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Mitologia em Português

01 de Maio, 2020

A lenda da Mula Sem Cabeça

Hoje falamos da lenda da Mula Sem Cabeça, também conhecida como Cavala-Canga ou Cavala-Acanga, inspirados pelo Sítio do Picapau Amarelo, em que muitas criaturas do folclore brasileiro aparecem quase lado a lado e interagem entre si. Nos próximos dias também falaremos de algumas outras de terras do Brasil!

Mula Sem Cabeça

A primeira delas, a de hoje, é a lenda da Mula Sem Cabeça, também conhecida ainda com os nomes de Burrinha-de-Padre ou Burra-de-Padre. É uma lenda que parece ter sido famosa - é muito mencionada no inquérito conduzido por Monteiro Lobato, juntamente com a do Saci e a do Lobisomem, como parte das grandes lendas do Brasil - mas cujos contornos variam um pouco de região para região brasileira. O que têm em comum todas essas versões? Dizem-nos que esta criatura era originalmente uma mulher que tinha sido sido metamorfoseada nessa estranha figura devido a um enorme pecado que cometeu, e depois condenada a vaguear todas as noites enquanto deitava fogo ardente pelas ventas e relinchava de forma assustadora*.

 

O pecado cometido por esta mulher, essa futura criatura mitológica, varia significativamente - na versão de Monteiro Lobato ela é apanhada num cemitério a comer o corpo de crianças falecidas. Noutra versão ela apaixonou-se por um padre. Numa terceira, teve relações sexuais com um antigo pároco. Ou, se preferirem uma resposta mais geral e horizontal, o que a mulher transformada fez foi transgredir de alguma forma significativa as leis e preceitos da Igreja. E, como tal, sofreu uma punição divina.

 

Porém, o que não encontrámos foi uma história fiável que explicasse o porquê da transformação numa mula, ou a razão para esta não ter cabeça. Porque se transformou a mulher numa Mula Sem Cabeça, nesta lenda, em vez de em qualquer outra criatura? Segredos dos deuses, ou talvez uma associação com uma outra lenda já há muito perdida? Uma estranha opinião que ouvimos entretanto diz apenas que a mula se devia ao facto de esse ter sido, na Idade Média, o animal normalmente usado nas viagens dos padres, mas será mesmo por isso? E será que esta criatura não tem cabeça porque, de uma forma metafórica, "perdeu a cabeça" quando foi conduzida ao seu pecado original? Ou porque, na escuridão da noite, um equídeo a pastar pode parecer que não tem essa parte do corpo? Ou mesmo porque deixava, metaforicamente, a cabeça em casa com o marido? Não sabemos, mas são certamente algumas possíveis explicações para todo o problema da origem desta criatura puramente brasileira...

 

 

*- Como é que um ser que não tem cabeça relincha e tem narinas é algo que nos escapa por completo, mas são várias as versões da lenda que mencionam que o fogo sai desse preciso lugar - outras referem simplesmente o pescoço como fonte das chamas! Todas as fontes que consultámos nunca explicam este enorme mistério...

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