A maldição de Dona Teresa
A ideia de que Afonso Henriques combateu contra a sua própria mãe é uma das mais famosas da História de Portugal, mas já este episódio da maldição de Dona Teresa de Leão é hoje menos conhecido. Portanto, nada como recordá-lo. Se este filho nunca combateu em pessoa contra a sua própria mãe, i.e. nunca houve um combate individual entre ambos (o que até teria tido o seu quê de interessante), os exércitos de ambos defrontaram-se algumas vezes, até que Teresa - ou, no seu original, Taraja - foi capturada.
Inquieta com todos os contínuos problemas que o seu próprio filho lhe foi trazendo, numa dada altura esta mãe pediu aos céus apenas uma coisa, pediu que Dom Afonso Henriques fosse afectado por uma praga. No episódio, que ficou conhecido como a praga ou maldição de Dona Teresa, esta monarca pediu então que o seu filho partisse as pernas e deixasse de andar, com palavras como as seguintes (provindas do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro):
Afonso Henriques, meu filho, prendeste-me e meteste-me em ferros, e deserdaste-me de minha terra, que me deixou meu pai e tiraste-me de meu marido. Rogo a Deus que sejais preso, assim como eu estou. E porque me meteste ferros nos pés, quebradas sejam as tuas pernas com ferros. Mande Deus que assim seja isto.
Talvez tenha havido uma certa ironia neste pedido de Dona Teresa de Leão - recorde-se a lenda de Santa Maria de Carquere, em que se dizia que ele tinha nascido com um problema nas pernas - mas a verdade é que o pedido acabou por se cumprir - aquando de um cerco a Badajoz o monarca partiu a perna e até foi capturado pelos Castelhanos. Em troca da sua libertação, diz a lenda que o monarca Fernando II de Leão lhe pediu a rendição de Portugal assim que tornasse a cavalgar, e então Afonso Henriques, para jamais ter de o fazer, começou a deslocar-se de outras formas.
Terá sido verdade, esta lenda da maldição de Dona Teresa? A acreditar-se que Afonso Henriques nasceu mesmo com problemas nas pernas, e posteriormente se curou apenas para, entre outras "maldades", até vir a combater contra a sua própria mãe, faz todo o sentido que esta mulher sentisse algum ódio por toda a circunstância por que andava a passar. Assim, poderá ter dito mesmo aquelas palavras, as palavras de uma mãe temporariamente irritada, complementadas com o que a tradição nos diz ter sido a frase "Mande Deus que se cumpra!". Mas sobre mais que isso só esta matriarca e o respectivo filho nos poderiam dar quaisquer certezas...