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Mitologia em Português

30 de Setembro, 2024

"Bishops who dissented from the Christological findings of the First Council of Nicea"?

Na internet pode encontrar-se todo o tipo de coisas, algumas delas verdadeiramente fascinantes. Uma delas pode ser vista na imagem abaixo, em que a um qualquer viajante virtual foi pedido para seleccionar, numa representação bizantina do Primeiro Concílio de Niceia, os quadrados em que estejam representados bispos que discordaram da Cristologia estabelecida nesse concílio. É uma mera brincadeira, só uma pessoa com conhecimentos muito específicos seria capaz de cumprir esta estranha tarefa, num sistema que habitualmente até só pede para seleccionar sinais de trânsito, autocarros, etc., mas... na verdade, se não se tratasse de uma brincadeira, qual seria a resposta correcta para a questão "Bishops who dissented from the Christological findings of the First Council of Nicea"? E, ainda melhor, será que ela estava acessível aos "comuns mortais"?

"Bishops who dissented from the Christological findings of the First Council of Nicea"?

Curiosamente... é até possível a qualquer pessoa responder com sucesso a esta questão! Para isso basta prestar-se alguma atenção à imagem - mesmo que se desconheça a identidade de qualquer uma das figuras representadas, é possível ver que na parte inferior da imagem se encontra uma figura caída no chão, numa espécie de expressão de mais plena derrota. Ela não tem qualquer auréola, ou coroa solar, o que é raro nesta imagem. Depois, quem continuar a olhar bem para ela, poderá ver do lado esquerdo uma segunda figura sem auréola, com umas vestes esverdeadas; à direita do centro uma terceira, com um chapéu estranho e o que parece ser um bastão, também sem essa distinção; e em quarta do lado direito, de que apenas o chapéu pode ser visto na imagem. Bastaria seleccionar esses seis quadrados e toda a questão ficaria resolvida, é tão simples como isso!

 

Mas... afinal de contas, quem foram essas quatros figuras, os tais "Bishops who dissented from the Christological findings of the First Council of Nicea"? O mais evidente de todos eles é aquele que está no chão - só pode ser Ário, o fundador da doutrina dita-"herética" do Arianismo, que lhe tomou o nome (e nada tem a ver com Hitler). Esta ideia, muito sucintamente, dizia que Deus e Jesus Cristo não são apenas um só e o mesmo, e foi o principal inimigo do Primeiro Concílio de Niceia - para a combater, foi então adicionado à oração do Credo que Jesus era "consubstancial ao Pai".

Os restantes três não são tão simples de descobrir... dois deles têm chapéus semelhantes ao de Ário, mostrando que vinham da mesma zona geográfica, e portanto é provável que sejam Theonas de Marmarica e Secundus de Ptolemais. Ao centro, e até por parecer ser jovem, é provável que esteja o diácono de nome Euzoios.

 

Como se sabe tudo isto? No concílio em questão estiveram pelo menos 200 bispos, e quando se tratou de aprovar o agora-famoso "Credo Nicénico", apenas três deles se recusaram a fazê-lo, nomeadamente Ário [de Ptolemais], Theonas de Marmarica e Secundus de Ptolemais (Euzoios era apenas diácono, por isso não votou). Agora, se alguém quiser arriscar a identidade de todas as outras figuras representadas na imagem, com a natural excepção do Imperador Constantino (ao centro, com coroa e vestes vermelhas), aí é que toda a tarefa se torna muito mais complicada, e certamente que não iremos aqui fazê-la.

 

Claro que toda esta imagem, e a estranha "captcha" que lhe está associada, são meras brincadeiras. Presumimos que nunca ninguém tenha tido MESMO de realizar esta curiosa tarefa antes de enviar uma mensagem a uma empresa, ou de aprovar um pagamento bancário, mas é digno de nota que apesar dessa brincadeira, a questão até tem - como demonstrámos acima - uma resposta completamente real, bem como a presença de pistas que poderiam ter sido seguidas por quem nada perceba de todo este tema. É até provavelmente isso que uma boa brincadeira faz, "delectare et docere"...

