"A Atlântida", de Jacint Verdaguer
A Atlântida, de Jacint Verdaguer, é um daqueles poemas que poucos conhecerão fora do seu país natal, até porque foi originalmente escrito em Catalão já em finais do século XIX. É um poema curioso, não tanto pela sua forma, ou mesmo pelo conteúdo directo dos seus versos, mas pela sua trama geral, que levou a esta referência que lhe fazemos aqui.
A trama começa então com um Cristóvão Colombo naufragado, a quem um misterioso asceta decide contar uma história de outros tempos, tentando distraí-lo do acidente por que passou. Conta-lhe então uma mistura de mitos da Antiguidade, em que a história platónica da destruição da Atlântida se associa à passagem de Hércules pelo território de Espanha e ao afastamento dos chamados "Pilares de Hércules". Para unir esses três grandes temas, o autor recorre não somente a mitos bem conhecidos da Antiguidade, mas também a diversas inovações que nascem somente da sua própria imaginação, o que até poderia ser interessante, não fosse o facto de elas suscitarem repetidamente um conjunto de questões que ficam sempre sem resposta.
Por exemplo, num dado instante do poema Hércules afasta os seus famosos pilares, formando o Mar Mediterrâneo pela primeira vez. Poderia parecer-nos uma ideia digna de ser longamente homenageada, mas é aqui tratado como um momento quase menor; ao mesmo tempo, a esse instante segue-se um em que diversas recém-formadas ilhas do Mediterrâneo discursam em voz individual. Num outro instante, a destruição da Atlântida - que, dado o nome do poema, nos poderia parecer o seu maior foco - vai sendo tratada aqui e ali, mas sem algum instante particularmente notável, digno de uma nota de maior.
A ideia por detrás da trama do poema é, sem qualquer dúvida, intrigante - na história de enquadramento, Cristóvão Colombo até se sente inspirado por ela para partir em busca de novas terras - mas o tratamento que lhe é dado raramente consegue cativar o leitor por mais que uns breves instantes. Em vez disso, as três histórias principais vão-se entrelaçando aqui e ali, mas sem que existam momentos dignos de maior nota. Por isso, talvez esta poema mereça ser lido por mera curiosidade cultural, e pouco mais.