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Mitologia em Português

20 de Abril, 2022

Agustina Ruiz, a mulher que fazia amor com os santos

A história de Agustina Ruiz, que viveu em inícios do século XVII no México, é intrigante, quanto mais não seja pelos eventos que lhe trouxeram fama. Poderia ter sido uma mãe solteira como tantas outras e talvez jamais ouvissemos falar dela, não fosse o facto de um dia se ter ido confessar ao padre da sua paróquia e o tempo guardado para essa confissão ter terminado. Agustina disse que voltaria outro dia para a terminar, ela e o padre desencontraram-se, este segundo pensou que ela já não regressaria e então, dada a estranheza do que lhe tinha sido contado, ele relatou a respectiva história a membros da Inquisição. Estes chamaram a jovem ao seu tribunal, foram-lhe colocando diversas questões, e depois... aperceberam-se de um enorme problema, que era o facto de supostamente ela andar a ter relações sexuais com os santos católicos, com a Virgem Maria e até com o próprio Jesus Cristo.

Talvez a Virgem Maria de Agustina Ruiz?

Poderia pensar-se, hoje, que ela estava louca, mas mais estranho é mesmo o facto de ela ter revelado à Inquisição muito mais do que eles perguntavam, ao ponto de quem a interrogava parecer não saber muito bem como reagir a toda a situação. Assim, pouco a pouco, foi-se possível descobrir mais sobre este estranho caso de Agustina Ruiz, que tentaremos resumir abaixo, mas que devemos frisar que não é próprio para os mais novos - considerem-se avisados!

 

Quando tinha cerca de 12 ou 13 anos Agustina Ruiz foi viver para outra cidade, acompanhada por um homem mais velho, um tal Diego Sanchez Solano, de quem veio rapidamente a engravidar. Mais tarde ele veio a falecer num fogo, deixando a jovem grávida quase sozinha no mundo. Tristíssima com a ocorrência, pouco depois de tomar conhecimento desse facto foi a casa de um vizinho e viu que ele tinha uma pintura de São Nicolau de Tolentino em sua posse. Talvez pelo seu sofrimento, talvez por se sentir muito só no mundo, viu nesse santo o mais belo de todos os homens que alguma vez tinha contemplado. Como que se apaixonou. Depois, nessa noite, decidiu "tocar-se" a pensar na imagem que tinha visto, e... o santo, o mesmo que tinha visto na imagem, apareceu no seu quarto, falou-lhe e fez amor com ela. Poderá parecer estranho, mas não foi caso único - à medida que o tempo foi passando ela foi também visitada por outros santos, pela própria Virgem Maria e até por Jesus Cristo, figuras que foram trocando com ela actos e palavras de amor, muitas vezes até tão explicitamente sexuais que fariam corar produtores de filmes pornográficos dos nossos próprios dias. Numa dada altura o Messias até lhe diz, e cite-se a título de exemplo, que fazia amor com ela porque "És a minha alma, a minha vida, aquela que amo acima de todas as outras, e além disso tens uma **** saborosa e gostosa só para mim" [a censura é nossa].

 

Mas o mais curioso de todo este caso de Agustina Ruiz é que não se consegue compreender, pelas suas próprias palavras, onde termina a realidade e começa a imaginação. Será que estas figuras religiosas verdadeiramente lhe andavam a aparecer - como aos nossos Pastorinhos, a Bernadette Soubirous ou a Juan Diego, entre tantas outras figuras - no que poderia ser um dos mais estranhos milagres de que há memória, ou estaria ela somente a imaginar tudo, movida pela dor, abandono e solidão que sentia? Não é de todo claro, mas não deixa de ser profundamente irónico que a Inquisição a tenha condenado a passar alguns anos num mosteiro, onde, mais do que esquecer todas estas imagens religiosas, passou a ter de as confrontar continuamente e a cada novo dia.

 

Não sabemos o que aconteceu a Agustina Ruiz após essa condenação pela Inquisição do México. Depreende-se, dadas as circunstâncias, que tenha passado pelo menos os anos da sua pena num mosteiro, mas depois parece desaparecer de qualquer registo. Não sabemos se as figuras do Cristianismo, que tantas vezes amou (aqui em mais que um sentido!), deixaram de lhe aparecer, de lhe possuir o corpo e alma, mas... dada a estranheza de toda a história, bem como a triste solidão da jovem, preferimos acreditar num amor divino que, preso entre alma e corpo, a contentou todos os dias para o resto da sua vida!

 

 

P.S.- Um enorme agradecimento ao Professor Zeb Tortorici, cuja apresentação desta história num artigo nos levou a investigar mais sobre ela!

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