"A Queda de Tróia", de Quinto de Esmirna
Muito haveria a dizer sobre esta Queda de Tróia de Quinto de Esmirna, também conhecida mais simplesmente como Posthoméricas, mas esta referência que aqui lhe faço deve-se essencialmente ao facto dela cobrir o espaço de tempo entre a Ilíada e a Odisseia, sobre o qual hoje temos relativamente pouca informação. Assim, a obra começa precisamente no ponto onde a primeira das obras de Homero termina - o funeral de Heitor - e termina onde começa a aventura de Odisseu, com os heróis gregos a voltarem a casa. Pelo caminho são abordados episódios como os de Pentesileia, Memnon, a morte de Aquiles, Eurípilo, a morte de Páris, a construção do Cavalo de Tróia, ou a conquista da famosa cidade, entre vários outros. Agora, se por um lado a forma como cada um destes episódios é retratado me parece inferior à de Homero (eu próprio referi esse problema a uma amiga dizendo-lhe que "o autor não é um Homero, nem a obra uma Ilíada"), existem momentos de uma beleza interessante, como a morte de Pentesileia, o combate contra Memnon, a descrição do escudo de Eurípilo, ou a soberba narração da queda de Tróia.
Se, então, em termos estilísticos a obra nem é assim tão notável, já em termos da própria trama merece ser lida. E porquê? Bem, nas obras da Antiguidade existem um sem número de alusões aos eventos que se terão passado entre os dois textos de Homero, mas esta obra de Quinto de Esmirna possibilita-nos um raro acesso a esses mesmos eventos, e fá-lo de uma forma muito mais directa. Não faço ideia de quais teriam sido as fontes usadas pelo autor, mas em grande parte dos casos o texto condiz com a trama referida nos fragmentos do Ciclo Épico (de que já cá falei várias vezes), e com algumas das referências feitas na Odisseia.
Infelizmente, este texto de Quinto de Esmirna também parece estar muito esquecido. Dele não existe qualquer edição em Português, e todos aqueles que confrontei com os seus conteúdos nem o conheciam, o que talvez justifique a pouquíssima importância que hoje lhe é dado...