A lenda de Tawara Toda
Ontem, contámos um mito japonês que até se poderia confundir com tantos outros da Europa. A lenda de Tawara Toda mostra-nos o contrário, uma história provinda das terras do sol nascente mas significativamente diferente das ocidentais. Por isso, recordemos a lenda associada a esta figura:
Originalmente chamado Fujiwara no Hidesato, enquanto se preparava para cruzar uma das muitas pontes existentes no Japão este herói encontrou um terrível dragão. Mas, mais do que o combater, quando o viu no local limitou-se a passar-lhe por cima, cuidadosamente, para não o acordar. Pouco depois foi-lhe revelado que essa era uma criatura mágica (a identidade varia mediante a versão consultada), que face à coragem demonstrada pediu a ajuda do herói - por perto existia uma enorme centopeia, que destruía tudo por onde passava, e que muito incomodava os habitantes de um reino místico. Feliz por poder ajudar, prontificou-se ao combate.
O herói apenas tinha três flechas consigo. Atirou a primeira, que apesar de atingir a centopeia no meio da cabeça, não a magoou. Disparou uma segunda, atingindo-a novamente num local que deveria ter sido mortal, mas sem qualquer efeito real. E então, antes de lançar o seu derradeiro ataque, lembrou-se que lhe tinha dito que as centopeias eram fracas contra o cuspe humano; humedecendo assim a ponta da sua flecha, atingiu o espaço que separava os dois olhos da criatura, fazendo-a sofrer as maiores dores. E, depois, aproximou-se e cortou-a em mil pedaços.
Felizes com tal milagre, os habitantes do reino místico local depressa o recompensaram. Deram-lhe um conjunto de ítens mágicos, o mais famoso dos quais foi um saco que dava ao seu portador arroz sem fim, graças ao qual Fujiwara no Hidesato passou a ser conhecido como Tawara Toda.
O que esta lenda tem de mais notável é uma espécie de inversão de algumas convenções ocidentais, em que o dragão é uma figura que necessita de ajuda, mais do que um opositor, enquanto que uma centopeia - para os ocidentais, uma criatura completamente inócua - acaba por ser o monstro da trama. Porque teria um dragão medo de uma simples centopeia seria difícil de compreender para os ocidentais, mas é em momentos como esses que podemos apreciar as diferenças culturais constantes em muitas histórias provindas dos quatro cantos do mundo...