A Lenda de Loreley
É difícil falar-se de uma verdadeira lenda de Loreley - ou Lorelei - porque, contrariamente ao que é habitual, neste caso específico sabemos a sua origem. Parte dela foi escrita em 1801, por um tal Clemens Brentano, enquanto que outra parte originou em 1824 por Heinrich Heine. Poderia achar-se, assim, que uma delas, ou ambas, se basearam numa lenda pré-existente, potencialmente oral, mas dado que as duas "versões" são significativamente diferentes, isso parece demonstrar que não existia qualquer lenda na sua origem, mas apenas e somente uma espécie de história muitíssimo geral que ambos os autores utilizaram para os seus próprios propósitos.
Na história de Clemens Brentano, datada de 1801, esta Loreley era apenas uma mulher que foi traída pelo seu apaixonado e acusada de feitiçaria. Como era comum na época - e já aqui explicámos porque eram essas supostas "bruxas" acusadas - isso deveria levá-la à sua morte, mas o bispo local preferiu apenas condená-la a viver num mosteiro para o resto dos seus dias. Depois, quando se encontrava a ser transportada para esse local, ela passou no local da rocha visível acima e pensou ver, muito à distância, o seu amado a retornar, preparado para a salvar do temível destino. Subiu à rocha para o ver melhor, mas acabou por cair da mesma, tornando-se uma espécie de figura tutelar do local.
Agora, na história de Heinrich Heine, esta datada de 1824, Loreley já é uma espécie de sereia local, que, sentada no topo destas rochas, atraía todos os navegadores para a sua destruição. Um dia levou à morte do filho de um nobre local, que se tinha apaixonado por ela, como já tinha acontecido a tantos outros anteriormente. Quando soube o que se tinha passado, esse nobre lá enviou o seu exército para o local, procurando matar o "monstro", mas esta figura simplesmente se afundou nas águas e foi para o seu palácio secreto... e não mais voltou a ser vista, mas os seus gritos continuam a poder ser ouvidos nas noites de lua cheia, como é comum em histórias como estas.
Nunca ouvimos a Loreley na primeira pessoa, convém frisar isso. Porém, é bastante claro que, dado o facto de todo este local estar associado a diversos acidentes aquáticos, alguém decidiu começar a contar uma espécie de história que pudesse ajudar a explicá-los. Contudo, a natureza destas duas primeiras histórias é muito diferente, não tem um verdadeiro tronco comum excepto ao nível do nome da personagem principal (que já era o de um rochedo local...), deixando perceber que mais do que existir uma lenda da Loreley em que se inspiraram, existia era um nome e um conjunto de incidentes que necessitavam de explicação, algo que Brentano e Heine tentaram colmatar à sua maneira. E, por isso, mais do que uma lenda, estas são duas breves histórias de um local que, com o passar do tempo e uma fama crescente, se tornaram uma espécie de pseudo-lenda alemã...