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26 de Setembro, 2024

"Comentário à Eneida de Virgílio", de Sérvio - agora disponível em tradução!

O Comentário à Eneida de Virgílio, de Sérvio, já cá tinha sido falado em breves linhas há uns anos atrás, mas hoje regressamos ao tema para anunciar que, finalmente, já tornámos disponível a nossa tradução da obra para Inglês. Ela está disponível na Amazon a um valor puramente simbólico, mas sofre de um problema muito significativo... ao qual já voltaremos!

Comentário à Eneida de Virgílio, de Sérvio

Então, de que fala esta obra, para que ainda não a conhecer? Escrita por volta do século IV ou V da nossa era, este Comentário à Eneida de Virgílio pega na famosa obra latina e tenta explicar as suas sequências menos simples, quase verso a verso. Em alguns instantes o autor conta mitos que foram entretanto esquecidos (como o do Cavalo Ulisses!), naquela que é - para nós - sem dúvida a parte mais interessante de toda a obra. Mas, além disso, ele também tenta explicar o significado de determinadas expressões que pareciam ter caído em desuso, alguns pontos culturais menos simples, e mesmo identificar recursos estilísticos que, se até existem, a maior parte de nós nem sequer ouviu falar nos bancos de escola.

Não é, admita-se, uma obra que dê muito prazer em ler numa forma sequencial (seria como tentar ler uma enciclopédia...), mas é muito única e repleta de um saber frutífero, que a torna imprescindível não só para o estudo da Eneida, mas também para a compreensão das múltiplas fontes literárias que tanto Virgílio como Sérvio tinham à sua disposição. Se muitas delas estão hoje perdidas, como os Anais de Énio ou os poemas do Ciclo Épico, pelo menos este texto permite-nos ter um acesso limitado a elas, em especial nos momentos em que se intersectam com os temas abordados por Virgílio no seu famoso poema épico.

 

São, para nós, foram os momentos mitológicos deste Comentário à Eneida de Virgílio que nos conduziram a uma necessidade da sua tradução (o texto ainda não existia traduzido em nenhuma língua moderna), também houve um problema muito significativo no decurso deste trabalho. De facto, e na verdade, não foi apenas um... mas sim uma sequência de problemas que, uma e outra vez, durante mais de cinco anos foram levando ao adiamento do projecto. Ele chegou a estar proverbialmente fechado numa gaveta, quase esquecido, sem que ninguém lhe tocasse, até que tivemos de tomar uma decisão - ou ele ficava lá para sempre, ou deveríamos publicar o que já estava feito. Isso implicaria, neste caso, publicar uma tradução incompleta para uma obra da qual até já existiam diversas traduções igualmente incompletas. Isso seria uma perda de tempo, razão pela qual optámos por publicar esta tradução na forma como estava - ela cobre o livro completo, mas a tradução, em si mesma, não foi editada e revista extensamente verso a verso, mas foi editada apenas com recurso a Inteligência Artificial, que comparou a tradução com o original e nos foi avisando do que estava bem e mal. Foi um processo muito pouco fiável, mas o único que nos pareceu possível para gerar esta tradução tosca mas completa, a que provavelmente voltarmos no futuro com esperança de a melhorar.

 

Vale então a pena ler este Comentário à Eneida de Virgílio? A resposta, neste caso específico, depende muito do contexto do próprio leitor, mas podemos deixar uma sugestão - se for lido em paralelo com o próprio poema épico latino, ele permite conhecer mais e melhor um conjunto de pontos que escapam aos leitores comuns. É, por isso, uma obra que anda de braços dados com a Eneida, e que talvez mereça ser lida juntamente com ela por todos aqueles que têm interesse em conhecer melhor essa grande obra dos Romanos!

 

P.S.- A obra estará na Amazon 100% grátis durante o dia de amanhã, por isso... aproveitem a oportunidade para a descarregar sem qualquer custo, se assim o desejarem!

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23 de Setembro, 2024

Os mitos de Tages e Vegóia

Tanto o mito de Tages, como o de Vegóia, parecem ser quase completamente desconhecidos nos nossos dias de hoje. Assim, se a semana passada falámos aqui sobre a civilização etrusca, mais especificamente sobre a forma como os Etruscos interpretavam os sinais divinos, faz hoje sentido que aqui falemos de duas figuras que tanto esse povo como, posteriormente, os Romanos associavam a essas antigas artes.

