A origem da reparação pela escravidão
Há já alguns dias a estapafúrdia ideia de reparação pela escravidão reentrou na cultura portuguesa. Aos comuns mortais esta poderá parecer uma ideia completamente parva - ou, como uma idosa até nos disse, "então e as coisas que deixei em Angola? Quem me vai pagar isso a mim?" - pelo que achámos que poderíamos dedicar algumas linhas ao tema, ou mais especialmente à sua origem.
Desde os tempos da Antiguidade que existiu uma "tradição" na qual os vencedores das guerras recebiam uma espécie de tributo dos vencidos, destinada essencialmente a compensá-los pela destruição e problemas causados. Parte da ideia ainda se mantém nos dias de hoje - relembre-se, por exemplo, a reparação paga pela Alemanha no final da Primeira Guerra Mundial, uma das razões contribuintes para a Segunda - mas tem maior expressão em dois países de língua inglesa, a Inglaterra e os Estados Unidos da América. O primeiro caso é fácil de explicar, deriva do imponente império ultramarino outrora detido pelos Ingleses, mas o segundo merece algumas explicações adicionais.
Mais ou menos entre os anos de 1861 e 1865 teve lugar a chamada Guerra Civil Americana, entre a União (também conhecida como "O Norte") e os Confederados (ou "O Sul"), com uma das grandes questões entre as duas facções a ser a da escravatura. Os primeiros estavam contra ela, mas os segundos apoiavam-na por diversas razões. Quando essa guerra foi ganha pelo Norte, surgiu então a ideia do Sul pagar a tal reparação, num acto não só a ser pago aos governos (como era habitual até então), mas também a cada ex-escravo, sendo-lhes prometido para o futuro a sua parcela substancial de dinheiro e/ou terras... algo que nunca veio a acontecer, mas que é repetidamente mencionado na cultura americana até aos nossos dias, nomeadamente quando algum candidato a um cargo político quer colocar os afroamericanos do seu lado, como se colocava tradicionalmente uma cenoura em frente a um burro.
Caso isto ainda não vos pareça um tanto ou quanto estranho, frise-se que numa das mais recentes promessas - e nunca passam mesmo disso, de meras promessas - se propunha garantir a cada americano de pele escura, apenas e exclusivamente em função dessa cor, um milhão de dólares! Mais estranho, só mesmo o facto de algumas universidades e empresas dos Estados Unidos da América privilegiarem candidatos apenas e somente pela cor da sua pele... o que, para nós, Europeus, seria um exemplo de racismo da pior espécie.
Assim, quando ainda se insiste na ideia de uma reparação pela escravidão, ela tende a vir desse contexto americano e da proliferação da sua cultura pelo mundo fora através de filmes e séries. Para que se entenda o absurdo de toda a situação, basta pensar-se da seguinte forma - já viram como seria se tivessem um terreno e, um dia, alguém vos viesse dizer que há 300 anos atrás um vosso familiar roubou um metro quadrado de terreno ao vizinho, e agora um descendente dessa pessoa quer receber o pagamento - com juros - pelo usufruto do local? Certamente que, mesmo com a presença de provas, vocês não poderiam senão rir-se! Mas, ainda assim, esta é uma ideia repetida que tende a surgir a público ora quando se pretende influenciar um certo segmento da população (como é muito comum nos EUA), ora quando se pretende distrair as pessoas de outras questões bem mais importantes (como aconteceu em Portugal há alguns dias atrás). E pergunte-se, quem não gostaria de receber dinheiro grátis só por serem quem são?!