a adoptar a forma de crianças pequeninas. Não é fácil compreender-se o porquê dessa metamorfose, mas uma das melhores respostas que encontrámos diz que essa forma se deve à juventude que o mundo ainda tinha no tempo em que esta aventura tomou lugar...

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18 de Agosto, 2022

"Genealogias", de Acusilau de Argos

As Genealogias, de Acusilau de Argos, foram escritas por volta do século VI a.C. Se nos tivessem chegado de uma forma mais completa, talvez tivesse sido interessante comparar a forma como contrastavam com teogonias como as de Hesíodo ou de Antífanes, até para que pudessemos compreender melhor a diversidade de crenças dos Gregos nos séculos mais antigos. Mas, visto que já não nos chegaram excepto em breves fragmentos - um total de pouco mais de quatro dezenas, na edição que consultámos - o que nos é permitido saber sobre elas?

As Genealogias de Acusilau de Argos

Muito curiosamente, a Suda refere a origem da informação que este autor usou na sua obra - supostamente o pai dele encontrou algumas placas de bronze no quintal, com histórias de outros tempos, que depois o filho, este nosso Acusilau, traduziu e/ou adaptou para os seus tempos. O caso não é único - recorde-se o exemplo de Joseph Smith Jr. e a fundação do Mormonismo, com contornos semelhantes - e até parece ter sido de alguma frequência na Antiguidade, com Platão a obter parte do seu conhecimento das paredes dos templos do Egipto, Evémero a contar uma história que dizia ter lido numa coluna muito antiga, etc.

 

E que informação era essa? Os poucos fragmentos que nos chegaram permitem compreender que a sua era uma obra de natureza genealógica, o que parecerá óbvio em virtude do seu nome. Assim, através desses mesmos fragmentos das Genealogias de Acusilau de Argos podemos não só reconhecer algumas paternidades divergentes daquelas que tendemos a associar a alguns mitos, mas também perceber que, aqui e ali, ele também conhecia algumas histórias que eram pelo menos um pouco diferentes das que conhecemos hoje. Para dar alguns exemplos ilustrativos, ele dizia que:

  • Eros era filho da Noite e do Éter (em vez de ter por mãe Afrodite).
  • Quem guardava as Maçãs das Hespérides eram as Hárpias (em vez das versões que aparecem no mito de Hércules).
  • O Touro de Creta era aquele que transportou Europa para a ilha (a maior parte das versões dizem que quem a transportou foi Zeus transformado).
  • Acteon ficou louco por ter querido amar Sémele (nas outras versões ele viu Artémis nua a tomar banho).
  • Os Homens antes da cheia de Deucalião vivam 1000 anos.
  • Afrodite apenas fingiu apoiar os Troianos durante a famosa Guerra de Tróia.
  • Que Ceneu só morreu porque, em virtude de se ter tornado invulnerável, começou então a considerar-se um deus.
  • Etc...

 

Também parecem ter existido neste trabalho muitos mitos semelhantes aos "nossos", às formas das diversas histórias que ainda conhecemos nos dias de hoje, mas face ao seu carácter fragmentário é mais difícil reconhecer onde começam e acabam essas semelhanças. Não iremos tentar fazê-lo, como é óbvio, mas fica aqui a menção a mais uma obra da Antiguidade que parece ter sido de alguma importância significativa no seu tempo.

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15 de Agosto, 2022

Os Versículos Satânicos e Salman Rushdie - qual a origem da controvérsia?

Está agora muito na moda falar-se de Salman Rushdie e dos seus Versículos Satânicos... e muitos dos que seguem as notícias recentes dizem que os Islâmicos são muito intolerantes, e outras coisas que tais, mas quando fomos perguntando às pessoas se sabiam a razão por detrás de toda a controvérsia, é demasiado curioso constatar que a resposta foi sempre negativa... ou seja, que como já parece ser demasiado comum nos dias de hoje, as pessoas gostam de mandar os seus bitaites, mas fazem-no até quando nada percebem do tema. Assim, achámos que poderíamos explicar aqui a verdadeira razão por detrás de toda a controvérsia. 

Os Versículos Satânicos e Salman Rushdie

Quem for ler os tais Versículos Satânicos de Salman Rushdie encontrará nessa obra de pura ficção uma ou outra razão para controvérsia menor... mas isso é apenas porque, como parte da cultura ocidental, os mesmos leitores raramente têm os fundamentos culturais e religiosos necessários para conhecer e entender o ponto que iremos apresentar a seguir.

