"A Canção de Aquiles", de Madeline Miller
A Canção de Aquiles, também conhecida por O Canto de Aquiles, da autoria de Madeline Miller, é um daqueles livros que tem os seus pontos positivos e negativos. Por um lado, ele traz uma versão da Guerra de Tróia para os nossos dias, construindo uma trama que tem por herói Pátroclo e por pano de fundo a paixão deste pelo herói titular. Por outro, existem alguns aspecto da obra que podem desiludir quem já conheço, ou quer vir a conhecer bem, essa guerra.
Uma edição em português, cuja capa reproduzimos acima, define sucintamente esta obra como "Uma releitura da Ilíada, em que a glória de um semideus encontra o amor de um príncipe". Repita-se, portanto, que é mesmo essa a grande ideia por detrás do texto, uma adaptação do famoso poema de Homero para dar mais ênfase ao amor de Pátroclo por Aquiles. E, de facto, A Canção de Aquiles faz isso mesmo, mas quem já conhecer a história acabará por se deparar com um problema curioso - a autora conta a história readaptando as informações dos Poemas Homéricos, mas para o fazer esquece a existência de outros textos, o que a leva a ter de comprimir muito a trama em alguns pontos. Por exemplo, os primeiros anos da guerra não falam nem da belíssima história de Protesilau, nem de Palamedes, e mesmo a aventura com o jovem Troilo, que ficaria muito bem na trama, é aqui reduzida a quase nada. E isso, queiramos ou não, só pode desiludir quem procure algo mais informativo.
Depois, A Canção de Aquiles pode ser resumida em dois momentos. O primeiro tem lugar até à morte da personagem principal, Pátroclo (e isto não conta propriamente como um "spoiler"...). O segundo, que na edição a que tivemos acesso ocupa menos de 50 páginas, resume de forma muitíssimo breve todo o resto da Guerra de Tróia, ora trocando a ordem de alguns eventos, ora aproveitando muito mal algumas belas oportunidades que vão tendo lugar pelo caminho - como acontece quando refere os mitos de Mémnon e Pentesileia... o que é mesmo uma pena, porque sendo então Aquiles já a personagem principal, o primeiro poderia recordá-lo da sua mortalidade, e a segunda podia ter levado a um conjunto de considerações sobre a natureza do amor que não são aproveitas.
Quer isto dizer que a A Canção de Aquiles (ou O Canto de Aquiles, ou The Song of Achilles), é uma obra má? Não, não é verdade. Encontrámos vários leitores e leitoras que gostaram dela, mas pode é ser definida como uma adaptação da Guerra de Tróia para quem quer uma trama mais simples, sem um Catálogo de Navios e coisas semelhantes, e com alguns momentos românticos. É, portanto, uma obra sobre Mitologia Grega para quem percebe pouco do tema, e que nessa tentativa de o simplificar, acaba também por perder boas oportunidades de mostrar aos leitores temas com que estes raramente se iriam deparar, como a potencial paixão do herói por Troilo, que fora das Clássicas poucos conhecem.