A lenda dos Shichi Fukujin
Contamos aqui a lenda dos Shichi Fukujin, de terras do Japão, dada a sua semelhança com uma também famosa lenda chinesa, a dos Oito Imortais, de que cá falámos anteriormente. Esta ligação entre os ambos os países é importante porque, como outros mitos e lendas não deixam de nos recordar - relembre-se, por exemplo, o caso comparável da Kitsune e da Huli Jing - existem várias histórias que foram levadas de um país para o outro, sofrendo alterações significativas nessa transferência. Assim, se não temos a certeza absoluta da ligação entre os 八仙 chineses e os 七福神 japoneses, é fácil constatar que ela existe, podendo, no mínimo dos mínimos, ter sofrido alguma inspiração da sua congénere. Portanto, hoje, falamos deste grupo de sete divindades, cujo nome colectivo pode ser traduzido como "Sete Padroeiros da Felicidade".
Essencialmente, as sete figuras que compõem estes Shichi Fukujin podem ser vistas como uma espécie de santos associados a sete domínios da felicidade humana. Em nenhuma ordem específica, eles são:
- Jurojin, deus da longevidade, por vezes substituído por Toshitoku, deus do talento, talvez para não ser confundido com uma das figuras abaixo, que se assemelha muito a ele.
- Ebisu, deus da prosperidade, abundância e pescadores. Costuma ter um peixe consigo, símbolo da comida necessária para o dia-a-dia.
- Bishamonten, deus da guerra, glória e fama. Como é óbvio, tem consigo os instrumentos da guerra.
- Benzaiten, deusa da beleza, da família e das artes.
- Daikokuten, deus do comércio, protector das colheitas. Com um saco às costas (onde tem a fortuna que pode vir do comércio), ou algumas vezes um martelo (símbolo do trabalho).
- Fukurokuju, deus da sabedoria. Careca, alto, muitas vezes acompanhado por uma tartaruga, veado ou garça, símbolos da sua idade.
- Hotei, o nosso "Buda Gordo", que é aqui deus da sorte, das crianças e da popularidade. Com a sua pança à vista e orelhas longas. O seu saco contém prendas para as crianças, com a companhia das quais até costuma ser representado.
Se existem várias lendas associadas a cada uma das figuras destes Shichi Fukujin, a mais importante parece ser a que as une com o propósito de viajar num barco como o mostrado acima. E para que o fazem, poderiam perguntar? Porque é nessa sua viagem que, segundo se diz, no início de cada ano visitam todas as terras e dispensam as várias felicidades aos seres humanos. E isto é importante na cultura nipónica porque dá, de alguma forma, às pessoas um conjunto de tradições para o novo ano - se, na nossa cultura ocidental, fazemos pedidos para cada novo ano, não temos qualquer figura que possamos associar à sua realização; por comparação, numa cultura como a chinesa ou japonesa poderíamos adquirir uma pequena estátua de Hotei, colocá-la em nossas casas e, mesmo que apenas de uma forma meramente psicológica, sentiríamos a sua ajuda, o que facilita um pouco mais a busca pelos nossos objectivos do que um mero "ah, o meu plano para este ano é vender mais coisas na minha loja".
Uma última consideração, relativamente a este tema de hoje - recorde-se que também os Oito Imortais Chineses, como estes Shichi Fukujin, viajam num barco e têm uma tarefa semelhante à descrita acima. O que os distingue, de um modo geral, destas figuras japonesas é mesmo o seu número - isto porque o sete (7) é considerado um número de muito azar na China, mas de muita sorte no Japão! Como tal, se numa pintura - por exemplo, num restaurante chinês ou japonês - virem algumas figuras orientais a viajar num barco, a sua proveniência pode ser inferida através deste pequeno facto - oito na China, sete no Japão!