A lenda da Penha dos Namorados (em Espanha)
Se o nome de Penha dos Namorados não é pouco vulgar, a lenda que aqui contamos hoje provém de Espanha, de um local próximo da cidade de Antequera. É uma história oral de génese medieval, que foi passando de boca em boca até primeiro ter sido posta por escrito no século XV. Reencontrámo-la entre os escritos de Andrea Navagero, que a resume com as palavras que traduzimos abaixo:
Aproximadamente a metade do caminho entre Antequera e Archidona passa-se junto de um monte muito áspero, chamado a Penha dos Namorados. O seu nome vem de dois apaixonados, um cristão de Antequera e uma moura de Archidona, os quais, tendo vivido escondidos muitos dias naquele monte sem ser encontrados, finalmente o foram, e vendo que não podiam escapar sem ser capturados, nem podendo suportar que os separassem para viverem um sem o outro, decidiram morrer juntos, e encurralados na penha mais alta do monte, após muitas lágrimas e lamentos pela sua má fortuna, vendo-se os perseguidores já muito próximos, abraçaram-se com carinho e, unindo os seus rostos, precipitaram-se da altíssima penha, dando assim nome ao monte.
Esta é, portanto, uma lenda de paixões entre Mouros e Cristãos, muito comuns até do nosso lado da fronteira (lembrem-se, por exemplo, as Mouras Encantadas, uma das de Almourol, e assim por diante...), cuja trama levou ao nome do local. Não sabemos, nem se conseguiu descobrir, até que ponto a lenda terá algum fundo de verdade - e, de facto, até a sua versão mais antiga afirma desconhecer o nome do herói, sabendo apenas que ele era natural de Espanha - mas o facto consumado é que o local já tinha este nome na Idade Média e já era justificado com a história acima.
Mas... mesmo assim, um outro mistério paira sobre esta Penha dos Namorados espanhola. Quem prestar atenção ao local poderá notar que ele tem a forma de um rosto quase humano. Será uma espécie de gigante de outros tempos? Será que também essa forma humana tem algum lenda associada? Neste caso específico, e muito curiosamente, a resposta parece ser completamente negativa - é provável que a lenda acima, em virtude da sua grande fama, tenha impedido a formação de outras histórias igualmente associáveis ao local, e então o rosto quase humano lá assim permanece, sem um relato que o possa explicar, pela sua forma secundária em relação aos amores medievais de dois jovens de religiões diferentes...