A origem do anjo e diabo no ombro
A ideia de que falamos hoje não é muito comum na cultura portuguesa, mas é provável que já todos a tenhamos visto pelo menos em séries e filmes americanos - uma personagem tem de tomar uma decisão sobre algo, e depois aparece-lhe num ombro um diabinho, que a insta a fazer uma qualquer maldade, enquanto que no outro ombro lhe surge um anjinho, que a tenta convencer a tomar uma boa decisão. A ideia é muito frequente, talvez até mais em séries animadas dos nossos dias, mas de onde vem ela?
Na verdade, toda esta ideia do anjo e diabo no ombro não é senão uma adaptação cristã de uma ideia que já existia na Grécia Antiga - ela dizia que todos os seres humanos eram acompanhados por dois espíritos, chamados κακοδαίμων e ἀγαθοδαίμων (i.e. algo como "mau espírito" e "espírito nobre"), que ao longo da sua vida o iam instando, respectivamente, a más e boas acções. O conceito nunca parece ser explicado de uma forma muito mais precisa, mas sabemos, por exemplo, que Sócrates - o filósofo - dizia sentir algum aviso por parte de um seu daemon - sem qualquer sentido pejorativo - quando estava a tomar uma atitude correcta na sua vida, e até autores como Apuleio e Plutarco escreveram sobre essa ocorrência, que é provavelmente a mais famosa de todos os textos que nos chegaram da Antiguidade.
Mais tarde, ao longo dos séculos, quando o daemon foi obtendo um carácter completamente negativo na cultura cristã, o antigo - e, originalmente, bom - ἀγαθοδαίμων foi substituído pelo nosso "anjo da guarda", mas a sua função parece ter permanecido praticamente a mesma, acabando por gerar toda esta ideia do anjo e diabo no ombro, tal como a temos nos dias de hoje, que não faz propriamente parte da cultura portuguesa, mas que nos chegou pela cultura anglófona!