Se estamos na altura do Natal, achámos que seria apropriado tentar entrevistar o Pai Natal, aquela figura com origem no São Nicolau da Antiguidade. Nesse sentido, seria muito fácil criar uma versão fictícia de um possível diálogo entre nós, como já tantas outras pessoas fizeram antes, mas em alternativa a isso queríamos era fazer algo muito mais real. Queríamos falar com alguém que nos pudesse contar como é a experiência de um Pai Natal dos nossos dias, de uma daquelas figuras parcialmente anónimas que por esta altura podemos ver aqui e ali. Elas são de carne e osso, e então decidimos que queríamos entrevistar uma delas. O que se seguiu foi um processo quase maçónico, repleto de múltiplos secretismos que não podemos divulgar aqui, mas lá conseguimos encontrar um representante da classe disposto a responder-nos a cinco perguntas, sob completa anonimidade (a imagem abaixo é meramente ilustrativa). Sentámo-nos num café e as seguintes perguntas e respostas tiveram lugar:
1- Como é que uma pessoa se torna um Pai Natal de Centro Comercial?
Ser Pai Natal de um Centro Comercial não é algo que se decida de um dia para o outro, sabia? Normalmente, começa com um recrutamento feito pelo próprio centro comercial ou por empresas especializadas em eventos natalícios. Eles procuram pessoas com uma certa personalidade - amistosas, pacientes e que saibam lidar bem com crianças e adultos.
Depois disso, há um treino. Pode parecer simples, mas ser Pai Natal exige dedicação! Ensina-se a postura, como falar de uma forma amistosa, e até como lidar com perguntas mais difíceis, como "Por que é que há tantos Pais Natais no shopping?" ou "Pai Natal, o que aconteceu com o meu presente no ano passado?" É preciso muita criatividade!
Outro ponto essencial é a caracterização: uma boa barba, um fato impecável e aquele "oh oh oh" que tem de vir do coração. Alguns de nós até investem em barbas reais para dar mais autenticidade! Normalmente, é uma mistura de amor ao Natal e uma vontade de espalhar alegria que leva alguém a abraçar este papel mágico.
2- Trata-se, portanto, de um papel sazonal. O que fazem no resto do ano?
Exactamente, é um papel sazonal, mas isso não significa que ficamos a descansar na Lapónia durante o ano! No resto do tempo, muitos de nós têm outras profissões ou ocupações. Alguns são actores, animadores ou educadores que utilizam as suas habilidades para trabalhar em eventos, festas e até espetáculos. Outros têm trabalhos completamente diferentes — desde escritórios, até profissões de âmbito muito mais técnico, veterinários, etc.!
3- Mas então, enquanto Pai Natal, certamente que recebe muitos pedidos de crianças e jovens. Qual foi o mais bonito e o mais triste até hoje?
É verdade, recebo todo o tipo de pedidos, e cada um deles carrega um pedacinho da alma de quem o faz. Alguns fazem rir, outros tocam profundamente o coração deste velho barbudo. Vou partilhar dois momentos que nunca esquecerei.
O pedido mais bonito veio de uma menina, talvez com uns sete ou oito anos. Ela sentou-se no meu colo, olhou-me nos olhos e disse:
"Pai Natal, este ano não quero brinquedos. Só quero que o meu irmão volte a andar para que possamos brincar juntos no parque."
O irmão tinha sofrido um acidente, e ela, em vez de pensar em si mesma, só queria vê-lo feliz outra vez. A pureza daquele desejo encheu-me o coração e, confesso, tive de engolir as lágrimas para não estragar a magia do momento.
Já o pedido mais triste foi de um rapazinho de uns 10 anos. Ele disse baixinho:
"Pai Natal, podes trazer o meu pai de volta para o Natal? A minha mãe diz que ele está muito longe, mas eu acho que tu consegues."
Percebi rapidamente que o pai tinha falecido, mas o menino ainda não entendia bem o que isso significava. Foi um daqueles momentos em que o meu coração pesou como uma bigorna. Tudo o que pude fazer foi dar-lhe um grande abraço, dizer que o amor do pai dele nunca o deixaria e que ele era muito corajoso por fazer um pedido tão importante.
Estes momentos mostram-nos que o papel do Pai Natal vai muito além de distribuir sorrisos e presentes. É estar lá para ouvir, confortar e espalhar um pouco de esperança, mesmo nas situações mais difíceis.
4- Essas respostas mostram um pouco de um Natal que não é a dos presentes físicos e do consumismo hoje tão habitual, mas do nascimento de Jesus Cristo. Em termos mais religiosos, como é que essa face do Natal tem impacto no papel da figura que representa?
