A breve história de Zhu Bajie
De entre as personagens da famosa obra chinesa Jornada ao Oeste, é irrefutável que a mais famosa de todas elas é Sun Wukong, o Rei Macaco. É ele que resolve, directa ou indirectamente, muitos dos conflitos guerreiros da obra, e que vai protegendo o monge Xuanzang na sua busca pelas escrituras budistas da Índia. Mas esses dois heróis não vão viajando sós, também são acompanhados por um cavalo e por Sha Wujing e Zhu Bajie. É deste último, provavelmente o mais interessante dos três por não se inserir no paradigma habitual de um herói, de que aqui decidimos falar hoje.
Como é possível ver na imagem acima, Zhu Bajie é normalmente representado como um homem gordo, com cabeça de porco, e que usa como arma um ancinho de nove simbólicas pontas. Não tem um aspecto lá muito ameaçador, ideia que se confirma na própria Jornada ao Oeste - ele é uma espécie de comic relief, que ao longo das aventuras parece ir causando muito mais problemas do que aqueles que alguma vez resolve, fruto do seu carácter completamente guloso, preguiçoso e cheio de luxúria. Em diversos momentos até considera abandonar toda a aventura para casar com uma das muitas belas mulheres que os heróis vão encontrando, sendo em dada aventura até capturado por uma dessas monstruosas figuras femininas. E se combate, aqui e ali, fá-lo com muito menos efeito ou proezas do que os seus outros companheiros... o que se reflete no final da obra, em que, fruto da sua natureza ainda muito animalesca, recebe uma recompensa muito inferior à dos seus colegas de caminho.
Apesar da sua pança, este Zhu Bajie não é, de todo, uma figura como o nosso "buda gordo". É uma espécie de personificação das fraquezas humanas, uma figura quase oposta ao Rei dos Macacos, que por vezes parece que estaria melhor em sua casa, afastado de qualquer viagem, do que em qualquer uma das várias tarefas que lhe vão sendo atribuídas, e que tende mesmo a falhar em diversos casos. O que é curioso, porque se Sha Wujing já aparece em versões da história datáveis do século XIII, em que era então apenas um dos muitos inimigos que vão sendo encontrados pelos heróis (mas não se junta ao seu séquito, mesmo após ser derrotado), já esta outra figura parece ser uma completa inovação da obra de Wu Cheng'en, quase certamente para fazer rir o leitor com as tontices que vai fazendo, ou mesmo pelo contraste dos seus apetites terrenos com o cáracter mais elevado dos companheiros...