Kitty Genovese e o nascimento dos números telefónicos de emergência
É provável que em Portugal e no Brasil o nome de Kitty Genovese seja muito pouco conhecido, mas mesmo assim ela teve um papel importante na história mundial. Mas já lá iremos, por agora bastará dizer que esta senhora nasceu Catherine Susan Genovese em 1935, em 1961 foi presa pela sua participação em uma esquema de apostas desportivas ilegais, e na madrugada de 13 de Março de 1964 saiu do seu local de trabalho, para ir para casa, quando lhe aconteceu algo bastante grave...
Em suma, e poupando os leitores aos pormenores mais chocantes, nessa noite, por volta das 2h ou 3h da manhã, Kitty Genovese estava a voltar para casa depois do seu trabalho nocturno num bar quando foi esfaqueada por um ladrão, um tal Winston Moseley. Se, primeiro, esse bandido até foi afugentado por uma pessoa que presenciou a cena, depois ele voltou para acabar o seu trabalho, não só matando esta senhora mas também lhe roubando o pouco que ela tinha consigo. Agora, claro que isto é triste, mas este ainda é um espaço sobre mitos e lendas, pelo que o aqui particularmente relevante é o que aconteceu a seguir.
Kitty Genovese, como ela ainda é conhecida hoje, faleceu nessa madrugada de 13 de Março de 1964, e no dia 27 de Março do mesmo ano o jornal The New York Times publicou uma notícia inquietante, na qual revelou que existiram 37 testemunhas diferentes desse crime, mas nenhuma delas interviu para salvar esta senhora, ou sequer telefonou para a polícia. Posteriormente, veio a apurar-se que as coisas não tinham sido bem assim, como este jornal tinha apregoado, que os números reais eram significativamente diferentes, mas este fenómeno, que é bem real, ficou então conhecido como "Efeito de Espectador" ou "Síndrome de Genovese" - ele diz, essencialmente, que quando muitas pessoas presenciam algo de significativo (como um crime), tendem a pensar que outra pessoa irá reportar a ocorrência, e portanto não fazem nada.
Agora, tendo nós aqui falado recentemente de um falso crime, face ao suposto número de "37 testemunhas que não fizeram nada", é claro que isto gerou um certo pânico e muitos debates sobre o tema. Todas as pessoas como que foram inventando as suas desculpas para não terem agido da forma mais correcta (como também ainda é comum nos nossos dias), e algumas delas desculparam-se dizendo que até queriam chamar a polícia, mas não sabiam para que número de telefone ligar. E foi essa sequência de eventos que levou a uma necessidade crescente da instituição de números telefónicos de emergência.
Importa esclarecer que eles não nasceram, em específico, com este caso de Kitty Genovese (o número "999" já existia no Reino Unido desde 1937 para esta mesma tarefa), mas ele parece ter sido o mais importante de todos os casos que contribuíram a disseminação de todo o conceito - em Portugal viemos a ter o "115" pelo menos desde Novembro de 1965, que hoje já é "112", o número comum europeu para este tipo de chamadas. Desconhecemos se existiu algum caso semelhante em Portugal, semelhante ao acima, que tenha contribuído para o estabelecimento deste número nas nossas terras nacionais, mas a mais relevante de todas as histórias que encontrámos em relação a este número é, sem qualquer dúvida, a que apresentámos acima.