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Mitologia em Português

24 de Janeiro, 2024

A Biblioteca de Alexandria e a sua derradeira lenda

Claro que existem diversas lendas associadas à Biblioteca de Alexandria, algumas mais conhecidas do que outras, mas hoje decidimos aqui trazer aquela que é provavelmente a mais famosa dos nossos dias. Segundo ela, quando os Muçulmanos conquistaram a cidade de Alexandria, em meados do século VII, encontraram-na repleta de livros, como é natural, mas não sabiam o que fazer com eles. Isso levou a uma ideia, hoje macabra, de que os deviam destruir a todos, porque se o seu conteúdo confirmava a mensagem do Corão não eram necessários, e se de alguma forma se opunha a este não merecia continuar a existir. E estes "factos" contam-se muito hoje em dia, mas a verdadeira questão para o tema de hoje é... será que esta história anti-muçulmana tem algum fundo de verdade, ou trata-se apenas e somente de uma pura lenda?

A derradeira lenda da Biblioteca de Alexandria

Partimos em busca da origem dessa história ligada à Biblioteca de Alexandria e encontrámos aquela que parece ser a mais antiga versão do episódio, na qual é dita que o comandante islâmico responsável por este eventos foi um tal Amr ibn al-As, que faleceu por volta do ano de 664. Quando um dado religioso cristão - talvez o teólogo João de Cesareia? - lhe pediu para ficar com todos os antigos livros encontrados na cidade, diz a tradição que ele recebeu a famosa resposta que já reproduzimos acima. O que, a uma primeira vista, poderia parecer confirmar que todo o relato até tem um fundo de verdade, mas... esta história só nos chegou por intermédio de Gregório Bar Hebraeus, um autor nascido no século XIII, ou seja, quase 600 anos depois da altura em que os eventos em questão supostamente tiveram lugar.

 

Para que se compreenda o estranho da situação, bastará pensar-se que há 600 anos atrás os Portugueses ainda não tinham chegado ao Brasil. Se nos chegasse uma história real que teve lugar nessa altura, mas que por uma qualquer razão não aparece atestada em qualquer fonte literária, seria difícil acreditarmos na sua veracidade... e o mesmo se aplica neste caso! Se, durante mais de meio milénio, ninguém atestou que aqueles eventos tomaram mesmo lugar, é no mínimo estranho que Gregório Bar Hebraeus ainda pudesse estar a apresentar algo que verdadeiramente tomou lugar na Biblioteca de Alexandria muitos séculos antes. E, como tal, podemos falar de toda esta famosa história como se tratando de uma verdadeira lenda, cujo potencial fundo de verdade já há muito se perdeu...

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