A história do Navio de Teseu
Se hoje aqui falamos sobre o navio de Teseu, há que começar por explicar que não se trata de um mito ou lenda que fosse contado em tempos da Antiguidade. Em alternativa, é uma espécie de metáfora filosófica levantada por diversos pensadores desses tempos, mas que ainda se mantém bastante actual hoje em dia. Por isso, e como é hábito, comece-se por relatar, de uma forma abreviada, a trama que envolve toda esta questão.
É provável que o navio de Teseu, juntamente com a Argo - o navio dos Argonautas - tenha sido um dos mais famosos dos mitos da Antiguidade. Quando o famoso herói derrotou o Minotauro e depois regressou a casa, o navio em que tinha viajado tornou-se tão conhecido que as pessoas da altura o quiseram ver. Isso nada tem de invulgar, ainda hoje acontece, mas depois os anos, as décadas, os séculos, foram passando, e o navio original foi envelhecendo. Começou até a cair aos pedaços... e então, sentiu-se a necessidade de o renovar, de tentar garantir que o então-famoso transporte do viajante não se perdia. Se uma tábua já estava a apodrecer, foi substituída por uma outra; se as velas já estavam cheias de buracos, foram substituídas por novas; e assim por diante, tendo algum cuidado de guardar o que era substituído...
De um ponto de vista filosófico, isto pode levantar uma grande questão. E fê-lo, de facto - quando é que este navio deixa de ser aquele que transportou Teseu? Se, uma a uma, todas as suas tábuas antigas fossem substituídas por novas, quando é que ele deixa de ser o navio original, para se tornar algo diferente? Em que instante preciso é que algo que já existe se transforma em algo completamente novo? Ou, se preferirmos adaptar tudo isto aos nossos dias, imagine-se que mudamos o frigorífico lá de casa; é claro que a cozinha continua a ser a nossa, em nossa casa, mas se formos sucessivamente substituíndo todas as partes da mesma divisão - o fogão, o forno, o micro-ondas, os azulejos, etc. - quando é que ela deixa de ser a "nossa" cozinha para se tornar uma completamente diferente, que provavelmente já nem conseguimos reconhecer?
A história do Navio de Teseu leva-nos, sem muitas dúvidas, a pensar neste problema de ordem filosófica, o problema significativo da identidade das coisas. Não há, para quem estiver a pensar nisso, uma resposta correcta, mas sim todo um conjunto de opiniões que foram surgindo ao longo dos séculos, e que se tratam exclusivamente disso mesmo, pura e simplesmente de opiniões e nada mais. Uma potencial resposta, essa, é para ser debatida por cada um de nós...