A estranha metamorfose de Francisco e Jacinta, pastorinhos de Fátima
O Milagre de Fátima - Parte II
Como ontem foi dito, quando Lúcia escreveu as suas memórias os seus companheiros Francisco e Jacinta já há muito que tinham falecido, e só eles poderiam atestar muitas das informações que ela nos deixou por escrito. Nesse sentido, o livro das Memórias da Irmã Lúcia dedica uma parte significativa das suas linhas ao carácter e eventos que tiveram lugar com estes dois irmãos. Os meninos são descritos de uma dada forma, depois surge um momento de charneira, e depois passam a ser descritos de forma significativamente diferente.
Que momento foi esse? Estranhamente, não foi a aparição de Nossa Senhora, mas um conjunto de aparições anteriores a essas. Lúcia foi vendo um anjo; depois, numa manhã de chuva, ela, acompanhada por Francisco e Jacinta, viram e falaram com o Anjo da Paz (ou Anjo de Portugal). Por três vezes o fizeram, e no final dessa terceira aparição surgiu-lhes um prodígio, em que o mesmo anjo lhes apresentou uma hóstia e um cálice com sangue; Lúcia come a primeira (porque já tinha feito a simbólica primeira comunhão), enquanto que os dois irmãos bebem do cálice.
Jacinta, antes uma rapariga invejosa e que não sabia perder aos jogos, parece depois mostrar-se preocupada com quem sofre. Francisco, antes um menino indeciso, mostra-se posteriormente uma figura muito contemplativa. De um ponto de vista da Psicologia, a ter verdadeiramente lugar uma tal metamorfose, "algo" se terá passado com eles, algo que para eles foi muito significativo.
O caso de Francisco é particularmente intrigante. De uma forma muito secundária é-nos dito que ele presenciava as várias aparições, mas não conseguia ouvir nada do que era dito (e Jacinta ouvia-as com alguma dificuldade...), restando ás duas meninas contarem-lhe posteriormente essa informação. Até ouvimos diversas teorias sobre o porquê de isto acontecer, mas a verdade é que o livro nunca o explica! Talvez assim se compreenda ele ter "chumbado" no exame da catequese - aparentemente, nem a cunha de ter visto a Mãe de Deus com os seus próprios olhos conta perante a Igreja dos nossos dias...
Num outro momento, enquanto deambulam por alguns barrancos, Francisco põe-se a gritar. As meninas encontram-no, pouco depois, "a tremer de medo, ainda de joelhos, que, aflito, nem arte tinha para se pôr de pé". Porquê? Responde-lhes com as seguintes palavras - "Era um daqueles bichos grandes, que estavam no Inferno, que estava aqui a deitar lume." Seria uma brincadeira de criança, uma fantasia infantil como tantas dos nossos dias? Já não temos forma de o saber, e com uma única fonte para todo esse evento torna-se difícil conseguir sintetizar onde termina a sua realidade e começa a ficção. Como tal, para amanhã considere-se um outro caso, até de grande importância para todo este tema.