 

Já cá falámos anteriormente no Corão, em particular sobre a presença de Jesus Cristo nessa obra, mas diz a tradição que todo esse texto religioso foi ditado a Maomé pelo Anjo Gabriel. Portanto, é considerado como um texto divino e infalível (tal como os Cristãos pensam em relação à sua Bíblia). Mas se Maomé faleceu na primeira metade do século VII, alguns anos mais tarde surgiu uma lenda oral um pouco insólita - que em dada altura, quando este profeta estava a ouvir as palavras do anjo, Satanás se foi intrometer e adicionou ao relato uma frase que não tinha origem divina. Então, a expressão original, ditada pelo anjo e hoje na sequência 53:19-20, diz o seguinte:

Ora haveis vós visto Lât e Uzzâ, e Manât, a terceira, que é outra deusa?

E conta-se que o opositor divino segredou uma pequena frase a seguir a essa, que já não aparece no texto actual que temos para o Corão, referindo que estas três deusas, anteriormente veneradas em Meca, eram mesmo verdadeiras e completamente dignas de pedidos de intercessão por parte de todos os crentes. Agora, se esta ideia até agradou muito a quem já as venerava, também levantou um conjunto enorme de problemas - se se admite a possibilidade de Maomé ser falível, de Satanás o ter mesmo influenciado na frase acima, será que isso também aconteceu em outros pontos do texto corânico? Ou, se aquelas deusas são verdadeiras e podem ajudar os crentes, como explicar que o profeta não o consiga fazer, segundo as crenças islâmicas? Etc...

 

Este episódio, esta lenda que ficou conhecida sob o nome dos tais "versículos satânicos" (o seu nome vem, naturalmente, de terem sido inspirados por Satanás), até foi inicialmente aceite pelos crentes do Islão, mas ao longo do tempo e face às implicações que trazia foi rebaixado para puro mito. Não é algo em que eles acreditem hoje em dia, mas sim uma história que conhecem e que parecem ver como um desrespeito à sua religião. Para estabelecer uma espécie de paralelismo com a religião de Jesus Cristo, é como se alguém andasse a escrever livros em que gozasse com a Virgem Maria e dissesse, com base em lendas de outros tempos, que ela foi abandonada por José porque engravidou de um legionário romano chamado Pantera/Pandera - e relembre-se que ainda há uns anos houve problemas, por parte de cristãos, face a um filme em que Jesus escapa da cruz, casa com Maria Madalena e até têm descendentes... o que mostra que muitos crentes querem respeito para a sua religião, mas nem sempre o têm para com a dos outros!

 

Portanto, o grande problema dos Versículos Satânicos de Salman Rushdie é não só o de relembrar esta lenda de outros tempos, mas também conter mais alguns elementos que desrespeitam a religião muçulmana. E quem quiser opinar sobre o tema, pelo menos que o faça com base num conhecimento das circunstâncias originais e do porquê dos crentes islâmicos se sentirem ofendidos com o conteúdo da obra...

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14 de Agosto, 2022

O Coelho que Visitou o Palácio do Mares

A história que aqui contamos hoje, do Coelho que Visitou o Palácio do Mares, vem da Coreia e parece ser, segundo nos foi sendo dito, uma das mais conhecidas e populares desse país. De facto, enquanto escrevíamos estas linhas até encontrámos um livro infantil baseado no mesmo tema, como poderão ver abaixo. Mas continuando, esta é, como será fácil constatar, uma história para crianças, uma que bastante se assemelha às fábulas do nosso Esopo, mas nem por essa razão é menos digna de ser contada por aqui, até porque pode fazer o leitor sorrir um pouco.

O Coelho que Visitou o Palácio dos Mares

Há muito, muito tempo atrás, o Rei Dragão, o grande e poderoso monarca do Palácio dos Mares, ficou doente. Pediu aos médicos da sua corte algum remédio para a maleita, mas por muito que insistisse nenhum deles foi capaz de encontrar solução. Face à dificuldade, este monarca mandou então chamar todos os seus maiores sábios, que após horas e horas e horas de discussões conseguiram concluir que a cura para este seu rei passava por ele comer o fígado de um coelho.

