A lenda da Befana
A lenda da Befana, que aqui contamos hoje, principiará um período de três dias distintos durante os quais, para celebrar a quadra natalícia, iremos falar de mitos e lendas associadas ao Natal em diversos países. Nesse sentido, esta primeira história vem-nos de terras de Itália.
Conta-se então que a Befana era, originalmente, uma idosa que vivia numa qualquer terra cujo tempo já há muito fez esquecer o nome. Um dia, enquanto se encontrava a varrer o terraço de sua casa, uns homens misteriosos falaram com ela e perguntaram-lhe se sabia qual era o caminho para Belém. Confusa, esta idosa não fazia ideia de onde era esse local, mas convidou-os a pernoitarem na sua casa. Depois, na manhã seguinte, os viajantes explicaram-lhe que andavam à procura de um menino, do salvador do mundo, a quem queriam dar os seus presentes, e convidaram-na para seguir caminho com eles. Inicialmente ela rejeitou, disse que tinha "coisas importantes" para fazer, mas acabou por se arrepender da sua decisão e ainda tentou seguir os viajantes - que, na verdade, eram os famosos Reis Magos! - mas já não os conseguiu encontrar. Então, seguindo caminho, foi passando por todas as terras do mundo, em busca daquela misteriosa criança de quem um dia ouviu falar... e não sabendo como ela era, foi dando prendas a todas aquelas que encontrava, esperando assim recompensar a correcta!
Hoje, esta Befana - que supomos ser imortal - recompensa as crianças italianas na noite de 5 para 6 de Janeiro, dando boas prendas às que se portaram bem, e coisas menos boas a todas aquelas que se portaram mal. Mas... porquê essa data, e não no Dia de Natal? Porque, tradicionalmente, é a data em que os Reis Magos chegaram ao local do nascimento de Jesus, e então é provável que também ela, conhecendo ou previndo essa data, a tenha considerado apropriada.
Mas, na verdade, quem é - ou o que é - esta Befana? Uma lenda italiana, vimo-la frequentemente descrita como a "bruxa de Natal", mas não parece existir qualquer registo de que faça bruxarias, salvo uma curiosa excepção - diz-se que ela utiliza a sua vassoura para voar pelos céus, o que lhe torna possível entregar todos os presentes numa só noite. Mas, salvo esse elemento, ela não parece ter sido, originalmente, uma figura ligada à magia. Terá sido uma antiga deusa, cujos limites e culto original se foram perdendo ao longo dos séculos, como lemos numa interessantíssima obra de inícios do século XIX sobre tradições italianas? Até é possível, não conseguimos ter uma certeza absoluta, mas a sua história é, no mínimo, característica de um conjunto de histórias e tradições populares que, por exemplo, em Portugal podemos ver nos contos de Santa Maria e o Linguado ou de Santa Maria e as Aranhas, que tendem a associar o sagrado bíblico ao profano popular...