A lenda de Urashima Taro
A história de Urashima Taro é uma de muitas que são bem conhecidas no chamado "País do Sol Nascente", como a lenda de Momotaro. Apresenta-nos uma trama relativamente simples, mas nem por isso menos interessante, quanto mais não seja pelo facto dos seus elementos principais, salvo algumas excepções, se terem mantido relativamente estáveis ao longo dos séculos.
Conta-se então que Urashima Taro era um jovem como os outros, possivelmente um pescador, até que um dia viu crianças a destratar uma pequena tartaruga na praia. Salvou-a de alguma forma, repondo-a no oceano, e uns dias depois foi-lhe dado conhecimento por outra criatura marinha que, na verdade, ele tinha salvo de uma morte certa a filha mais bela de um dragão que era senhor dos mares. Sendo convidado para tal, ele fez então a viagem a um palácio submarino, casou - ou dispôs-se a casar - com a jovem de nome Otohime, e (quase) foram felizes para sempre.
A história poderia ficar por aí, e talvez o ficasse num contexto ocidental, mas com o passar do tempo este Taro começou a ter saudades da sua família. Queria revisitá-los, falar com eles uma última vez que fosse. Otohime ficou um pouco triste com esse pedido, mas ainda assim entregou ao seu apaixonado uma pequena caixa, que ele nunca deveria abrir e que, supostamente, o protegeria de todo e qualquer mal.
Com essa caixa em sua posse, foi então permitido a este herói voltar a casa... mas quando chegou à aldeia onde tinha vivido, viu que tudo estava muito diferente de antes! Após algumas inquisições sobre o que se tinha passado, lá descobriu que tinha passado mais de uma centena de anos, e então... sem saber muito bem o que fazer, ou talvez esperando alguma espécie de solução mágica, decidiu abrir a caixa que lhe tinha sido dada por Otohime... e transformou-se em pó, assim morrendo.
Agora, se esta história nipónica tem alguns elementos comuns a muitas outras histórias orientais (e.g. o Coelho que Visitou o Palácio do Mares), um muito curioso e digno de nota passa pelas pequenas diferenças que podem ser encontradas nas várias versões que nos chegaram ao longo do tempo. Por exemplo, elas divergem em:
- Como a tartaruga é salva;
- Quem informa o herói de que este animal era, na verdade, Otohime;
- Como é feita a viagem para o Palácio Submarino (uma das versões diz, de forma inesperada, que ele "criou guelras");
- Quanto tempo as duas figuras passaram juntas, antes do herói querer ir revisitar os seus pais;
- Quanto tempo passou desde o seu desaparecimento do mundo terreno;
- Apresentar o destino final de Taro após abrir a caixa. Pelo menos uma versão diz que ele se transformou numa garça, outra fá-lo voltar ao palácio, et al.
- Revelar o que estava no interior da caixa, com uma das versões a referir que era "a velhice" do herói, que, libertada ao mundo, precipitou portanto a sua morte.
Talvez apeteça relembrar aquele adágio bem português, "quem conta um conto aumenta um ponto", pois ele pode explicar estas divergências ao tronco principal da história, mas também levar os leitores a considerar as suas próprias leituras dos diversos pontos em desacordo. Seria, por isso, até particularmente interessante perguntar a possíveis leitores de ascendência japonesa que versão desta história de Urashima Taro conhecem...