A uma primeira vista isto seria fácil de resolver, mas não só não existem coelhos nos oceanos, como toda a corte deste rei tinha uma óbvia dificuldade em ir a terra. Lá muito se discutiu o tema, até que uma pequena tartaruga se ofereceu para sair das águas, ir a terra e trazer de volta ao palácio um coelho. Assim o planearam e assim ela o fez - a tartaruga foi a terra, encontrou um coelho, e disse-lhe que o Rei Dragão o queria conhecer.

 

Muitas foram as conversas que ambos tiveram, até que o coelho lá se deixou convencer pelo estranho convite e aceitou ir visitar o Palácio dos Mares. Ele não sabia como chegar lá, mas viajando às costas da tartaruga depressa chegaram ao local. Houve muitas festas, o animal foi presenteado com um enorme banquete, e tudo estava bem no melhor de todos os mundos possíveis até que o animal terrestre ouviu um rumor que dizia que o Rei Dragão lhe queria comer o fígado. Ficou com muito medo, como parecerá natural... mas o rumor depressa foi confirmado quando este coelho foi chamado perante o rei e lhe foi pedido o fígado.

Inesperadamente, o coelho respondeu que não tinha o fígado consigo. Tinha-o deixado em casa. Estava a lavar a roupa, lavou o fígado, colocou-o numa corda de secar, e depois deixou-o por lá. O pânico na corte foi geral, até que a tartaruga se ofereceu para levar o coelho de volta, para que este pudesse ir buscar o fígado de que tinham tanta necessidade. Assim planearam e assim foi feito. Mas depois, quando o coelho voltou a terra, depressa fugiu da tartaruga e dos mares, para não mais voltar, proclamando "Ahahaha, foram enganados, não há nenhum ser neste mundo que consiga retirar o próprio fígado para o lavar!"

 

Assim termina a história do Coelho que Visitou o Palácio do Mares. Para quem tiver essa curiosidade, não sabemos o que depois terá acontecido ao Rei Dragão (relembre-se que os dragões ocidentais são animais muito ligados à água), se ele lá acabou por ser curado ou não, mas é muito provável que tenha conseguido recuperar a sua saúde, já que ele, juntamente com muitos outros companheiros aquáticos, aparece em diversas outras histórias asiáticas, de que a lenda de Sun Wukong será provavelmente a mais óbvia.

Deixando de lado essas questões teóricas, esta não deixa de ser uma bela história com uma lição que ainda nos serve bastante para os nossos dias de hoje. Que lição será essa já é algo mais discutível, pelo que sentimos a necessidade de deixar para uma reflexão de quem for ler estas linhas. Fica o convite, como sempre!

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05 de Agosto, 2022

A Solução Final da Questão Judaica e a sua chocante origem

Esta origem da Solução Final da Questão Judaica, que dá título ao tema de hoje, é provavelmente o tema mais chocante que já aqui abordámos. Na verdade, se alguém nos tivesse contado o que vamos relatar um pouco mais abaixo, diríamos ser mentira. Só podia ser, salvo a existência de provas muito grandes em contrário. E se o mito de Hitler ter sido Judeu já parecia estranho, o que agora descobrimos, por completo acidente, é mil vezes mais chocante. Portanto, para o tema de hoje, completamente impróprio para os mais sensíveis, comece-se com uma breve história de como fomos trazidos a este tema, seguido pelo inesperado desfecho que ele teve.

Adolf Hitler a cores

Há mais de dois anos falámos aqui sobre um livro de título Did Six Million Really Die? É um de muitos livros proibidos hoje em dia, daqueles que tendem a negar a existência do Holocausto na Segunda Guerra Mundial e outras coisas estranhas como essas. Fomos encontrando outros, como The Myth of German Villainy, o que até nos levou, em dada altura, a tentar explicar, numa perspectiva histórica, porque os Judeus são odiados. Mas, por muito que fossemos falando sobre esses temas, existia sempre uma enorme dúvida que continuava a pairar nas nossas cabeças - como foi possível que os Alemães matassem tantos Judeus? Não consideravam eles, ou mesmo até o próprio Adolf Hitler, ter à sua frente seres humanos de carne e osso? Como conseguiam os nazis explicar, no interior das suas cabeças, a abominável barbaridade que estavam a cometer, naquela que ficou conhecida como a Solução Final da Questão Judaica?

