A lenda da Gruta de Camões
Quem for a Macau poderá, sem muita dificuldade, cruzar-se com um jardim que tomou o nome de Camões, onde existe um famoso espaço conhecido como a Gruta de Camões:
Se o espaço, que aqui pode ser visto quase ao centro da imagem, não é hoje uma verdadeira gruta, tem uma pequena lenda associada a ele - diz-se que, aquando da sua passagem por terras do oriente, o poeta Luís Vaz de Camões descansou nesta pequena gruta, onde até escreveu pelo menos um poema à sua amada Dinamene. Mas será isto verdade?
Sabemos que Camões efectivamente viveu em Macau durante algum tempo, mas, como já apontado anteriormente, os eventos mais concretos da sua biografia são muito difíceis de discernir. É certamente possível que tenha encontrado este belo recanto e que tenha escrito algum poema por lá, mas já não podemos ter qualquer certeza real de que isso tenha tomado lugar.
E o que dizer de Dinamene? Naturalmente que se trata de um pseudónimo - Dinamene, ou Δυναμένη, era uma das Nereidas da Grécia Antiga - que a tradição oral associou a uma chinesa que, segundo um dos poemas que lhe foi dedicado, terá morrido entre as ondas do mar:
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?
Terá esta Dinamene existido? Terá mesmo falecido entre as ondas do mar? Terá até estado com Camões neste espaço da Gruta de Camões? Será que o amou tanto como ele parece tê-la amado nos seus versos? Por boas que sejam, estas são perguntas às quais a ausência mais concreta de uma biografia do poeta nos impedem respostas reais.
E é assim que nascem, ou que tendem a nascer, as lendas. Pegando-se num facto real - a presença de Luís de Camões em Macau - vão sendo acrescentados novos elementos à história, até que se torna difícil compreender onde acabam os factos históricos concretos e onde começa uma qualquer ficção menos credível. Mas, indiferente a tais problemas, lá continua em Macau a bela Gruta de Camões, no jardim que tomou o nome do poeta, a inspirar histórias como estas e muitas outras...