O mito de Tages e Vegóia

Sobre a primeira das duas figuras, Tages, contava-se que num dado dia um agricultor estava a abrir sulcos no seu terreno quando, pelo mais completo acidente, abriu um buraco demasiado grande. Nesse momento saiu de lá uma espécie de estranha criança com cabelos brancos, que depressa evidenciou o seu enorme conhecimento das artes humanas e divinas. Face a um tão estranho monólogo, bem como à estranha figura do relator, algumas pessoas das redondezas juntaram-se ao local e foram anotando o que ele ia dizendo, gerando um conjunto de conteúdos que posteriormente se tornaram parte dos livros sagrados da civilização etrusca. Infelizmente, não só esses livros estão agora quase perdidos, mas também o derradeiro destino do próprio herói desta história parece desconhecido - presume-se, portanto, que tenha desaparecido de uma forma tão misteriosa como primeiro apareceu, ou que tenha ascendido aos céus como Rómulo / Quirino.

 

Sobre Vegóia ainda menos se sabe, mas existem na literatura que nos chegou da Antiguidade algumas breves referências a ter sido ela a profetisa ou ninfa que trouxe ao povo etrusco um conjunto de conhecimentos, ou até livros físicos, relacionados com a interpretação do futuro, então realizado seja pelos órgãos internos dos animais ou pelas trovoadas. Assim, por esse seu papel religioso, ela até se confunde um pouco com a figura anterior, desconhecendo-se os limites dos papéis de ambos na literatura religiosa dos Etruscos.

 

Tanto o mito de Tages como o de Vegóia já remetiam para um passado muito remoto no tempo dos Romanos, o que pode explicar o porquê de nos ter chegado muito pouca informação sobre cada um deles. No entanto, não pode deixar de ser apontada uma curiosa relação destas duas histórias com uma mais tardia, da mitologia latina, ainda hoje bastante conhecida e que opunha a Sibilia de Cumas a Tarquínio. Terá sido essa uma adaptação de um antigo mito associado a uma ninfa, como a que dá título ao artigo de hoje, e muitas outras histórias que essa civilização tomou dos Gregos? Ou será que nessa altura existiam diversos mitos semelhantes a estes, em que figuras mais ou menos divinas apareciam e divulgavam o que se viriam a tornar ideias religiosas?

É difícil sabê-lo hoje em dia, dado se terem perdido tantas das fontes originais, pelo que resta apontar, sem quaisquer dúvidas, que tanto os Etruscos como os Romanos tinham diversas crenças religiosas cuja origem atribuíam a figuras misteriosas de um passado remoto, mas cujos ensinamentos continuavam a impactar as sociedades romanas até à ascensão do Cristianismo.

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16 de Setembro, 2024

A origem dos Pontos Cardeais

Falar da origem dos pontos cardeais, ou da chamada "rosa dos ventos", pode ser um pouco complicado. Quem tentar fazer uma pesquisa por essa informação na internet encontra, aqui e ali, informações muito variadas e vagas, essencialmente dizendo que estas coisas foram todas elas criadas pelos Gregos da Antiguidade, mas sem que se explique ora sobre o porquê dessa criação, ou se apresentem quaisquer tipo de provas reais. Visto que não gostamos muito que se teorizem as coisas só "porque sim",

A origem dos Pontos Cardeais ou da Rosa dos Ventos

Na imagem acima pode ser visto o chamado "Fígado de Placência", que obteve esse nome pelo local em que foi reencontrado em finais do século XIX. A sua data de origem não é completamente clara, mas a cidade, em si, parece ter sido fundada no século II a.C. Agora, o que isto tem de interessante e de relevante para todo o tema é que este se trata de um modelo de um fígado de uma ovelha em tamanho real, com alguma escrita - em Etrusco - com intenções lectivas. Já não é claro como os fígados, e outros orgãos internos dos diversos animais, eram utilizados na altura para prever o futuro, mas o que pode ser visto, sem muita dificuldade, ali em cima é que existe uma tentativa de divisão do orgão em diversas partes.

