O Poema de Amor mais antigo do mundo
Hoje decidimos aqui falar de aquele que parece ser o poema de amor mais antigo do mundo. Nunca é fácil descobrir precisamente a idade destas coisas - recorde-se, por exemplo, a nossa busca pela autora mais antiga do mundo, ou pelo primeiro sinal de trânsito - mas por se tratar de uma composição suméria e mencionar o monarca Su-Sim ou Shu-Sin, podemos supor que terá sido escrito há cerca de 3900 ou 4000 anos. Não é, portanto, tão antigo como as histórias de Gilgamesh ou Lugalbanda, mas é muito notável por se tratar de uma das primeiras composições do seu tipo que ainda nos chegaram de uma forma mais ou menos completa.
Feita esta breve introdução a este suposto poema de amor mais antigo do mundo, apresentamos aqui uma tentativa de sua tradução para o português dos nossos dias, em que o sujeito poético parece ser uma esposa ou amante do rei Su-Sim:
Noivo, querido do meu coração,
Boa é a tua beleza, doce mel,
Leão, querido do meu coração,
Boa é a tua beleza, doce mel.
Tu cativaste-me, deixa-me tremer diante de ti,
Noivo, eu seria levada por ti para o quarto,
Tu cativaste-me, deixa-me tremer diante de ti,
Leão, eu seria levada por ti para o quarto.
Noivo, deixa-me acariciar-te,
O meu carinho precioso é mais saboroso que o mel,
No quarto, cheio de mel,
Desfrutemos da tua bela beleza,
Leão, deixa-me acariciar-te,
O meu carinho precioso é mais saboroso que o mel.
Noivo, tu tens o teu prazer de mim,
Diz à minha mãe, ela te dará iguarias,
Diz ao meu pai, ele te dará presentes.
O teu espírito, eu sei como o alegrar,
Noivo, dorme em nossa casa até ao amanhecer,
O teu coração, eu sei como o alegrar,
Leão, dorme em nossa casa até ao amanhecer.
Tu, porque me amas,
Dá-me a prece de teus carinhos,
Meu senhor deus, meu senhor protetor,
Meu Su-Sim que alegra o coração de Enlil,
O teu lugar é bom como o mel, coloca a tua mão nele,
Traz a tua mão sobre ele como uma roupa,
Cobre a tua mão sobre ele como uma roupa.
Não é, na verdade, possível saber se este é verdadeiramente o poema de amor mais antigo do mundo, mas podemos é afirmar, com maiores certezas, que se trata mesmo da mais antiga composição deste tipo que conseguimos encontrar. Ela já usa um conjunto de ideias que até se vão mantendo nos nossos dias - o amante como um pujante leão, o pedido da mulher para ele passar toda a noite com ele, etc. - e quem o escreveu, possivelmente uma pessoa do sexo feminino, até evoca brevemente o deus Enlil, o mais importante do panteão sumério, talvez na sua função como protector do monarca. Em momentos como estes, somos então levados a pensar que o grande espírito da humanidade nem mudou assim tanto ao longo dos séculos...