 

Em busca de respostas concretas, fomos então procurar fontes primárias pouco recomendadas a leitores comuns (importa frisar que por requisitarmos um livro desses até fomos acusados de ser neonazis). Fomos lendo publicações de diversos autores nazis, mas se eles mencionavam muito repetidamente um antissemitismo que já esperávamos encontrar, nenhum deles argumentava que se devessem matar todos os Judeus. Não conseguimos, até uma certa data, encontrar qualquer referência directa a isso nas obras de Adolf Hitler, de Joseph Goebbels, de Alfred Rosenberg, ou de seja quem fosse dentro do Partido Nazi. Expulsá-los para outro lado, impedi-los de continuar a viver na Alemanha e/ou na Europa, dar-lhes o seu próprio país, e outras coisas semelhantes, sim (!), sem qualquer dúvida, mas não parecia existir, em inícios do ano de 1941, qualquer plano horrendo por parte deles como o que agora se associa à Segunda Guerra Mundial e se designa por Solução Final da Questão Judaica!

 

Não conseguíamos compreender o que se passava, ao longo das fontes primárias que fomos lendo. Era completamente estranho, porque, com base na cultura popular, esperávamos encontrar um momento em que tudo isso mudasse, um instante em que, por exemplo, Adolf Hitler fizesse um discurso em que pela maior glória da Alemanha, da raça ariana e do Nazismo instava os seus seguidores a matar tudo quanto é Judeu, mas nunca encontrámos isso. Até que, pelo mais completo acidente, encontrámos um pequeno livro de que já ninguém parece falar. Parece hoje ser sempre muito omitido em toda esta história da Segunda Guerra Mundial, o que ainda torna o que encontrámos muito mais chocante.

Germany Must Perish!

Auto-publicado em Fevereiro de 1941 por Theodore N. Kaufman (um judeu nascido nos Estados Unidos da América e que se identificava como "Presidente da Federação Americana da Paz"), este Germany Must Perish! é um livro contra a guerra na Europa. E isso nada teria de especial, certamente que foram escritos muitos outros na mesma altura, mas o que o torna digno de nota aqui é a sugestão abominável que o seu autor faz na obra. Nunca pensámos vir a dizer ou a escrever as palavras que se seguem, mas neste livro......... Kaufman diz que os Alemães são as causas de todas as guerras deste mundo, e então sugere que, a bem de uma eterna paz mundial, todos os homens com menos de 60 anos e todas as mulheres com menos de 45 aí nascidos passassem por um processo de completa esterilização, para assim exterminar completamente e para sempre toda a raça alemã (será que isso também incluía os Judeus nascidos nesse país? Não é claro). Numa entrevista posterior, chegou até a dizer que isto não tinha problema nenhum, que era muito fácil de se implementar na prática...

 

É uma ideia doentia, macabra, independentemente de quem a escreveu. Mas se ainda não acham isso suficientemente horrendo, tenha-se também em conta que o seu autor chega a argumentar que é provável que 20% dos Alemães não tivessem qualquer culpa nas guerras, mas que sacrificá-los em prol da sobrevivência dos soldados estrangeiros que iriam morrer em guerras futuras era completamente aceitável. E ainda diz outras coisas que tais - um dos capítulos finais tem literalmente o título de "Death to Germany". Ainda não estão suficientemente chocados? Vamos então a uma citação da obra em questão, em que o autor justifica o plano referido acima:

Firstly, no physical pain will be imposed upon the inhabitants of Germany through its application, a decidedly more humane treatment than they will have deserved. (...) Secondly, execution of the plan would in no way disorganize the present population nor would it cause any sudden mass upheavals and dislocations. The consequent gradual disappearance of the Germans from Europe will leave no more negative effect upon that continent than did the gradual disappearance of the Indians upon this. (...)

Aqui, num breve momento das 100 páginas da obra, o autor começa pela ideia de esterilizar todos os Alemães, e depois até termina referindo, desta forma tão casual, que eles fazem tão pouca falta na Europa como os Nativos Americanos fizeram nos EUA. E isto é horrendo!!!

A Solução Final da Questão Judaica

Mas... mas a triste verdade é que esse livro veio para a Europa, foi lido por Hitler e Goebbels, existem provas de que ambos o acharam completamente abominável... e foi nele que depois se parecem ter inspirado para a chamada Solução Final da Questão Judaica. Não sabemos até que ponto acreditaram mesmo na obra, mas no mínimo fingiram acreditar na ideia de que esse plano de destruição completa da Alemanha existia mesmo. E dado o antissemitismo da época, é muito provável que se tenham aproveitado de toda a situação, como um dos diários de Goebbels parece sugerir, quando diz:

This Jew did a real service for our side. Had he written this book for us, he could not have made it any better. I will have this published in an edition of millions for Germany and above all for the front, and will write the forward and afterward myself.

