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Mitologia em Português

13 de Janeiro, 2022

A lenda do Cavaleiro do Cisne (e Lohengrin)

Quando aqui falámos sobre a Sala dos Cisnes em Sintra referimos que a sua figura principal era uma alusão à lenda do Cavaleiro do Cisne e Lohengrin. Infelizmente, por motivos de tempo, espaço e complexidade não foi possível contá-la nessa altura, mas decidimos fazê-lo hoje. Porém, convém explicar que esta lenda, que na Idade Média foi popular em vários países europeus, tem muitas versões distintas, e não sendo possível contá-las a todas aqui, o que apresentamos abaixo é uma edição sincretizada e muito simplificada dos dois grandes momentos que compõem esta história. Vamos a isso!

A lenda do Cavaleiro do Cisne (e Lohengrin)

Um dia, enquanto um cavaleiro caçava pela floresta, encontrou uma belíssima dama com uma corrente de ouro ao pescoço. Loucamente apaixonados, as duas figuras consumaram o seu amor ali mesmo, antes do cavaleiro levar esta dama consigo de volta ao palácio de que era rei. Depois, os meses foram passando e esta dama deu à luz sete crianças, seis rapazes e uma rapariga, todos eles com correntes de ouro ao pescoço. Porém, uma mulher da corte, mal intencionada e porque estava apaixonada por este rei, matou a dama, lançou o rumor de que tinham nascido sete monstros do corpo da falecida, e depois abandonou os recém-nascidos na floresta, onde eles foram encontrados por um casal de pastores, que optou por criá-los a todos como seus.

À medida que o tempo foi passando a maldade da mulher da corte foi descoberta e o rei enviou um criado para trazer os seus sete filhos de volta. Mas este, subornado pela vingativa mulher e vendo seis das crianças a tomar banho sob a forma de cisnes, roubou-lhes as respectivas seis correntes de ouro, que pretendia destruir, o que os impossibilitaria de regressar à sua forma humana. A sétima das crianças, a do sexo feminino, lá contou ao rei o que se tinha passado; as seis correntes foram recuperadas e cinco dos seus irmãos voltaram à sua forma humana - o sexto, esse, como a sua corrente ficou danificada não poderia voltar a ser humano, sofrendo então um destino misterioso.

 

A história poderia ficar por aqui, mas depois os anos foram passando, até que uma jovem, no seu momento de maior desespero, implorou que algum cavaleiro a ajudasse. Surgiu-lhe uma misteriosa figura, um cavaleiro num barco puxado por um cisne, que a salvou e jurou amá-la até ao dia em que ela lhe perguntasse o seu nome. E se, inicialmente, tudo corria bem entre ambos, através da influência de companheiras mal-intencionadas a jovem veio a sentir a necessidade de perguntar o nome ao seu amado. Este, incrédulo e triste, revelou finalmente o seu nome - "Lohengrin" - e depressa partiu no seu barco-cisne, para não mais tornar a ser visto.

 

 

Esta lenda do Cavaleiro do Cisne e de Lohengrin, relatada aqui a dois momentos, tem muito que se lhe diga. Esconde vários mistérios, mas o maior de todos eles é provavelmente o que aconteceu ao rapaz da primeira parte da história. Será que ele era o próprio cavaleiro, que veio a obter forma humana por razões desconhecidas? Será que era, em alternativa, o animal que transportava este novo Cavaleiro do Cisne? Ou era até uma figura distinta, cuja história está interminada? E de onde vinha, para onde ia, como obteve o título, este Cavaleiro do Cisne? É difícil conseguir sabê-lo porque, como já foi deixado claro acima, existem as mais diversas versões de toda esta lenda, e elas apresentam em alguns momentos informações completamente contraditórias. Por exemplo, na ópera de Wagner, que podem ver abaixo (com legendas em italiano, mas pelo menos está completa!), o cavaleiro e a dama da segunda parte da história até acabam juntos depois da divulgação do seu nome...

Contudo, é importante dizer que nas versões mais antigas não parece existir qualquer ligação entre as duas metades desta história. Assim se preservava o grande mistério do jovem da primeira, mas também ficavam inúmeras perguntas por responder em relação ao cavaleiro da segunda. O que era, na verdade, comum em muitas outras histórias medievais - relembrem-se, por exemplo, as lendas nacionais de Dona Marinha e das Damas dos Pés de Cabra. Talvez tenha sido este problema de face dupla que levou, posteriormente, à interligação dessas duas lendas, originalmente distintas, para lhes dar uma história mais completa e mais ao gosto dos tempos, que já iam mudando - face a essas alterações, alguns até diziam que o misterioso cavaleiro era um familiar remoto de Godofredo de Bulhão, conquistador e primeiro rei de Jerusalém...

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