A lenda de Dom Fuas Roupinho e da Nazaré
Conta-nos esta lenda que, numa manhã de nevoeiro por volta de 1182, Dom Fuas Roupinho andava a caçar por terras da Nazaré quando viu um veado. No calor do momento decidiu persegui-lo quase até aos fins do mundo, e por pouco ia sendo levado à sua própria morte - o veado saltou de um penhasco e o cavalo do herói quase que o ia acompanhando, até que o "Farroupim" evocou o nome de Nossa Senhora e, no derradeiro momento, o animal estacou miraculosamente, salvando a vida daquele que transportava. As marcas do milagre foram de tal forma profundas que, segundo alguns, ainda podem ser vistas no local.
Como sempre nestas lendas, existem algumas divergências aqui e ali, mas uma das referências mais interessantes que encontrámos passa por se dizer que o veado era uma transformação do diabo, e daí se compreender a ajuda santa de Nossa Senhora.
Mas terá sido toda esta história verdade? Sabemos que Dom Fuas Roupinho foi uma figura real, viveu no tempo de Dom Afonso Henriques, foi alcaide de Porto de Mós e até um eminente comandante naval, sendo muito provável que tivesse passado pela Nazaré. Sabemos igualmente que foi ele quem mandou construir uma capela nessa vila, sobre uma antiga gruta onde já existia uma imagem de Nossa Senhora* (e, supostamente, próxima do local do milagre), pelo que poderá ter sido essa uma grande razão da associação entre as duas figuras. Mas se o episódio do veado realmente tomou lugar, isso é algo que só o próprio "Farroupim" nos saberia dizer.
*- Esta outra parte da história, uma espécie de prequela da lenda de Dom Fuas Roupinho e da Nazaré, parece estar quase esquecida nos dias de hoje. Ela diz que em inícios do século VIII da nossa era um dado monge veio da Nazaré - a outra povoação desse nome, aquela que está ligada à vida de Jesus Cristo - para este local e, temendo pela sua própria vida, escondeu uma imagem de Nossa Senhora em território nacional, a mesma que viria a ser encontrada quase 500 anos depois pelo agora-famoso fidalgo português. Esta ideia poderia parecer apenas uma fantasia, mera imaginação, até que se considere a hipótese de que o monge poder estar a fugir do Iconoclasmo oriental, e daí a necessidade de esconder uma imagem que tinha trazido consigo por mar...