A lenda da fundação de Barcelona
A lenda da fundação de Barcelona, como as associadas a tantas outras cidades dos nossos dias, procura essencialmente explicar a razão de ser do seu nome. Tal como a fundação de Lisboa é frequentemente associada a Ulisses, parecem igualmente existir duas lendas que associam esta cidade a figuras e mitos da Antiguidade. O curioso é que não são mitos da Antiguidade, mas sim pequenas histórias (falsamente) derivadas de personagens que associamos ao tempo dos Gregos e dos Romanos, e que em muitos casos apenas parecem ser conhecidas entre os locais. Podemos contar duas delas, provavelmente aquelas que são as mais famosas de um ponto de vista lendário.
Segundo alguns, a cidade foi fundada por Hamílcar Barca, por volta do terceiro século Antes de Cristo. A única "prova" apresentada nesse sentido é a semelhança do apelido desse general com o nome da própria cidade de Barcelona.
Segundo outros, quando Jasão e os Argonautas partiram na sua famosa viagem, levaram entre eles o grande Hércules. Se os mitos gregos confirmam essa presença e essa viagem colectiva num navio de nome Argo, já esta lenda altera um pouco a história - ela diz que os Argonautas viajaram em nove barcas distintas. Durante uma tempestade, a nona delas, que transportava Hércules, perdeu-se das restantes e foi parar a uma praia desconhecida. Gostaram tanto desse local que decidiram fundar uma nova povoação no local, a que chamaram Barca Nona em memória do transporte que os levou até ao local.
Mas esta segunda lenda da fundação de Barcelona ainda não fica por aqui - no mesmo seguimento, há até alguns que fazem viajar com este herói grego o deus Hermes. É certo que ele não viajava entre os Argonautas, todos eles meros heróis ou semideuses, mas poderá ter sido adicionado à lenda anterior para associar esse deus e a respectiva influência à mesma cidade - recorde-se que, entre outras áreas, ele era o deus padroeiro do comércio!
Quem procurar estas duas histórias da fundação de Barcelona em textos da Antiguidade depressa sairá frustrado. Não estão lá. São, única e exclusivamente, tentativas (posteriores) de associar a cidade a figuras famosas da Antiguidade, como também aconteceu em incontáveis outros locais europeus. Contudo, não deixam de ser mitos dignos de nota no contexto da Tradição Clássica.