A história de Kate Shelley
Se existem mitos e lendas, ocorrências como as associadas a esta Kate Shelley podem e devem é ser chamadas de histórias. Isto porque dar-lhes esses dois primeiros nomes poderia indicar, de forma ingloriamente falsa, que o relatado aqui hoje possa ter tido pelo menos um instante ficcional, ou de uma qualquer dúvida, quando até se sabe que tudo isto é pura e simples realidade. Por isso, e também porque a sua história parece ser muito pouco conhecida fora do país em que teve lugar, decidimos recordá-la aqui hoje.
Kate Shelley nasceu na Irlanda a 12 de Dezembro de 1863. Mais tarde emigrou para os Estados Unidos, onde os seus pais e ela própria acabaram por ir viver em Worth Township, no estado do Iowa. Depois, no dia 6 de Julho de 1881, um rio local, o Honey Creek, sofreu uma cheia, o que levou a uma destruição parcial de uma ponte ferroviária, na qual vieram a cair ao rio, durante essa noite, quatro homens. Esta senhora encontrou dois deles (o corpo falecido de um terceiro viria a ser encontrado posteriormente), mas, de repente, lembrou-se que um comboio de passageiros se aproximava em poucas horas. Em vez de voltar para casa e passar uma noite confortável, esta Kate Shelley gatinhou pelos restos da ponte e caminhou durante alguns minutos até chegar a um local onde pôde, finalmente, fazer soar um alarme. Para terminar, ajudou até a salvar os dois homens, divulgando a sua localização. Por todas estas acções ela conseguiu que um comboio de passageiros, em que seguiam cerca de 200 pessoas, não caísse ao rio, e por isso acabou por ser muito bem recompensada ao longo dos anos que se seguiram.
Hoje, passado até já mais de um século, quem for a Boone, no estado do Iowa, poderá aí encontrar, a cerca de 15 minutos de carro, a chamada Kate Shelley High Bridge, mesmo ao lado da antiga ponte - reconstruida depois daqueles eventos, como é evidente - em que tudo isto teve lugar. Talvez não nos importe muito, neste outro lado do oceano, mas há sempre que admitir que 200 vidas são 200 vidas, e pondo a sua própria em evidente perigo, esta senhora foi a responsável pela salvação de todos esses viajantes. E, por isso, recordamos-la aqui hoje, com este breve relato das razões que a tornaram famosa, tão pouco conhecido entre os Portugueses.