Aparentemente, e para os nazis, a obra parecia provar aquela "famosa" conspiração judaica mundial, até porque o seu autor se identificava como "Presidente da Federação Americana da Paz" e tinha amigos no poder nos EUA. Nesse sentido, não sabemos se a ideia de matar todos os Judeus já existia antes, mas a verdade é que, segundo conseguimos apurar (e, acreditem, procurámos como nunca por provas em contrário), ela não está atestada de uma forma indúbia antes da publicação deste livro.

Ainda pensámos que pudéssemos estar errados, que o livro só tivesse sido escrito em consequência das primeiras grandes mortes judaicas em campos de concentração, mas a realidade é que existem provas que o livro em questão já era lido na Alemanha em Julho de 1941, as famosas "estrelas" com que os Judeus se deviam identificar foram apenas implementadas em Setembro de 1941, mas a execução prática da chamada Solução Final Para a Questão Judaica data apenas já dos primeiros meses de 1942. E, se ainda não forem provas suficientes, deixe-se claro que nos Julgamentos de Nuremberga alguns nazis atribuíram o que tinham feito especificamente a este livro, tornando o argumento aqui apresentado difícil de refutar.

 

Ou seja, trocando por miúdos, os Nazis apenas parecem ter começado a matar Judeus de forma sistemática como resposta ao conteúdo completamente doentio da obra Germany Must Perish! Não sabemos até que ponto esta foi uma verdadeira causa-efeito, ou se os nazis apenas reapreoveitaram este livro para fazer vingar um plano que já podiam ter antes, mas há algo aqui que é impossível de refutar - este Germany Must Perish! é um livro macabro, foi lido por Hitler e Goebbels, e teve um impacto profundo nos eventos que tiveram lugar durante a Segunda Guerra Mundial, sendo repetidamente citado como uma prova de que, para os Alemães comuns, era tudo uma questão de matar ou morrer, por acreditarem, em virtude desta obra da autoria de um judeu, que se perdessem a guerra toda a sua raça ia ser completamente exterminada!

Algo completamente horrendo...

E... isto é pesado. Quando começámos a procurar uma resposta à nossa questão, relativamente ao porquê de estas atrocidades terem acontecido na Segunda Guerra Mundial, não suspeitávamos que fossemos encontrar algo tão horrendo como o descrito acima. Este é, ou pelo menos devia ser, um espaço para investigação e divulgação de coisas que pouca gente sabe, mas nunca esperámos encontrar algo que, de forma cumulativa, fosse tão inesperado quanto inquietante. Isto é chocante demais, porque, relembrando o que um jornalista americano escreveu sobre todo o tema em 1942:

No man has ever done so irresponsible a disservice to the cause his nation is fighting and suffering for than [Theodore] Nathan Kaufman. His half-baked brochure provided the Nazis with one of the best light artillery pieces they have, for, used as the Nazis used it, it served to bolster up that terror which forces Germans who dislike the Nazis to support, fight and die to keep Nazism alive...

Por isso, talvez seja mesmo esse o último segredo de Adolf Hitler - que a ideia da famosa Solução Final da Questão Judaica nem foi toda dele, mas em parte de um homem, um tal Theodore N. Kaufman, que nascido nos Estados Unidos da América e de ascendência judaica, um dia banalmente publicou um livro em que sugeria exterminar todos os Alemães.

 

 

E agora iremos tirar algum tempo de "férias", porque descobrirmos isto foi mesmo demais para nós, a nível psicológico...

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04 de Agosto, 2022

O mito do Cão de Fogo e dos Eclipses

Falar de eclipses é, muito frequentemente, falar de mitos e lendas em culturas por todo o mundo. Cada uma delas parece ter pelo menos uma história pessoal para justificar o porquê de eles acontecerem, ou, em alternativa, para explicar de onde surgiram pela primeira vez, e muitas delas até sentem a necessidade de preservar as datas em que estes tomaram lugar - relembre-se, a título de exemplo, o caso do nosso Livro da Noa. Assim, a história de hoje, que envolve um cão de fogo, vem-nos da Coreia e tenta contar ao leitor ou ouvinte como aconteceram a acontecer estas coisas no nosso mundo.

