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Mitologia em Português

28 de Maio, 2021

A lenda de La Llorona

A lenda de La Llorona é provavelmente uma das mais famosas da cultura mexicana, mas é relativamente conhecida na cultura ocidental graças a filmes como A Maldição da Mulher Que Chora (no seu original, The Curse of La Llorona). Ademais, teve um impacto significativo na cultura sul-americana, gerando outras lendas, como a de La Sayona na Venezuela, ao ponto de muitas vezes estas figuras se confundirem, como se de uma só se tratassem. Assim, e como é natural, existem muitas versões de toda a sua história, mas iremos contar aqui a mais famosa de todas elas.

A lenda de La Llorona

Conta-se então que uma mulher nativa do México - sobre o seu nome, já lá iremos - se apaixonou por um nobre espanhol. Amavam-se muito, queriam-se ambos muito, mas os pais desse espanhol não consentiram no seu casamento, e então este par de amados decidiu viver juntos sem casar, e acabaram por ter dois filhos. Depois, os anos passaram-se, até que os pais deste nobre lá o conseguiram convencer a contrair um casamento legítimo com uma outra mulher. Infinitamente triste, aquela que um dia o tinha amado, e que agora já não era amada, decidiu matar os seus próprios filhos num curso de água próximo, suicidando-se em seguida, entre lágrimas sem fim. E agora, em virtude dessas suas acções (a razão mais concreta depende de versão para versão), assombra o mundo dos vivos, matando também os filhos de outras mulheres.

 

Antes de se comentar brevemente toda esta história, há um ponto que convém explicar - quem eram, na verdade, este par de amados? A lenda nem sempre refere os seus nomes, mas numa das versões mais curiosas a que tivemos acesso eles são apresentados como Hernán Cortés e uma mulher que ficou conhecida popularmente como La Malinche, e que o ajudou na conquista do México. É curioso notar que a história de ambos até apresenta algumas semelhanças com a lenda - Cortés teve filhos dela, mas foi casado legitimamente com duas espanholas, Catalina Suárez e Juana de Zúñiga... por isso, esse caso (real) poderá ter sido uma inspiração para toda esta lenda, que posteriormente foi alterada para dar um novo contexto e significado a todos os acontecimentos; é possível que, originalmente, La Llorona tivesse chorado não por perder este amor de um homem, ou mesmo por matar os seus filhos (o que La Malinche não fez, na realidade), mas por ter traído o país que a viu nascer, gerando até o adjectivo malinchista!

 

Volte-se agora à propria lenda de La Llorona. A ideia por detrás dela não é propriamente nova - recordem-se os casos de Gello, de Medeia, de Lilith, entre muitos outros - e apresenta, como é comum em muitas outras culturas pelo mundo fora, a ideia de uma mãe que, ao ter perdido os seus próprios filhos, agora causa um sofrimento semelhante em todas aquelas que partilham o seu estatuto. As razões para tal não são completamente claras na versão da lenda que recontámos acima, mas outras tornam o seu objectivo mais claro - ou ela sente inveja das mulheres que ainda têm os seus filhos vivos; ou mata-os porque, agora completamente insana na sua tristeza, os confunde com os seus próprios, e pensa que ainda estão vivos, desejando-lhes então uma nova morte.

Em qualquer dos casos, na sua forma actual La Llorona é, essencialmente, uma figura muito usada para recomendar às crianças que evitem cursos de água durante a noite. Foi assim que primeiro a conhecemos, no México e através de uma idosa mexicana, mas também é uma ideia que ocorre em muitas outras culturas pelo mundo fora, e.g. recorde-se o caso do Kappa nipónico.

 

Finalmente, se existe uma canção mexicana muito famosa, "La Llorona" (um exemplo pode ser ouvido aqui), há que frisar que ela não se refere concretamente a esta lenda, mas sim a uma mulher que chora pelo facto do seu amado ir para a guerra. Se esse evento se refere a uma outra versão desta lenda, é algo que deixamos à consideração de quem ler estas linhas...

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