Essa é uma pergunta profunda e muito importante! O Natal, no seu sentido mais puro, celebra o amor, a esperança e a renovação que vêm com o nascimento de Jesus Cristo. Como Pai Natal, apesar de muitas vezes estar associado aos presentes e ao consumismo, tento sempre refletir esses valores mais espirituais e universais no meu papel.
Sabe, muitas crianças e até adultos vêm falar comigo não apenas de brinquedos, mas de coisas que têm a ver com a união da família, com a paz, e até com as suas preocupações mais pessoais. Esses momentos trazem-nos de volta à essência do Natal — a ideia de dar sem esperar nada em troca, de olhar para o outro com compaixão e de acreditar em algo maior, seja Deus, seja o amor ao próximo.
A figura do Pai Natal, apesar de moderna, carrega raízes que vêm de São Nicolau, um santo conhecido pela sua generosidade e pelo cuidado com os mais necessitados. Penso muito nisso quando estou no meu "trono", com crianças e famílias à minha volta. Procuro ser não apenas uma figura de alegria, mas também de conforto e inspiração, transmitindo os valores que o Natal nos ensina: bondade, perdão, solidariedade.
Muitas vezes, quando me perguntam por que razão celebramos o Natal, aproveito para lembrar, de forma simples e acessível, que é o aniversário de Jesus, aquele que nos trouxe o maior presente de todos: o amor incondicional. Não é algo que digo com sermões ou discursos longos, mas com gestos, palavras de carinho e atenção. No fundo, o Pai Natal pode ser uma ponte entre o que é material e o que é espiritual, ajudando as pessoas a lembrarem-se do que realmente importa. Oh oh oh! Que bela reflexão!
5- "Bela reflexão", é verdade! Mas então... para terminar, poderia contar-nos três mitos ou lendas associados ao Natal que tenha ouvido no decurso do seu papel?
Claro que sim! Ao longo dos anos como Pai Natal, ouvi tantas histórias que poderia escrever um livro! Mas vou escolher três lendas que acho particularmente bonitas e que refletem o espírito do Natal de formas diferentes.
Esta lenda vem da Europa de Leste, especialmente da Ucrânia. Diz-se que uma família muito pobre limpou a casa inteira antes do Natal, mas, infelizmente, não tinha como decorar a árvore. Durante a noite, enquanto dormiam, as aranhas que viviam na casa desceram e cobriram a árvore com as suas teias. Na manhã de Natal, quando o sol nasceu, os raios transformaram as teias em fios dourados e prateados, como se fossem ornamentos mágicos. É por isso que, em algumas culturas, as pessoas colocam ornamentos de aranha ou teias brilhantes nas árvores, como símbolo de sorte e de bênçãos inesperadas. [Esta mesma lenda já aqui foi contada antes.]
Uma história menos conhecida mas muito tocante vem de um aldeão que tinha perdido tudo num incêndio pouco antes do Natal. Sem família e sem nada para comemorar, ele sentou-se ao lado da sua lareira fria e rezou. Durante a noite, diz-se que um viajante misterioso chegou e deixou uma pequena pilha de lenha à porta. Quando o aldeão acordou e acendeu a lareira, encontrou, entre as chamas, uma pequena caixa de madeira. Dentro estava uma mensagem: "O calor do teu coração iluminará o mundo." Inspirado por isso, ele passou o resto da vida ajudando os necessitados, tornando-se uma lenda local de bondade natalícia.
Este é um mito que mistura a tradição cristã com a imaginação popular. Conta-se que, na noite do nascimento de Jesus, o burro que acompanhava Maria ficou tão comovido com o evento que começou a cantarolar suavemente para embalar o Menino. É por isso que, em algumas culturas, se diz que os burros têm uma ligação especial com o Natal. Além disso, há uma crença de que a cruz nas costas de muitos burros é uma bênção divina por terem levado Maria e o Menino em segurança. [Já aqui contamos outra lenda sobre este mesmo burro.]
Estas lendas mostram como o Natal está envolto em magia, simbolismo e fé. E, enquanto Pai Natal, adoro ouvir as versões locais ou pessoais que as pessoas trazem. Afinal, as histórias são o que tornam o Natal ainda mais especial! Oh oh oh!
Muito obrigado, "Pai Natal", pelo tempo disponibilizado para estas cinco perguntas! Sentimos que foi muito interessante, esta possível entrevista com um Pai Natal de Centro Comercial, e esperamos que os leitores também tenham gostado dela. Ainda não iremos "desaparecer" até ao fim do ano, deixe-se claro, mas ainda assim queríamos aproveitar esta oportunidade singular para desejar já um Bom Natal a todos aqueles que nos vão lendo ao longo do tempo! :)