António Tânger Corrêa e algumas estranhas histórias
Há alguns dias fomos alertados para algumas estranhas histórias que António Tânger Corrêa, um candidato às Eleições Europeias, andava a contar em praça pública. Se não conseguimos confirmar a totalidade do que nos foi relatado - que ele até teria falado de extraterrestres e outras coisas que tais - em pelo menos uma entrevista, e um livro (que ainda não lemos), ele fala de uma "Nova Ordem Mundial", da "Grande Substituição", de uma "dramatização da pandemia", de "controlar a população", entre outras do mesmo género. Tudo isso pode ser visto e ouvido carregando na imagem abaixo, mas a questão que nos importa, hoje, é de onde nasceram todas essas ideias.
Por estranho que possa parecer aos Portugueses, todas estas estranhas ideias não vieram apenas da cabeça de António Tânger Corrêa. E na verdade, num contexto de globalização da cultura americana não pudemos senão sorrir um pouco com tudo isto, porque não é muito habitual no nosso país ouvirem-se falar de mitos, lendas e conspirações de outros países de uma forma tão aberta e pública. Todas essas são ideias americanas, que têm uma enorme plêiade de temas associados e que vão desde os Protocolos dos Sábios de Sião até à falsidade de uma possível ida à Lua. Infelizmente, abordar todos eles numa só publicação seria difícil, mas decidimos que podemos apresentar alguns deles de uma forma muito breve.
A ideia da existência de uma Nova Ordem Mundial já existe pelo menos desde o século XVIII, muitas vezes em associação com a Maçonaria. No seu cerne, toda a ideia diz que existe "alguém", cuja identidade nunca é muito clara e vai variando, que tem um plano malévolo para controlar toda a humanidade. Pode ser o Anticristo, pode ser o condenado Donald Trump ou o "Sleepy" Joe Biden, pode ser a família Rothschild, podem ser extraterrestres ou Judeus, etc., mas o elemento sempre comum é que essa tentativa de controlo é feita através de alguma grande instituição internacional, como a Organização Mundial de Saúde, a Organização das Nações Unidas, a Cruz Vermelha, etc. Será mentira? Será verdade? Como António Tânger Corrêa, também nós preferimos ter alguma dificuldade em reconhecer quais os limites da verdade e da ficção em toda esta ideia. Mas já lá voltaremos!
Outra alegação que ele faz é a da "dramatização de uma pandemia", com a intenção de "controlar a população". Essa segunda expressão não é muito clara, mas refere-se não tanto a controlar as pessoas - em estilo lavagem cerebral... - mas a reduzir o seu número, dado os valores cada vez mais crescentes da população mundial. Também não sabemos até que ponto isso poderá, ou não, ser verdade, mas quando se pensa em mitos como o da criação do Covid, depressa se abre a ideia de que alguém poderá desenvolver armas químicas com a intenção de reduzir o número de pessoas que estão vivas hoje em dia. E isto soará estranho, sem dúvida, mas há que frisar que nos EUA já aconteceu mesmo, durante os anos de 1932 e 1972, no chamado "Estudo da sífilis não tratada de Tuskegee" (que não é qualquer teoria da conspiração, mas algo completamente factual), em que a população negra foi usada como cobaia para o estudo de uma doença, como apenas se veio a comprovar mais tarde.
Portanto, de uma forma muito geral... será que as coisas que António Tânger Corrêa disse são verdade, ou a mais pura mentira? Mais do que responder a isso, parece-nos importante é frisar que são ideias muito comuns nos EUA e se tratam de conhecidas teorias da conspiração desse país. Isso não implica que sejam verdade ou mentira, existem opiniões fortes de ambos os lados, mas sim que as populações locais estão familiarizadas com essas histórias e têm quase sempre alguma opinião sobre elas. Discutem-nas como entre nós se discute, por exemplo, se foi mesmo pénalti num determinado jogo de futebol, e alguns descartam-nas de forma semelhante (e.g. "tu és Benfiquista, claro que achas que foi pénalti", "Tu és de Esquerda, claro que acreditas em Y").
Em suma, claro que soa estranho ouvir falar de coisas como estas em campanhas eleitorais em Portugal, mas as ideias veiculadas por António Tânger Corrêa nada têm de muito estranho, nem foi ele que primeiro as imaginou. Nasceram de uma americanização crescente da cultura portuguesa, como já vem acontecendo há décadas, em que se conta só parte da uma história mais longa como se fosse algo completamente real e bem assente na ciência e em factos comprovados. Estranho seria é se algum partido, daqueles que apoia a fantasia da "identidade de género", viesse falar de John Money...