A origem e significado do Kwanzaa
De entre as celebrações que tomam lugar nesta altura do ano é provável que nenhuma delas nos seja tão desconhecida como o Kwanzaa. Em Portugal, talvez até já tenham ouvido algumas referências vagas a estas festividades em séries de televisão americanas, mas normalmente elas não são celebradas no nosso país. Por isso, seguindo o contexto de algumas celebrações desta altura do ano de que fomos falando nas semanas anteriores, hoje falamos deste festival tão pouco conhecido entre nós!
Quase todas as celebrações que tendemos a associar à época do Natal têm origens muito vagas, imprecisas, sem se saber muito bem quando e onde nasceram. Curiosamente, isso não acontece com o Kwanzaa, que nasceu em 1966 pela mão do afro-americano Maulana Karenga. E nasceu, como esse seu criador bem nos informa em obras como Kwanzaa: a Celebration of Family, Community and Culture, de uma necessidade de instituir um festival centrado na cultura afro-americana e que celebrasse as suas origens africanas. Não é, como se poderia supor, uma recriação de algum antigo costume nativamente africano, mas sim uma tentativa de celebrar um conjunto de ideias que os afro-americanos parecem incorporar em si mesmos.
Assim, o Kwanzaa é um festival centrado na cultura afro-americana que toma lugar entre os dias 26 de Dezembro e 1 de Janeiro, durante os quais existem um conjunto de tradições, de símbolos e de simbologias que Maulana Karenga criou por si mesmo, mas que procuram sintetizar uma espécie de nova celebração que, segundo ele, não pudesse ser considerada como centrada em outras culturas. Por exemplo, um dos elementos mais notáveis de toda esta celebração é uma ligação ao sempre-simbólico número sete - as sete letras do nome do festival ("kwanza" significava "os primeiros frutos" em suaíli, mas o "a" final foi adicionado para o nome ter sete caracteres), as sete velas (a preta é um símbolo do povo africano, as vermelhas o sangue derramado, e as verdes uma esperança para o futuro, lembrando alguma da simbologia da nossa bandeira), os seus sete símbolos (como visível ali na imagem), e, talvez até mais que tudo o resto, os sete grandes princípios celebrados por toda esta ideia - citando a versão original destes Nguzo Saba em suaíli com a sua tradução inglesa como dada pelo autor, "Umoja (Unity), Kujichagulia (Self-Determination), Ujima (Collective Work and Responsibility), Ujamaa (Cooperative Economics), Nia (Purpose), Kuumba (Creativity), and Imani (Faith)."
Por tudo isto se pode compreender que o Kwanzaa é um festival arreligioso norte-americano, focado no que o autor considera a cultura afro-americana, mas é interessante notar que não se trata somente disso. No livro que já referimos o autor responde a uma espécie de questões frequentes sobre o festival, deixando claro que também pode ser celebrado por outras culturas e que não é obrigatório celebrar-se como um substituto de celebrações como o Natal - em relação a este último ponto, é mesmo sugerido que existam prendas, mas que pelo menos uma delas se relacione directamente com a cultura africana, até para fomentar essa ideia de uma celebração da cultura nativa dos antecessores. E é, no seu cerne, uma ideia bastante interessante, porque mesmo no nosso país muitas pessoas de ascendência africana foram perdendo essa ligação às suas origens, e um festival como este poderia ajudar nessa importante manutenção de um nexo cultural...