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Mitologia em Português

11 de Novembro, 2024

A incomum lenda de Le Loyon, a figura mitológica que se suicidou

A lenda de Le Loyon, também conhecida como a do Fantasma de Maules, em função de um bosque suíço em que aparecia, é quase de "ontem à tarde". Trata-se de uma história, supostamente bem real, que teve lugar entre, mais ou menos, os anos de 1990 e 2013. É essa data final que aqui tem até um interesse muito especial, porque é muito raro saber-se quando é que uma lenda morre, mas neste caso específico até foi possível sabê-lo, em virtude de um conjunto de circunstâncias muito singulares - mas já lá iremos, não se apressem as coisas!

A Lenda de Le Loyon

Conta-se então que Le Loyon era uma estranha figura que podia ser vista pontualmente na floresta de Maules, no cantão de Friburgo, Suíça. Tinha quase dois metros de altura, e usava constantemente uma capa da camuflagem e uma espécie de máscara de gás na cara. Nunca ninguém falou com esta figura, mas pelo menos alguns locais conseguiram vê-la de perto, e eventualmente uma dessas pessoas conseguiu tirar uma fotografia deste... "ser", seja ele humano ou algo mais, virado de costas para a câmara. Depois, em Setembro de 2013, essa fotografia - reproduzida ali em cima - foi publicada num jornal local, o Le Matin. Meses depois foi encontrado, próximo de um oratório nesta floresta, as respectivas máscaras e capa, juntamente com uma carta de despedida, que tanto quanto foi possível apurar nunca apareceu traduzida até este momento:

Certidão de óbito e testamento do Fantasma de Maules

Querido pseudo Patrick do [Jornal Le] Matin, não só és um idiota (Larousse: pessoa estúpida, tola), mas também és, acima de tudo, um assassino.
Assassinaste um ser inofensivo, que encontrava nas suas caminhadas uma verdadeira terapia de felicidade, um renovamento cerebral que lhe permitia enfrentar as responsabilidades e as vicissitudes do seu quotidiano - e ele tinha bastantes!
O Fantasma não usava máscara apenas para celebrar a felicidade, mas parece que tu não conheces [Leopold von] Sacher-Masoch [*], caso contrário perceberias que é preciso de tudo para fazer um mundo.

Além disso, és um assassino bem pouco liberal.
A ouvir-te, voltamos à Idade Média, ao tempo das bruxas. Porque não te opões a esses filmes cruéis, a destruições e a capuzes, rostos ocultos, daqueles que, ao que parece, matam para nos dar lições, mas que, segundo tu, cometem uma infração!
Permitem-se as tropas a reunir-se em frente ao pequeno Oratório, para pedir um mundo melhor? Eu aterrorizei-as estando nas sombras? Nem sempre é pelas atrocidades e crimes que as pessoas relaxam, seja na televisão ou nos meios de comunicação!

Quem é que ajusta o botão da Tolerância e Liberdade atrás deste episódio? Estas belas noções beneficiam mais os denunciadores, prevenidos, drogados, violadores e hooligans!
A Suíça é pequena, tudo o que não está em conformidade com o ninho deve ser erradicado.
Espero, durante estes anos, ter sempre tido paz, até hoje. Tive sentimentos de dedicação, por isso anuncio a prova contrária, naturalmente.

O Fantasma desaparece, o risco de uma caça à besta não será demasiado grande. Voltará para assombrar os vigilantes espíritas da nossa espécie, porque, no final, um fantasma nunca morre.

À amável passeante ou ao caçador de cogumelos que descobrir os meus trapos:
"Por favor, entregue ao Senhor Presidente da Câmara ou Vice-Presidente, ou até a um jornalista, capaz de discursar sobre Liberdade e Tolerância.
(alguém sensato, claro! O jornalista do Matin entenderá... talvez!)"

Este testamento tem o seu quê de triste, por demonstrar que Le Loyon era provavelmente apenas uma pessoa hoje desconhecida, mas com uma certa cultura, que, por uma qualquer razão igualmente desconhecida, deambulava pelas florestas locais com este seu estranho disfarce. Face à exposição mediática, teve então de desaparecer, para não tornar a ser encontrado por mais ninguém. Como que morreu, numa espécie de verdadeiro suicídio que deu título à sua carta... e então, nada mais sabemos sobre esta figura meio-lendária, meio-real, com excepção do que alguns breves relatos e uma sua carta nos deixou por escrito.

 

Ao mesmo tempo, há algo de profundamente fascinante na carta de Le Loyon, ou deste "Fantasma de Maules", como preferirem. É, tanto quanto nos conseguimos recordar, um caso raríssimo de um "suícidio" entre figuras supostamente lendárias. Se criaturas como o Amabie tiveram um início, um meio e um fim, e outras foram criadas por motivos de ficção (como é o caso de Teresa Fidalgo, o fantasma de Sintra), não conseguimos, verdadeiramente, recordar nenhum outro caso em que uma figura desta natureza se tenha despedido antes de desaparecer...

 

*- Este Leopold von Sacher-Masoch viveu no século XIX e escreveu diversos livros de ficção, mas é hoje provavelmente mais conhecido por ter emprestado, aparentemente sem qualquer permissão, o seu nome ao "Masoquismo". Mas isso já é uma história para outro dia!

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