A lenda do Cavaleiro do Cisne (e Lohengrin)
Quando aqui falámos sobre a Sala dos Cisnes em Sintra referimos que a sua figura principal era uma alusão à lenda do Cavaleiro do Cisne e Lohengrin. Infelizmente, por motivos de tempo, espaço e complexidade não foi possível contá-la nessa altura, mas decidimos fazê-lo hoje. Porém, convém explicar que esta lenda, que na Idade Média foi popular em vários países europeus, tem muitas versões distintas, e não sendo possível contá-las a todas aqui, o que apresentamos abaixo é uma edição sincretizada e muito simplificada dos dois grandes momentos que compõem esta história. Vamos a isso!
Um dia, enquanto um cavaleiro caçava pela floresta, encontrou uma belíssima dama com uma corrente de ouro ao pescoço. Loucamente apaixonados, as duas figuras consumaram o seu amor ali mesmo, antes do cavaleiro levar esta dama consigo de volta ao palácio de que era rei. Depois, os meses foram passando e esta dama deu à luz sete crianças, seis rapazes e uma rapariga, todos eles com correntes de ouro ao pescoço. Porém, uma mulher da corte, mal intencionada e porque estava apaixonada por este rei, matou a dama, lançou o rumor de que tinham nascido sete monstros do corpo da falecida, e depois abandonou os recém-nascidos na floresta, onde eles foram encontrados por um casal de pastores, que optou por criá-los a todos como seus.
À medida que o tempo foi passando a maldade da mulher da corte foi descoberta e o rei enviou um criado para trazer os seus sete filhos de volta. Mas este, subornado pela vingativa mulher e vendo seis das crianças a tomar banho sob a forma de cisnes, roubou-lhes as respectivas seis correntes de ouro, que pretendia destruir, o que os impossibilitaria de regressar à sua forma humana. A sétima das crianças, a do sexo feminino, lá contou ao rei o que se tinha passado; as seis correntes foram recuperadas e cinco dos seus irmãos voltaram à sua forma humana - o sexto, esse, como a sua corrente ficou danificada não poderia voltar a ser humano, sofrendo então um destino misterioso.
A história poderia ficar por aqui, mas depois os anos foram passando, até que uma jovem, no seu momento de maior desespero, implorou que algum cavaleiro a ajudasse. Surgiu-lhe uma misteriosa figura, um cavaleiro num barco puxado por um cisne, que a salvou e jurou amá-la até ao dia em que ela lhe perguntasse o seu nome. E se, inicialmente, tudo corria bem entre ambos, através da influência de companheiras mal-intencionadas a jovem veio a sentir a necessidade de perguntar o nome ao seu amado. Este, incrédulo e triste, revelou finalmente o seu nome - "Lohengrin" - e depressa partiu no seu barco-cisne, para não mais tornar a ser visto.
Esta lenda do Cavaleiro do Cisne e de Lohengrin, relatada aqui a dois momentos, tem muito que se lhe diga. Esconde vários mistérios, mas o maior de todos eles é provavelmente o que aconteceu ao rapaz da primeira parte da história. Será que ele era o próprio cavaleiro, que veio a obter forma humana por razões desconhecidas? Será que era, em alternativa, o animal que transportava este novo Cavaleiro do Cisne? Ou era até uma figura distinta, cuja história está interminada? E de onde vinha, para onde ia, como obteve o título, este Cavaleiro do Cisne? É difícil conseguir sabê-lo porque, como já foi deixado claro acima, existem as mais diversas versões de toda esta lenda, e elas apresentam em alguns momentos informações completamente contraditórias. Por exemplo, na ópera de Wagner, que podem ver abaixo (com legendas em italiano, mas pelo menos está completa!), o cavaleiro e a dama da segunda parte da história até acabam juntos depois da divulgação do seu nome...
Contudo, é importante dizer que nas versões mais antigas não parece existir qualquer ligação entre as duas metades desta história. Assim se preservava o grande mistério do jovem da primeira, mas também ficavam inúmeras perguntas por responder em relação ao cavaleiro da segunda. O que era, na verdade, comum em muitas outras histórias medievais - relembrem-se, por exemplo, as lendas nacionais de Dona Marinha e das Damas dos Pés de Cabra. Talvez tenha sido este problema de face dupla que levou, posteriormente, à interligação dessas duas lendas, originalmente distintas, para lhes dar uma história mais completa e mais ao gosto dos tempos, que já iam mudando - face a essas alterações, alguns até diziam que o misterioso cavaleiro era um familiar remoto de Godofredo de Bulhão, conquistador e primeiro rei de Jerusalém...