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Mitologia em Português

29 de Julho, 2024

"Antirrhetikos", de Evágrio Pôntico

Evágrio do Ponto, também conhecido por Evágrio Pôntico, é um daqueles autores de finais da Antiguidade que raramente se lê. Talvez um ou outro estudante de Teologia o faça, mas entre as suas criações conta-se um texto de título Antirrhetikos, que é como quem diz "Argumentos Contra"... e contra o quê, poderia perguntar? É precisamente essa ideia, mais do que o próprio conteúdo da obra, que a torna digna de ser mencionada por cá.

Antirrhetikos, de Evágrio Pôntico

Evágrio Pôntico, como muitos outros Cristãos da sua época, era um monge, vivendo, pelo menos em teoria, em completa solidão. Esse afastamento da humanidade levou-o, como é comum em casos como esses, a sentir o ataque dos demónios... frise-se que, pelo menos neste contexto, eles não eram "monstros" reais, físicos, como os famosamente encontrados por Santo Antão, mas metáforas para as tentações que iam sendo encontradas pelos monges na sua solidão religiosa.

Face ao problema, este Evágrio Pôntico decidiu então categorizar esses seus opositores em oito grupos - a Gula, a Fornicação, o Amor pelo Dinheiro, a Tristeza, a Raiva, a Apatia, a Vanglória e o Orgulho [Desmesurado] - que posteriormente levaram aos chamados "Sete Pecados Mortais". Porém, não se limitou a categorizá-los assim, mas também em encontrar as suas múltiplas facetas e a forma de como as combater, utilizando os próprios textos bíblicos contra esses inimigos. Vejamos três breves exemplos:

Contra a alma que pensa que a humildade perfeita não é possível à natureza humana:
E era o homem Moisés muito manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. (Núm 12:3)

Contra a alma que não está convencida que até Satanás imita o Anjo da Verdade e se torna um professor de falso conhecimento:
E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras. (2 Cor 11:14-15)

Contra os pensamentos que levam o intelecto a blasfemar contra Deus:
Porventura, por Deus falareis perversidade e por ele enunciareis mentiras? (Jó 13:7)

É essencialmente assim que funciona esta obra, Antirrhetikos - o seu autor menciona, de uma forma breve, um determinado problema "filosófico" que tendia a afectar os monges na sua solidão, e depois providenciava uma frase, ou uma sequência bíblica mais alongada, com ela relacionada, destinada a combater esse inimigo psicológico. O que talvez não seja tão interessante como a ideia acima podia sugerir - hoje, em circunstâncias como essas, pensa-se mais em exorcismos como o de Anneliese Michel - mas nos preserva um momento da história da Igreja em que a Bíblia, e apenas os seus textos, se viam como a cura para todos os problemas.

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