A lenda de Pedro Gonzalez de Mendoza
A figura espanhola de Pedro Gonzalez de Mendoza, bem como a sua lenda, existe naquele ténue espaço que distingue a ficção da realidade. Sabemos que ele existiu, sabemos que ele faleceu na Batalha de Aljubarrota (a que já cá dedicámos uma extensa página), mas é difícil saber até que ponto se apartam mito e história na sua vida. Isto porque, se em crónicas de outros tempos a batalha era sempre de má memória para os Espanhóis, eles também insistem que um grande herói viveu do seu lado nessa batalha.
No contexto de Aljubarrota, conta-se então que em dado instante o rei João I de Castela teve o seu cavalo ferido e viu-se até prestes a ser capturado pelos Portugueses. Para o salvar, este Pedro Gonzalez de Mendoza aproximou-se do monarca do seu país e cedeu-lhe o seu próprio cavalo. O rei ainda lhe tentou dar uma boleia, também o quis salvar, mas - segundo reza a lenda - este dispôs-se completamente a morrer pelo seu país, preferindo acompanhar para a morte os seus companheiros de batalha, em vez de escapar e ter de defrontar, para o resto dos seus dias, a grande dor das mães, mulheres e filhas dos outros combatentes.
Terá sido isto verdade? Será que este Pedro Gonzalez de Mendoza foi mesmo o grande responsável por salvar o monarca espanhol do fatídico destino que parecia aguardá-lo nos campos da Batalha de Aljubarrota? Sabemos, hoje, que este herói faleceu mesmo durante a batalha. Pelo menos até há uns poucos anos dizia-se que toda a gente em Espanha conhecia o seu nome, tal a importância do seu suposto acto no contexto histórico em que se inseriu. O que poderia indicar que sim, que era tudo verdade, mas não devemos esquecer que a sê-lo, só o rei de Espanha - ou o cavalo em questão, mas teria sido difícil entrevistá-lo - seria capaz de o atestar. Duvidamos que o fizesse, porque implicaria, ao mesmo tempo, admitir uma enorme fragilidade estratégica do próprio monarca. E, por isso, a verdade terá de permanecer completamente escondida no rodopiar dos séculos.
Lenda, pelo menos, já sabemos que tudo isto é. Mas se, como lhes é habitual, estas têm sempre um qualquer fundo de verdade, resta é saber qual poderá ter sido o verdadeiro papel de Pedro Gonzalez de Mendoza em Aljubarrota. Se foi mesmo aquele que ainda conhecemos hoje, é pelo menos notável a sua capacidade para o heroísmo contra todas as circunstâncias... e é algo que, mesmo como Portugueses, não poderíamos querer negar-lhe. Pelo contrário, deveríamos era querer ter do nosso lado, na altura e sempre, alguém igualmente capaz de um feito como esse, que mesmo numa grande derrota é ainda capaz de operar os melhores actos para o seu país!