Isto é importante porque, segundo ainda se sabe, os Etruscos acreditavam numa interpretação de sinais divinos com base no local em que tinham lugar. Assim, uma trovoada a nordeste teria um significado diferente de uma a sudeste, ou de uma a norte; um pássaro que cantava a sul devia ser interpretado de forma diferente de um que o fazia a leste, e assim por diante.

 

Esta necessidade religiosa de uma divisão dos céus e do mundo, na altura com um total de 16 partições, levou à criação de algo que poderíamos chamar os pontos cardeais por parte dos Etruscos. Nessa sua forma inicial, isto nada tinha a ver com os ventos, como outros artigos insistem em fazer crer, mas com a necessidade de compreender que deus enviava um determinado sinal divino. Uma dada subdivisão pertencia ao Sol ou a Jano, outra pertencia a deuses quase esquecidos como Fufluns ou "leθns"... e para poderem interpretar correctamente todos esses presságios, os sacerdotes de altura tinham de ter um conjunto de vocabulários para designar cada uma dessas posições, o que levou tanto àquilo que chamamos pontos cardeais, mas também - e muito posteriormente - à chamada rosa dos ventos.

 

O que é muito curioso, mas também muito digno de nota, em toda esta história é que ela não está escrita. Não existe qualquer prova indisputável que diga, contrariamente ao que aconteceu com a origem dos nossos dias da semana em Portugal, que a direcção anteriormente associada a Fufluns agora ia passar a ser denominada "Sul". O que sabemos, sem dúvidas e porque alguns autores latinos nos foram legando essa informação, é que os Etruscos previam o futuro com base nas tempestades e suas localizações, bem como através da utilização de fígados de animais, e a existência de vestígios como os mostrados ali na imagem acima atestam o seu interesse no estudo dessas divisões. Daí até à alteração de nomes de cada uma das divisões vai um passo muito pequeno, e se não sabemos quando ele teve lugar, o processo parece ter resultado de uma readaptação de um conjunto de pesquisas, outrora religiosas, ao mundo secular... e a sua associação aos ventos, necessária para a navegação marítima, também faz bastante sentido.

 

Portanto, em suma, qual é a mesma a origem dos pontos cardeais e da rosa dos ventos? Na nossa opinião - mas frise-se que, como já apontado acima, não existem provas 100% concretas - essas ideias nasceram dos Etruscos, e da sua comprovada necessidade religiosa de subdividir tanto o mundo terreno como os orgãos internos dos animais em diversas secções, cada uma delas associada por este antigo povo a uma entidade divina diferente.

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11 de Setembro, 2024

O desaparecimento de Pamela Hobley

Hoje contamos aqui a história (verdadeira) de uma Pamela Hobley para lhe adicionar algo que, aparentemente, nunca tinha sido reportado na internet. É algo completamente real, que aconteceu a um dos nossos colegas há uns anos atrás (como o caso de Teresa Fidalgo...), e que mostra os estranhos caminhos a que a vida por vezes nos conduz pelo mais completo acidente.

 

Pamela Hobley nasceu a 24 de Maio de 1954 e desapareceu, juntamente com uma colega de escola (de nome Patricia Spencer), no dia 31 de Outubro de 1969. Já passaram décadas e décadas, seria muitíssimo invulgar reencontrar ambas ainda com vida nos nossos dias, mas um elemento curioso no seu caso é que à data do desaparecimento, e segundo informação da polícia local, esta jovem tinha a seguinte peça de roupa em sua posse - "3/4 length white faux fur coat with brown faux fur trim", ou seja, uma espécie de casaco de pele falso com cores branca e castanha. Pode parecer um elemento muito secundário, até dadas as décadas que se passaram, mas já lá iremos...

