As Guerras do Alecrim e da Manjerona
Talvez estejam quase esquecidas nos dias de hoje, mas pelo menos o muito curioso título destas Guerras do Alecrim e da Manjerona, da autoria de António José da Silva no século XVIII, mantém-se famoso nestes nossos dias de hoje. O que nos deve levar, necessariamente, a uma boa pergunta - se o seu título ainda nos é bastante conhecido, afinal, qual é o verdadeiro tema que se esconde por detrás de um nome tão críptico como este hoje parece ser?
Essencialmente, as Guerras do Alecrim e da Manjerona são uma peça de teatro, de conteúdo jocoso e com alguns versos ocasionais, em que dois homens, aparentemente amigos na vida mas rivais nos sempre eternos conflitos de paixões e do amor, se apaixonam por duas mulheres. Os dois amantes passam por diversas desventuras para as conseguirem namorar, até porque elas já estavam prometidas em casamento, na sequência da qual a peça de teatro lá acaba por terminar em ambiente de festa, com a quase-realização de três casamentos. Pelo caminho vão surgindo algumas menções ocasionais a coisas agora menos famosas, mas que outrora eram bem conhecidas entre o povo. A título de exemplo, e também no contexto dos mitos e lendas do nosso país, aponte-se a seguinte troca de palavras, que hoje pode ser difícil de compreender:
D. Lancerote - [Quem lhe bateu] Era um fantasma?
Sevadilha - O que é um fantasma?
D. Lancerote - É uma coisa branca, que põe os olhos em alvo.
Esta é então uma jocosa peça de teatro, como muitas outras que foram compostas em português ao longo dos séculos, mas qual é mesmo a origem do seu agora-famoso nome? Quais são essas tais guerras do alecrim e da manjerona aqui mencionadas? Nesse ponto, o título parece referir-se à associação das duas mulheres principais a dois grupos diferentes, sob o signo do alecrim e da manjerona (i.e. duas plantas); foi-nos explicado que eles eram dois grupos como os que ainda hoje muito vemos nos Santos Populares, e daí a existência de uma espécie de rivalidade entre as duas plantas, que serviu de base ao título e que é repetidamente mencionada ao longo da trama, até porque - como pode ser visto na imagem acima - a primeira representação de toda esta peça teve lugar na altura do Carnaval de 1737.
Talvez, mais que tudo, o título de estas Guerras do Alecrim e da Manjerona seja um bom exemplo de como o nome de uma obra, por si só, pode contribuir para a sua popularidade ao longo do tempo. Fosse outro o título de toda esta peça de teatro e ela estaria hoje esquecida, como tantas outras peças nacionais que foram sendo produzidas ao longo dos séculos e de que hoje já ninguém se lembra...