O cão de fogo e os eclipses

Diz-se então que há muito tempo atrás o Mundo das Trevas quis conquistar o nosso. Para tal, o seu monarca enviou um dos seus súbditos, um gigantesco cão de fogo - chamam-lhe pulgae, no original - para capturar o nosso sol, de forma a retirá-lo do céu e possibilitar um ataque nocturno. E o plano até era bom, mas quando pulgae se preparava para abocanhar o Sol, como se fosse um frisbee enorme, deparou-se com um problema totalmente inesperado - a sua superfície estava muito quente, fazendo com que o potencial raptor se começasse a queimar!

Pulgae voltou então a casa e explicou ao seu senhor o que se tinha passado. Juntos, decidiram em alternativa tentar tirar do céu a Lua, procedendo tal como antes, mas desta vez, quando o gigantesco canídeo se preparava para abocanhar o outro astro, deparou-se com um novo problema - a sua superfície estava muito fria, fazendo com que o potencial raptor ficasse com tanto frio que depressa teve de largar o disco celeste!

Face a estas ocorrências, este cão de fogo e o seu monarca tiveram de desistir temporariamente do plano que tinham, mas pontualmente lá decidem tentar uma nova opção e repetem o processo. Nesses momentos, para quem tiver mais imaginação é até possível olhar para o céu e ver, uma e outra vez, este pulgae a abocanhar os astros, como se fosse um cão dos nossos dias, a quem também nós tentamos atirar algum disco e lhe pedimos que o traga até nós. Escusado será dizer que até à presente data não conseguiram capturar nem a Lua, nem o Sol...

 

É curioso, este breve mito, quase como se de uma história para crianças se tratasse, mas na verdade é um conto tradicional que vem da Coreia, de um tempo em que os seus dois países ainda eram um só. Parece continuar a ser relatado nos dias de hoje, entre muitas outras histórias pelo mundo fora que tentam explicar-nos, afinal de contas, de onde vêm os eclipses. A verdade científica já é bem sabida, mas quão mais belo seria este nosso mundo se ainda continuássemos a contar histórias como estas?!

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01 de Agosto, 2022

Shennong e algumas descobertas da China

O nome de Shennong parece ser quase desconhecido na nossa cultura ocidental, mas na China há que deixar muito claro que esta figura é considerada como uma das maiores da sua história. Fale-se então um pouco desta figura individual, mas também de outras que, no seu tempo, foram responsáveis por diversas descobertas muito significativas.

Shennong e as outras descobertas da China

De este Shennong, que mais tarde até se tornou imperador, diz-se então que ele foi o responsável pela invenção de todo o tipo de ferramentas que ainda hoje se utilizam nas lides da Agricultura. Mas caso queiram considerar, de uma forma muito estranha, que esse contributo não foi suficientemente grande na história da humanidade, há que frisar que ele também fez algo de ainda mais interessante - conforme apontámos quando aqui escrevemos sobre o Clássico das Montanhas e dos Mares, diz-se que foi este homem que provou todas(!) as ervas que existiam e foi capaz de discernir as suas propriedades individuais, utilizando até algumas delas para fazer os primeiros chás (contraste-se com a lenda japonesa da origem do chá). Como ele fez tudo isso não é fácil de explicar, mas pelo menos uma lenda tardia atribui-lhe uma barriga translúcida, através da qual ele pôde estudar, na primeira pessoa, os efeitos de cada erva.

Seja como for que o obteve, esse seu conhecimento foi depois sendo passado de uma forma oral, até que acabou por ser compilado numa obra que é hoje conhecida como Shennong Ben Cao Jing ("神农本草经", no original), em que se apresentam, de uma forma muito breve, as características de cada erva, bem como de alguns animais, para que esses recursos pudessem ser utilizados pelas populações para combater as respectivas maleitas, naquele que será provavelmente um dos mais antigos fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa.

 

Porém, se a este Shennong são atribuídas descobertas muito importantes, o seu caso não é único. Existem, na cultura chinesa, também outras figuras lendárias que se diz que nos trouxeram novidades muito importantes. Apenas para dar alguns breves exemplos, diz-se que um tal Zhimao criou redes para apanhar peixes e pássaros inspirando-se nas teias de aranha. Ban notou que os ramos de algumas árvores eram flexíveis e criou os primeiros arcos com eles. Gonggu, apercebendo-se de que as cabaças flutuavam nas águas, pegou então em madeira seca e criou os primeiros barcos. Uma outra figura, cujo tempo o nome já fez esquecer, vendo ervas a rodopiarem ao vento, inspirou-se nelas para criar as primeiras rodas. E assim por diante...

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