A simbologia do Arco da Rua Augusta
Se se costuma chamar à Praça do Comércio a mais famosa de Portugal, seria justo dizer que o Arco da Rua Augusta, a muito escassos metros a pé, é obrigatoriamente o mais conhecido dos países lusófonos. Foi construído no século XIX, para celebrar a vitória da reconstrução da cidade face ao Terramoto de 1755, o seu arquitecto original foi Eugénio dos Santos, e... mais do que debitarmos aqui todo um conjunto de dados históricos e arquitectónicos, lançamos é uma pergunta - quantos de nós já olharam para ele? Olhar a sério, com os proverbiais olhos de ver? Por estranho que pareça, mesmo entre os lisboetas parecem ser muito poucas as pessoas que o fazem - de facto, fomos perguntar a várias pessoas que vivem nessa cidade e nenhuma delas o parece já ter feito. Assim, prestemos alguma atenção à simbologia do local:
O Arco da Rua Augusta, também conhecido como Arco do Terreiro do Paço (um nome alternativo dado a todo este local), tem em si um total de 10 figuras. Nos dois lados - número 1 e 6 na imagem - estão representados os rios Tejo e Douro, como os limites tradicionais da Lusitânia; o Douro, do lado direito, pode ser reconhecido em virtude de um cacho de uvas que tem na sua mão. Quatro outras figuras são famosos heróis nacionais - Viriato (n. 2, como fundador), Vasco da Gama (n. 3, como expansor), o Marquês de Pombal (n. 4, como reconstrutor) e o Condestável, Nuno Álvares Pereira (n. 5, como defensor). No topo está a Glória personificada (n. 8) a coroar o Génio (n. 7) e o Valor (n. 8), que podem ser identificados pela coroa, lira e o leão. Ao centro, n. 10, está o brasão de Portugal, com os característicos sete castelos, cinco escudos e "30 moedas pelas quais Judas vendeu Cristo" (um outro tema fascinante, mas que terá de ficar para outro dia). O texto em Latim, que separa o brasão das figuras superiores, diz-nos então as seguintes palavras:
VIRTUTIBUS MAIORUM
UT. SIT. OMNIBUS. DOCUMENTO. P.P.D.
Que significa algo como "Que as virtudes dos maiores [dos Portugueses] sirvam de lição a todos", seguido pela abreviatura latina Pecunia Publica Dicatum, i.e. "dedicado com dinheiro público". Sinais dos tempos - hoje celebram-se os inauguradores com placas comemorativas, em outros tempos celebravam-se os heróis da pátria e que algo era construído com o dinheiro que é de todos nós...
Em suma, este é um monumento que celebra a resiliência de Portugal e a portugalidade, mas... na verdade, também não tem muito para se ver. É algo que, como o Panteão Nacional, se vê uma vez (se tanto...), e está visto. Se até existe um relógio na sua traseira e o famoso Miradouro do Arco da Rua Augusta no seu topo, que pode ser visitado pelo singelo preço de 3 euros (para quem nunca tiver ido ao local pode fazê-lo virtualmente aqui), o Arco da Rua Augusta não é algo de muito especial para o visitante, com excepção da simbologia nacional que aqui apresentámos hoje, e à qual já muitos poucos parecem prestar atenção.