Um dia, um dos nossos colegas estava a ler artigos na internet e deparou-se com esse caso americano por completo acidente. Minutos depois, leu sobre um outro caso - o do serial killer Rodney Alcala - e encontrou um pedido de ajuda da polícia norte-americana para tentar identificar as muitas pessoas que apareciam nas fotografias tiradas por esse senhor, como pode ser visto nesta página, até por se poderem tratar de outras possíveis vítimas. Entre elas contava-se uma fotografia identificada no artigo apenas como "53/110" (tem uma referência completamente diferente em outras fontes online), que aqui reproduzimos na imagem abaixo:

O desaparecimento de Pamela Hobley

Do lado esquerdo pode ser vista a menina Pamela Hobley, com cerca de 15 anos em 1969, numa fotografia publicada oficialmente pela polícia. Do lado direito pode ser vista uma fotografia tirada por Rodney Alcala em local e data incertos entre os anos de 1968 e 1979, de uma jovem a usar um casaco de pele com cores branca e castanha. Comparem o nariz, os lábios, as sobrancelhas, o cabelo, os olhos (castanhos), etc., e as duas pessoas parecem ser uma só e a mesma, com alguns anos de diferença. Com curiosidade, o nosso colega usou diversos algoritmos de comparação facial e esses sistemas revelaram uma "forte probabilidade" de serem ambas a mesma pessoa. Parecia coincidência demais, algo quase irreal, até porque nunca ninguém pensa que, a um oceano de distância e pelo mais completo acaso, consiga resolver um caso de um desaparecimento com mais de 50 anos... e a ser mesmo verdade, isto indicaria uma forte probabilidade de que a menina Hobley foi mais uma das vítimas mortais de Alcala!

E então... o nosso colega contactou por e-mail diversas entidades policiais nos EUA e tentou passar esta informação para elas, mas sem qualquer sucesso. E tentou uma segunda vez, igualmente sem sucesso. À terceira lá "foi de vez", conseguiu falar com alguém... e uns dias depois recebeu de volta um e-mail a dizer que tinham falado com uma pessoa ligada ao caso (sem nunca especificar quem terá sido), e que a pessoa negou a identificação, sem qualquer informação adicional.

 

Portanto... será que esta Pamela Hobley, que continua desaparecida até aos nossos dias de hoje, foi morta por Rodney Alcala? A resposta fica para os leitores, porque nem todas as histórias que contamos por cá têm séculos de existência...

 

P.S.- Esta é a primeira publicação que já não aparece nos dois volumes actuais do nosso livro!

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07 de Setembro, 2024

Resultados do I Concurso de Poesia Mitologia.pt

Há pouco mais de um mês que aqui se iniciou o I Concurso de Poesia Mitologia.pt . Entretanto, participaram quase uma centena de pessoas, a maior parte das quais do Brasil. Surgiram alguns poemas verdadeiramente belos, pelo que devemos até confessar que sentimos alguma dificuldade em classificá-los para atribuir os respectivos prémios. Assim, todas as composições foram avaliadas com base nos critérios explicados anteriormente, e tendo existido um empate técnico pelo segundo e terceiro lugares, perguntou-se depois a três pessoas isentas qual deles preferiam. Desfeito esse pequeno problema, aqui ficam então os três vencedores e as respectivas composições poéticas:

Resultados do I Concurso de Poesia Mitologia.pt

Em terceiro lugar do pódio, o poema Αντίο (que é como quem diz, "adeus"), da autoria de Roger Bastos, sobre o mito de Orfeu e Eurídice. A título de curiosidade, o seu prémio, conforme as regras do concurso, foi doado à associação brasileira Cão Sem Dono. Veja-se a composição poética:

Filho da musa e de Apolo,
Encantei feras e donzelas,
Acalmei rios com melodias,
Despertando paixões serenas.

Por ti, Eurídice, desci ao Hades,
Onde o barqueiro frio cativei,
E Cérbero, guardião sombrio,
Com a lira, acalmei.

No palácio de sombras de Hades,
Com Perséfone ao seu lado,
Minhas notas romperam o silêncio,
E teu coração foi libertado.

Num momento de dúvida e temor,
Olhei para trás, quebrando o pacto,
E tu, Eurídice, foste levada
De volta ao abismo intacto.

Desde então, vivi em melancolia,
Neguei outras paixões,
Até que as Mênades me encontraram,
E com elas, veio minha ida.

