A Lua Nova e a Lua Velha - três origens surpreendentes!
Claro que já todos ouvimos falar de uma Lua Nova, mas de onde vem esse nome, que supõe também a existência de uma Lua Velha? Não é algo em que muita gente pense, considerando-se o primeiro como apenas e somente um mero nome de um fase lunar. Mas, realisticamente, a existência e ainda utilização desse primeiro nome levanta algumas questões... às quais não saberíamos responder, não fosse o facto de termos encontrado, há umas semanas atrás, um fragmento de Gemisto Pléton, autor bizantino nascido no século XIV, que permite revelar a resposta por detrás de todo o mistério.
Segundo Gemisto Pléton, e certamente seguindo uma das fontes literárias de que tomou proveito (já lá voltaremos...), em outros tempos existiu, de facto, uma fase lunar conhecida por Lua Velha. Segundo o autor, ela era consagrada ao deus Plutão (o deus dos mortos, conhecido como Hades entre os Gregos), cujos ritos tomavam sempre lugar nessa altura. O que até explica, de uma vez por todas, a associação (posterior?) do mesmo astro a Hécate e à Feitiçaria, que se foi prolongando até aos nossos dias de hoje. Mas porquê essa referência a uma espécie de suposta "idade" no astro lunar? É aqui que as coisas se tornam muito interessantes, ao ponto de termos de fazer uma breve introdução adicional para o explicar!
Há uns dias atrás falámos aqui sobre o Maniqueísmo. Na altura não pudemos falar de toda a sua teologia, mas mostrámos um diagrama do mundo tal como os Maniqueístas o representavam, na forma que voltávamos a apresentar acima. Não é nada fácil explicar cada um dos elementos que ele contém, mas quem prestar atenção poderá ver que na parte superior ele apresenta duas esferas. Supostamente, essa secção da pintura é uma representação da sua crença na transmigração das almas - trocando por miúdos, os Maniqueístas pensavam que quando as pessoas morriam as suas almas eram enviadas para a Lua, sendo depois pontualmente reenviadas para outro local.
Como também foi dito na altura, para criar estas suas ideias Mani utilizou um conjunto de fontes religiosas que o antecediam, entre elas a religião do Zoroastrianismo. Também Gemisto Pléton recorreu a essa mesma fonte, o que permite, finalmente e depois de toda esta não-tão-breve introdução, o porquê de ter outrora existido uma Lua Nova e uma Lua Velha. E de onde vem mesmo tudo isto?
Segundo um conjunto de ideias que na sua forma derradeira parecem ter vindo das doutrinas de Zoroastro (o "criador de toda a religião", como lhe chama o autor bizantino), a Lua Nova era completamente invisível nos céus por estar vazia. Depois, à medida da passagem do tempo, ela ia-se enchendo das almas dos falecidos, como que "envelhecendo" e tornando-se, eventualmente, uma Lua Velha, ou Lua Cheia (de almas). Depois, lá tinha lugar a tal transmigração de todas elas para um outro lugar, como que a rejuvenescendo e levando-a de volta à sua forma "invisível", renascendo e falecendo metaforicamente a cada novo mês.
Esta teoria sobre a origem da Lua Nova e da Lua Velha - ou Lua Cheia, se preferirem - é profundamente fascinante. Na tradição ocidental, diz-se que Zoroastro foi o criador da primeira religião (ou, pelo menos, dos primeiros grandes textos religiosos sistemáticos). Não é fácil calcular quando ele viveu, mas fala-se de ter sido há 2500-3500 anos atrás. Mas, mesmo assim, apesar dessa imensa idade, algumas das ideias que formulou foram sendo passadas de boca em boca para as religiões posteriores, tendo-se em muitos casos perdido o seu significado original.
E é isso que parece ter acontecido no caso da origem da Lua Nova e da Lua Velha - é particularmente curioso constatar que ainda hoje falamos dela como estando "cheia", numa das suas quatro fases, mas sem que absolutamente ninguém pergunte... "Cheia? Mas cheia de quê?" Esta teoria explica não só isso, mas também a questão da sua suposta "idade", da razão pela qual ela vai envelhecendo e rejuvenescendo ao longo dos dias do mês! Que vos parece, sabiam de tudo isto?