A lenda da Ilha Encoberta
A lenda da Ilha Encoberta, também conhecida por Ilha Afortunada, merece ser contada por cá por se tratar de uma história quase puramente portuguesa. Para aqueles que procuram uma Mitologia Portuguesa, é através de temas como este que podem começar, por se tratar de uma lenda que, apesar de ter alguma ligeira influência de textos castelhanos, é quase somente nossa, e através do nosso povo até foi posteriormente levada para o Brasil, como já cá mostrámos antes, através de uma lenda brasileira em que entra este tema essencial.
Explique-se então. A lenda da Ilha Encoberta nasceu até antes da altura dos Descobrimentos, mas só obteve uma espécie de maturidade com a sua associação, posterior, às figuras - agora famosas - de Bandarra e Dom Sebastião. Naquela que será provavelmente a sua versão mais famosa, conta-nos que o último rei dos Godos, um tal Dom Rodrigo, aquando das primeiras invasões islâmicas na península ibérica fugiu de Portugal e, partindo do Algarve, foi viver para uma ilha secreta e misteriosa no Atlântico. O que existe nessa ilha varia de fonte para fonte - por exemplo, uma das suas características mais curiosas é o facto das suas areias serem de puro ouro - mas existe uma característica associada sempre a ela, que é o facto de esta ser uma Ilha Encoberta (o que lhe deu o nome...), ou seja, uma espécie de ilha que está envolta num eterno nevoeiro mágico e nem sempre pode ser vista por quem lá passar.
Mas onde entra o Encoberto? Existiam algumas profecias que mencionavam um misterioso "encoberto", mas à medida que o tempo foi passando começou a surgir a ideia de que essa figura - que ainda não se sabia muito bem quem era - tinha esse nome porque vivia na ilha que referimos acima, essa espécie de Ilha Afortunada onde o tempo passava muito devagar, ou as pessoas viviam muito mais tempo (quem lá ia até dizia que os locais falavam um dialecto de português que se via que era muito antigo). Eventualmente, à medida que mais e mais supostas profecias se foram associando, alguns começaram a achar que essa figura misteriosa era, só podia ser, uma - Dom Sebastião - que um dia lá viria de volta desse espaço mágico, para se tornar o grande monarca secular. Estranhamente, um dos visitantes da ilha disse que falou com o rei e lhe deu boleia para África, mas que a hora do seu retorno ainda não tinha chegado...
Quem tiver alguma curiosidade sobre todo este tema poderá ler o segundo e terceiro capítulos da obra O Spiritismo, Ilha Encoberta e Sebastianismo, do Padre Conceição Vieira. Claro que existem muitos, muitos outros tratados sobre este grande tema da ilha e do misterioso Encoberto, mas esta obra específica apresenta-o de uma forma muito simples e com as ideias essenciais para que se perceba toda a lenda.