 

Em segundo lugar, o poema A lenda do Minhocão, da autoria de Bernardo Santos, sobre essa conhecida lenda brasileira. O seu prémio foi para a associação brasileira Abrigo Irmã Tereza. Veja-se este segundo poema:

Lá vem o minhocão do Pari, serpenteando pelo rio Cuiabá,
zangado, faminto, derrubando embarcações
e devorando pescadores enlouquecidos.

Lá vai o minhocão pantanal afora
em busca de seu irmão inquieto, místico;
o minhocão de Baús, que destrói casas e abrigos.

Serão os minhocões grandes cobras
que crescem de forma desmensurada
a assustarem humanos desprotegidos?

Há quem diga que sim, outros que não,
que tudo é fruto da imaginação,
puro mito!

Lá se foi o minhocão, desacreditado,
fugiu pra São Paulo e o mito se fez concreto
ao transformar-se em um grande elevado.

Lá está o minhocão na capital paulista,
onde passam por cima dele despercebidos.
Agora, querem destruí-lo por também ser temido.

E se este dia chegar, aí sim, o minhocão será lenda.

 

Em primeiro lugar, e como grande vencedor deste I Concurso de Poesia Mitologia.pt, o poema O Peso dos Céus, da autoria de William Rocha Maximino de Oliveira, sobre o mito de Atlas. O seu prémio foi entregue à Casa da Criança, em Duque de Caxias, Brasil:

Sobre os ombros de Atlas, curvados,
Recai o céu em seu infinito fardo,
Um jugo que o tempo jamais alivia,
Um castigo sem termo, implacável.
Rochas nascidas da sua carne,
Pedra e pele fundem-se em dor,
O titã, que à terra se abraça,
Sustenta o mundo, que nele se crava.
Hércules, com a pele de leão cingida,
Toma por um instante o peso colossal,
Mas o fardo, eterno e imutável,
Regressa àquele que foi destinado.
Atlas, condenado à rocha e ao céu,
Seu nome ecoa entre estrelas e montes,
Guardião de um firmamento incansável,
Que as eras insistem em conservar.
Mas em cada fissura, cada gretadura,
Esconde-se o saber do universo,
Nas estrelas que ele contempla,
Nos segredos que jamais se revelam.

 

Esperamos que todos tenham gostado deste I Concurso de Poesia Mitologia.pt , e fica prometido que, se tudo correr bem e como planeado, daqui a mais algum tempo teremos uma segunda edição!

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02 de Setembro, 2024

Cinco perguntas a... #1- "Free-Range Kara"

Começamos hoje uma nova coluna que já vínhamos pensando há alguns meses, e que passa por colocar cinco perguntas a pessoas pelo mundo fora que fomos sentindo que têm uma boa história para contar - e pelo menos uma dessas cinco terá de nos levar aos mitos e lendas que a pessoa conhece, até pelo contexto de realização da entrevista. Nesse seguimento, para esta primeira edição entrevistamos então uma lutadora de Wrestling - ou "luta livre americana", como também se diz em Portugal - dos Estados Unidos da América, que é actualmente conhecida no ringue pelo nome de "Free-Range Kara". A entrevista foi conduzida em Inglês, mas é aqui apresentada em tradução portuguesa para que todos os leitores a possam ler sem quaisquer dificuldades:

Cinco perguntas a... #1- "Free-Range Kara"

1-- Se alguém se aproximasse de ti na rua e te perguntasse quem é a Kara, como te definirias e o que fazes na vida?

Descrever-me-ia como uma pessoa trabalhadora, que está sempre à procura de melhorar o mundo. Às vezes sou optimista em excesso e tento sempre ver o lado positivo das situações. Também sou uma grande brincalhona e adoro fazer as pessoas à minha volta rir.


2-- O Wrestling profissional não é muito popular em Portugal (pelo que sabemos, há apenas uma escola cá e eventos muito limitados). Como é que a jovem Kara um dia decidiu tornar-se lutadora profissional, acabando por se tornar "Flame Keeper" Kara Noia, depois "Free-Range Kara", e até obteve um finisher [i.e. uma espécie de golpe letal] chamado "Pele Kick" (que presumimos ter o nome inspirado no famoso jogador de futebol brasileiro)?

