O mito grego de Glauco
Glauco, um deus marinho da Mitologia Grega e Latina, é uma daquelas figuras cujos contornos essenciais se foram mantendo ao longo dos séculos, mas com alguns detalhes variantes. Ainda assim, o seu mito pode ser dividido em três momentos essenciais, que iremos detalhar abaixo.
Todos os autores parecem concordar na ideia de que Glauco era, originalmente, um pescador numa qualquer terra da Grécia Antiga. Em dada altura da sua vida encontrou uma erva mágica que, ao consumir, lhe permitiu ascender ao estatuto divino e adoptar a forma de uma criatura marinha, meio-homem e meio-peixe (como um tritão). Foi sob essa nova forma que passou a ser conhecido como um deus marinho, tendo passado a viver entre os deuses das profundezas do mar... e se os detalhes de todo o episódio variam de fonte para fonte, é curioso que alguns autores chegavam a identificar a suposta erva que propiciou a transformação, como se ela pudesse ser reencontrada por cada um dos seus leitores.
Num segundo momento, sendo já este deus marinho, Glauco apaixonou-se por uma ninfa, a então-bela Cila, supostamente tendo pedido à feiticeira Circe que o ajudasse a concretizar esse amor. Ele desconhecia, porém, que esta última também o amava, e então usou esse pedido como um subterfúgio para transformar a sua competidora num monstro horrendo. Depois, face a essa nova metamorfose, o herói depressa perdeu a sua paixão, mostrando-nos o quão "profunda" ela tinha sido.
Em terceiro lugar, o mito de Glauco tinha ainda uma face muito actual para os Antigos Gregos e Romanos. Segundo esta última vertente da sua história, era esta figura divina, talvez juntamente com Castor e Pólux, que socorria aqueles que se perdiam no mar, impedindo que se afogassem na sequência de alguma tempestade ou naufrágio. Porque o fazia? É apenas uma teoria, mas é possível que ainda se lembrasse do tempo em que ele próprio tinha sido um mero pescador, e quantas vezes as tempestades marinhas o tinham atemorizado...!
Mas... para terminar as linhas de hoje, este deus não era o único Glauco da Mitologia Grega. Existiam outras figuras que partilhavam o mesmo nome, e se falar de todas elas seria difícil, por motivos de tempo e espaço, podemos aqui referir uma grande figura tão famosa como a anterior, ou mesmo até mais - o herói que na Ilíada trocou a sua própria armadura de ouro com Diomedes, pelo facto dos seus antecessores terem partilhado de xenia (uma espécie de antiga relação de hospitalidade, cujos efeitos também se prolongavam pelas gerações seguintes). Ou um terceiro, um filho do Rei Minos (e irmão de Ariadne), que se afogou num pote de mel, mas posteriormente foi trazido de volta à vida com uma erva miraculosa apenas conhecida por duas serpentes...