A lenda do Cunhal das Bolas (e a da Casa dos Bicos)
Na cidade de Lisboa podem, ainda hoje, ser encontrados grandes mistérios, e o chamado Cunhal das Bolas continua a ser um deles. Se calhar até já lá passaram antes, sem ligar muito ao local, mas na intersecção da Travessa da Água da Flor com a Rua da Rosa, no Bairro Alto, pode ser encontrado um canto de um antigo palácio que tem uma forma muitíssimo singular:
Sobre este local, sabe-se apenas que esse suposto palácio terá sido construído no século XVI, mas não nos parece ter chegado qualquer espécie de fonte que explique o porquê da singular forma deste chamado "Cunhal das Bolas", por se tratar de um ângulo formado pelas duas paredes exteriores do edifício, e por ter a notável decoração composta por umas pequenas bolas. Agora, felizmente este é um espaço sobre mitos e lendas, e não sobre história ou arquitectura, ou não haveria aqui muito mais de conclusivo a dizer, por muito que o quisessemos. Portanto, o que nos importa aqui é mesmo a lenda do local, e esta, na sua forma muito breve, diz-nos algo tão inesperado quanto curioso... que só pode ser totalmente compreendido tendo em conta uma outra lenda lisboeta!
A lenda da Casa dos Bicos
O espaço que em Lisboa é hoje conhecido com o nome de "Casa dos Bicos" já foi muitas coisas diferentes ao longo da sua história, sendo actualmente a sede da Fundação José Saramago. Conta-se então que este local, construído na primeira metade do século XVI, foi-o com base nos grandes palácios do Renascimento Italiano, que o seu possuidor encontrou nas suas viagens...
Diz então a mais famosa lenda do local que o seu primeiro possuidor era uma pessoa tão, mas tão rica, que além de ter mandado construir esta casa com o invulgar aspecto que ainda tem, e que lhe vale o nome de Casa dos Bicos, mandou originalmente colocar em cada um desses locais pontiaguados um verdadeiro diamante. O que lhes aconteceu depois é algo com que a lenda não se preocupa, mas pelo menos poderia supor-se que todas essas antigas riquezas se perderam aquando do Terramoto de 1755. A acreditar-se na verdade por detrás desta lenda, ninguém parece até hoje ter encontrado um dos supostos "diamantes", apesar do local também ser conhecido, com menos frequência, pelo nome de Casa dos Diamantes...
A lenda do Cunhal das Bolas
Contada então a breve lenda anterior, esta do Cunhal das Bolas acrescenta-lhe algo. Conta-nos que quando no século XVI essa casa anterior foi construída, um Judeu que habitava na cidade de Lisboa (presume-se que depois do Massacre de 1506) quis fazer algo ainda mais impressionante para si e para os seus. Então, não só mandou construir este palácio no Bairro Alto, como também mandou forrar o seu exterior com as "bolas" que ainda podem ser vistas neste canto. O que até pode parecer pouco impressionante, não fosse o facto de se alegar que cada uma destas bolas estava, nessa altura, coberta do mais puro ouro. Também aqui se pode supor que isso tenha desaparecido em 1755, mas... pelo menos de um ponto de vista lendário, o que aquele Judeu sem nome quis fazer acabou por se cumprir, e o local em que esta parede ainda hoje se insere continua a ser conhecido pelo nome de Cunhal das Bolas.
Serão ambas estas histórias puras lendas? Será que a Casa dos Bicos e o antigo Palácio do Cunhal das Bolas foram um dia assim tão ricos como se dizia em outros tempos? A falta de provas reais dessa grande riqueza original sugerem o contrário, que isto é apenas e somente uma história sem um fundo de verdade, mas o mistério por detrás deste antigo canto de um palácio mantém-se até aos dias de hoje, sem que se saiba verdadeiramente o porquê da sua origem real...