A lenda da Batalha de Valverde
Se já cá falámos antes sobre Nuno Álvares Pereira, o Condestável, seja através da sua importância na cultura portuguesa, em algumas lendas nacionais, ou em ligação com Aljubarrota, a lenda da Batalha de Valverde mostra-nos igualmente bem o seu carácter. É uma história bastante pequenina, mas nem por isso menos digna de nota, razão pela qual decidimos recordá-la aqui hoje.
Conta-se então que a 14 de Outubro de 1385 Nuno Álvares Pereira e o seu exército se encontraram envolvidos em mais uma batalha contra os Castelhanos. Nesta, que ficou conhecida sob o nome geral de Batalha de Valverde (uma localidade perto de Mérida, em Espanha), em dado momento o Condestável decidiu retirar-se do combate e rezar a Deus. Várias vezes lhe pediram que voltasse, limitando-se ele a pedir mais um instante, a dizer que apenas queria acabar de rezar, que ainda havia tempo para o que fazia. Depois, quando terminou, notou que os Castelhanos já não tinham mais setas - terá sido milagre divino? As versões que lemos não o deixam claro - e facilmente os conseguiu derrotar, numa espécie de sequela de Aljubarrota.
A cena de Nuno Álvares Pereira a rezar durante a Batalha de Valverde parece ter sido, há cerca de um século, relativamente popular na cultura portuguesa e no contexto do Estado Novo, com a imagem do azulejo acima a ter sido retirada do chamado "Forte de Salazar", mas hoje encontra-se muito esquecida, talvez pela rejeição tácita de algumas lendas nacionais na sequência do 25 de Abril. E, pelo menos neste caso em particular, essa rejeição parece ser indevida, já que esta breve lenda nada tem de muito errado, limitando-se a manter a ideia de um Portugal apoiado por Deus ao longo dos vários séculos, que já vinha de tempos da lenda da famosa Batalha de Ourique.