A minha decisão de me tornar lutadora profissional foi um caso de estar no lugar certo na altura certa. Foi no Verão do meu penúltimo ano na faculdade, e eu tinha dois dias entre o fim do meu primeiro estágio de Verão e o início do meu segundo estágio. A minha promoção local de wrestling favorita estava a oferecer um seminário por 20 dólares, e então decidi experimentar. Apaixonei-me instantaneamente por estar no ringue e, após mais alguns seminários na minha promoção local, decidi que iria começar a treinar oficialmente. Depois da faculdade, mudei-me para o Minnesota e comecei a treinar wrestling pouco depois.
"The Flame Keeper" Kara Noia foi a minha primeira personagem no wrestling. Escolhi o nome "Flame Keeper" porque era a única mulher na minha área, então estava sozinha, a manter o wrestling feminino vivo. Quando a COVID-19 atingiu, decidi que precisava de mudar o que estava a fazer e, ao olhar para os meus anos a crescer na quinta para me inspirar, "Free-Range Kara" foi o passo natural seguinte. O Pele Kick foi um movimento que fez a transição comigo. Foi um dos meus primeiros finishers, e ainda o uso regularmente para atordoar os meus oponentes.


3-- Em Portugal, se perguntares às pessoas sobre o Wrestling, muitas vezes dirão que "o Wrestling é falso". Argumentaríamos, em vez disso, que tem resultados predeterminados, mas o que acontece no ringue é real, numa espécie de peça física de teatro. Neste contexto, claro que um mágico não pode revelar os seus truques, mas se tivesses que enfrentar, por exemplo, John Cena num combate em que és obrigada a vencer, o que imaginarias que aconteceria?

Dizer que o Wrestling é falso é semelhante a dizer que os filmes e as séries de televisão são falsos. Todos eles são formas de entretenimento, mas o Wrestling é diferente no aspeto em que realmente colocamos os nossos corpos em risco para entreter o público. Enquanto os filmes e as séries têm duplos e repetições, os body slams doem e todas as nossas actuações são ao vivo e em pessoa. Embora as duas pessoas a lutar no combate possam nem se odiar na vida real, ainda assim estão determinadas a dar o melhor combate possível. Se eu tivesse que enfrentar o John Cena num combate em que tivesse que ganhar, imagino que basearíamos a maior parte do combate na vantagem de altura e peso do Cena, ao mesmo tempo que jogávamos com a dinâmica homem vs. mulher.


4-- Mas não és apenas uma lutadora, publicas muito conteúdo online, como pode ser visto no teu Linktr.ee. Ocasionalmente, contas histórias relacionadas com a tua vida, tanto dentro como fora do ringue. O que te inspira geralmente a contar uma história específica, em vez de uma outra?

Sim, adoro contar histórias! Mais frequentemente, as histórias que partilho estão relacionadas com o que está a acontecer na minha vida naquele momento. Outras vezes, estou a relembrar combates passados e quero partilhar os bastidores sobre o que estava realmente a acontecer entre as cordas.


5-- Então, podes contar-nos um mito ou lenda local do lugar onde cresceste, um que a maioria das pessoas fora da tua área certamente não conhece?

No Dakota do Norte [i.e. nos EUA], o maior corpo de água natural chama-se Devil's Lake. Diz-se que lá reside um monstro marinho semelhante ao Monstro de Loch Ness. É descrito como tendo 80 pés de comprimento, com uma mandíbula de crocodilo e olhos vermelhos brilhantes. Foi documentado pela primeira vez em 1894. Os relatos dos Nativos Americanos acreditam que o Monstro de Devil's Lake ficou preso no lago depois da última retirada dos glaciares, uma vez que Devil's Lake está desligado do oceano e não tem uma saída natural.

 

Muito obrigado à simpatiquíssima Kara por esta entrevista, que nos permitiu a todos não só compreender um pouco mais sobre o Wrestling na primeira pessoa, mas também ler uma lenda americana que provavelmente os leitores nem imaginavam existir. Obrigado a todos, e esperamos que os leitores venham a gostar das futuras entrevistas que venham a surgir nesta nova coluna!

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